Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Compreensões sobre desigualdade de gênero na formação médica por graduandos de medicina
Cristiana Han Huei Lin

Última alteração: 2021-12-20

Resumo


O artigo propõe entender como estudantes de medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo percebem as desigualdades de gênero na formação e na prática profissional e como a formação auxilia em desconstruir ou perpetuar tal desigualdade. O curso segue Diretrizes Curriculares definidas pelo MEC, cuja linguagem se trata de padrões sociais conservadores, com pouco diálogo à luz de gênero. Trata-se de uma pesquisa de abordagem quantitativa, baseada em respostas obtidas via Google Forms. O questionário se estruturou a partir do perfil socioeconômico, compreensão sobre gênero, formação e futura prática profissional. A análise do objeto de estudo, a percepção dos estudantes de medicina sobre desigualdade de gênero, pautou-se no Conceito de Gênero (Scott, 1989) e na Lei Maria da Penha (Brasil, 2006), como base legal da função da saúde em prevenir e enfrentar a violência contra mulheres. Foram analisados 47 questionários, sendo 28 de estudantes do 1º ano, 8 do 2º, 8 do 5º e 3 do 6º da FCMSCSP. Os participantes deste estudo foram, em sua maioria, mulheres, brancas, dos 20 aos 22 anos, de renda familiar média superior a 10 salários mínimos. Sobre o gênero na formação, para 49%, o tema foi abordado na graduação; ainda, 48% presenciaram algum tipo de desigualdade, como em aulas ou em órgãos acadêmicos. Ademais, 20% já sofreram e 38% já vivenciaram algum tipo de desigualdade de gênero na graduação, e 42,6% afirmam ter reproduzido, sem intenção, alguma violência de gênero. Em relação à vida médica, 65% dos alunos acreditam que o gênero vai influir na profissão, 60% pensam que terão que se esforçar mais para seu trabalho ser valorizado, e 25,5% afirmam que funções impostas pela sociedade podem intervir no futuro. Na análise qualitativa, os alunos relataram a desigualdade de gênero existente na família e na faculdade, a diferença de tratamento, e alguns relatos apontam que os alunos sentem seus discursos subestimados pelo poder hierárquico dos professores. Além disso, percebe-se o temor em receber represálias na faculdade e na profissão médica. Consideramos que é necessário debater a carreira médica sob a perspectiva de gênero de maneira a ampliar compreensões acerca do impacto de gênero na vida pessoal das profissionais, como em toda sociedade, já que a medicina é uma profissão com destaque social e tem poder em modificar costumes e valores.Também, apontamos a necessidade da inclusão da discussão de  gênero no espaço de formação universitária, e a inclusão de disciplinas temáticas nos currículos da medicina e das diferentes áreas da saúde, como estratégia de enfrentamento e combate à desigualdade.