Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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SAÚDE COMO DIREITO HUMANO DA POPULAÇÃO LGBTQIA+
Mariana Serpa Peixoto Menezes, Júlia Guimarães Lima

Última alteração: 2022-01-10

Resumo


Introdução: As conquistas alcançadas pelo grupo LGBTQIA + à custa de muita luta, perpassa por diversas esferas. No contexto da saúde brasileira, um marco dessas conquistas foi o desenvolvimento da política nacional LGBT, em 2008, que visa fortalecer os princípios de equidade, igualdade e integralidade do SUS na atenção às minorias. Contudo, apesar do empenho constante contra o preconceito e também dos avanços já alcançados, ainda é possível identificar discrepâncias entre os usuários que seguem o padrão de heteronormatividade e os usuários que fazem parte da comunidade LGBTQIA+. Objetivo: Conhecer o atendimento à saúde das pessoas do grupo LGBTQIA+ pelos profissionais da saúde, tanto pela perspectiva do paciente quanto do profissional. Métodos: Recorte de estudo qualitativo mais amplo, com objetivo exploratório de caráter analítico. Foram parte deste estudo profissionais da saúde e pacientes do grupo LGBTQIA+ do Brasil, que apresentem idade igual ou superior a 18 anos. O instrumento utilizado para avaliação foram fichas de coleta de dados elaboradas especificamente para os grupos alvo da pesquisa. Resultados: O perfil dos profissionais que participaram foi marcado por mulheres, médicos e heterossexuais com idade entre 30 e 40 anos, voltados majoritariamente para o setor público. A avaliação do atendimento do local de trabalho numa escala de 0 a 10 foi de 6,08, enquanto o atendimento pessoal teve média de 7,98. Dos 52 profissionais, apenas 26% questionaram os pacientes sobre sua orientação sexual e gênero e 48% questionaram se os pacientes eram transgeneros ou travestis. Dificuldades foram relatadas em menos de 50% dos casos e pontuaram principalmente comunicação e desconhecimento dos locais de referência para encaminhamento. Cerca de 90% dos entrevistados negam alguma capacitação especializada anterior.

Os formulários voltados para a população LGBTQIA+ foram respondidos por 52 pacientes de todo o país, com média de idade de 24,3 anos. Dos problemas abordados, os mais comuns foram: a heteronormatividade e a cisnormatividade (90,4%) e a falta de orientação sobre a prática sexual segura (78,8%). No que tange os pacientes travestis e transgêneros, apenas 40% informaram ter o nome social respeitado durante consultas. A respeito das dificuldades dos pacientes, foram relatadas a proibição da doação de sangue por esses usuários, a presunção da heteronormatividade, julgamentos, falta de orientação sobre sexo seguro que não seja vulvar-peniano. Sobre os pontos a serem melhorados, foram apontados o acolhimento, a integralidade do atendimento e a maior capacitação dos profissionais sobre as necessidades do público LGBTQIA+. Conclusão: A precariedade da saúde brasileira voltada ao atendimento do público LGBTQIA + é percebida pelos usuários e também pelos profissionais de saúde. Parte dela advém, também, da falta de capacitação desses profissionais, o que reflete na qualidade das consultas. Esse fato é corroborado pelas respostas dos pacientes, que avaliaram o atendimento como mediano, em ambos os setores. Logo, é possível perceber que ainda há muito a ser melhorado na atenção voltada ao público LGBTQIA+, principalmente no que diz respeito à heterossexualidade compulsória, que limita a consulta e prejudica no estabelecimento do vínculo do profissional de saúde com o paciente.