Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Determinantes Sociais da Saúde e sua associação com a capacidade funcional de idosos assistidos por uma Unidade de Saúde da Família de Vitória-ES
Fabiana dos Santos Paixão, Victória Cardoso de Alcântara, Jamilly de Cássia Boldrini Valiate, Maria Carolina Pereira, Gracielle Pampolim, Luciana Carrupt Machado Sogame

Última alteração: 2022-01-12

Resumo


Apresentação: Em função da transição demográfica e o crescente exponencial da população idosa, os Determinantes Sociais da Saúde (DSS) ganharam magnitude, pois o envelhecimento traz consigo um contexto de má saúde e desigualdades, implicando numa série de fatores sociais, culturais e epidemiológicos, contribuindo para um estado de declínio funcional e incapacidades. Logo, é necessário conhecer os DSS, que podem ser estudados por meio do modelo de Dahlgren e Whitehead que considera uma sequência de camadas hierárquicas concêntricas que demonstram a relação entre as desigualdades, iniquidades sociais e os impactos na saúde dessa população, incluindo distribuição de poder, renda, condições de vida das pessoas, acesso a saúde e educação. Diante disso, o objetivo do presente trabalho é verificar os DSS e sua associação com a capacidade funcional de idosos assistidos por uma Unidade de Saúde da Família de Vitória - ES.

Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de uma análise secundária do banco de dados de um estudo observacional transversal, de abordagem quantitativa com 241 idosos vinculados à Unidade de Saúde da Família (USF) de Vitória - ES, por seleção aleatória. Neste estudo, organizou-se os DSS em três camadas: a proximal contendo as características individuais, a intermediária englobando as características comportamentais e a distal com as características sociais. Considerou-se como características individuais as variáveis: idade, sexo e etnia; características comportamentais: hábito tabágico, hábito etilista, atividade física, atividade de lazer, companheiro e auto avaliação de saúde; e características sociais: morar sozinho, escolaridade, atividade na USF, quantidade de moradores e residência multigeracional. A capacidade funcional foi avaliada através do WHODAS 2.0 que fornece o nível de funcionalidade em seis domínios, dentre eles a cognição, mobilidade, auto-cuidado, relações interpessoais, atividades de vida e participação. Para sua classificação, consideraram-se como capacidade funcional normal pontuações entre 1-1,9 normal e alterada entre 2 e 5. Os dados foram analisados de forma descritiva e inferencial. A análise descritiva foi desenvolvida por meio dos dados do perfil sociodemográfico e de saúde e da capacidade funcional dos idosos, reportadas através de tabelas de frequências absolutas e relativas. A análise inferencial com associação entre a variável dependente (capacidade funcional) e as variáveis independentes (correspondentes aos DSS), por meio do teste Qui-quadrado de Pearson e seus resíduos. Em todas as análises, foi adotado o nível de significância de p < 0,05, com Intervalo de Confiança de 95% (IC95%). Em relação as questões éticas, este trabalho cumpriu todas as normas da resolução 466/12 e foi aprovado pelo CEP da EMESCAM sob o número 2.142.377.

Resultados: Com relação às características individuais dos idosos, correspondente a primeira camada dos DSS, a maior parte consistiu em indivíduos predominantemente do sexo feminino (60%), entre 60 a 79 anos (87%), autodeclarados pardos, negros, indígenas ou amarelos (78%). Além disso os resultados demonstram que a capacidade funcional foi normal em 77% dos idosos. Quando observada a primeira camada dos DSS, composta pelas características individuais, foi encontrada associação significativa da idade com a capacidade funcional (p=0,001). A saúde pode ser determinada por diferentes aspectos, como retrata os DSS. Dentre eles a idade se faz de grande importância por constituir uma categoria básica e possuir estreita relação com o processo de envelhecimento, que pode propiciar ou agravar o aparecimento de doenças.  Realizado, posteriormente, o cálculo do resíduo do Chi-quadrado, foi encontrado que idosos entre 60 e 79 anos associaram-se a capacidade funcional normal enquanto os longevos (≥80 anos) apresentaram associação com a capacidade funcional alterada. Quanto às características comportamentais dos idosos, representando a segunda camada dos DSS, a população se mostrou predominantemente de idosos que não possuem hábito tabágico (87%) e nem hábito etilista (78%), não praticam atividade física (67%), possuem atividades de lazer (61%), tem companheiro (51%) e autoavaliaram sua saúde positivamente (55%). Quando verificada a associação destas variáveis com a Capacidade Funcional foi percebido que a auto avaliação de saúde e atividade física se demonstraram estatisticamente significantes (p=0,001). Onde percebeu-se que a prática de atividade física se associou a uma funcionalidade normal e não praticar atividade física está associada a uma capacidade funcional alterada. Quanto à auto avaliação de saúde, os que avaliaram positivamente sua saúde associou-se à funcionalidade normal, em contrapartida, os que avaliaram sua saúde negativamente associou-se à funcionalidade alterada. É de conhecimento dos profissionais e estudiosos da saúde que hábitos de vida ruins podem contribuir para o adoecimento da população, uma vez que desencadeiam e/ou agravam condições de saúde pré-existentes. Por outro lado, a manutenção de bons hábitos comportamentais, tais como a prática de atividade física e atividades de lazer atuam como fator protetor para diversas doenças e incapacidades com o estímulo das funções motoras, sistêmicas e mentais, melhorando a saúde física e psíquica do idoso. Por fim, em relação às características sociais dos idosos, equivalente a terceira camada dos DSS, em sua maioria não moram sozinhos (73%), morando com 1 a 2 moradores (55%), em residência multigeracional (55%), possuem entre 0 a 4 anos de estudo (59%) e não praticam atividades na USF (78%).  Foi percebida associação significativa nas variáveis escolaridade (p=0,016) e atividade na USF (p=0,008) com a capacidade funcional. Percebeu-se que indivíduos com 0 a 4 anos de estudos, apresentaram a funcionalidade alterada enquanto os que tiveram de 5 a 11 anos de estudos, apresentaram funcionalidade normal. Já em relação à atividade na USF, foi encontrado que os indivíduos que praticam alguma atividade apresentam funcionalidade normal e os que não praticam possuem uma funcionalidade alterada. A associação da funcionalidade com as características sociais como a escolaridade e atividades desenvolvidas na USF, que compõem a camada distal dos DSS, demonstram o impacto da participação social na saúde do idoso, fazendo valer o conceito multifatorial do envelhecimento e apontando que a rede de suporte contribui para uma melhor qualidade de vida na velhice.

Considerações finais: O processo de envelhecimento é influenciado por fatores sociais, culturais e epidemiológicos. No presente estudo, existiu associação significativa nos três níveis das camadas dos DSS com a capacidade funcional. A idade se destacou na camada primária por sua associação com a funcionalidade, reforçando a importância desta como fator determinante da saúde de uma população. A atividade física e autoavaliação de saúde, que caracterizam o nível intermediário, também se demonstraram importantes, o que reforça que hábitos bons ou ruins influenciam numa possível alteração no desfecho do envelhecimento. Hábitos mais saudáveis e prática de atividades físicas regulares podem garantir um envelhecimento mais digno e sem comorbidades. Por fim, a escolaridade e atividade na USF, que compõem o nível distal dos DSS, também se associaram com a Capacidade Funcional. Este fato corrobora para o argumento da necessidade de estreitar relações de confiança dos idosos na USF, fortalecendo sua participação na comunidade. Diante do exposto é de suma importância a implementação de políticas públicas voltadas para essa população, capazes de promover a manutenção da funcionalidade e minimizar os impactos do envelhecimento.