Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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ÁRVORES DE QUINTAL AGROFLORESTAL E A SINDEMIA COVÍDICA NA HINTERLÂNDIA AMAZÔNICA
Maria Isabel de Araújo, Silas Garcia Aquino de Sousa

Última alteração: 2021-12-28

Resumo


Desde a antiguidade, o conhecimento sobre produtos naturais, incluindo ervas, especiarias no enriquecimento da alimentação funcional, produtos nutracêuticos, plantas medicinais, fazem parte da tradição popular as formas de manejo, uso e consumo de plantas medicinais, frutas..., disponíveis nos quintais agroflorestais. São plantas usadas no tratamento terapêutico (alternativo), essencial para estimular hábitos de vida mais saudáveis, na dieta alimentar, ou em tratamentos sintomático, profiláticos na cura de enfermidades, no alívio de sintomas diante da ausência do sistema de saúde pública as populações da hinterlândia amazônica. São conhecimentos transmitidos oralmente por gerações de conhecedores dos saberes e práticas relacionadas à colheita do material farmacógeno, de espécies de acordo com as necessidades terapêuticas. Durante o período da sindemia covídica (2020-2021), para fortalecer o sistema imunológico e prevenir outras patologias, os consumidores de produtos orgânicos da cidade de Manaus/AM, demandaram uma intensa procura de plantas (ervas, especiarias, medicinais...), em busca do uso de vegetais e farmacógenos da medicina tradicional ou natural, cuja composição em seus constituintes são atribuídos ações anti-inflamatória, antioxidante, antitússica... e que foram utilizadas na tentativa de prevenir as doenças respiratórias, e evitar a síndrome respiratória aguda SARS (Severe Acute Respiratory Syndrome) causada pelo SARS-CoV-2/Covid-19. Manaus, capital do estado Amazonas, foi palco de altas taxas de incidência e mortalidade pela COVID-19 no ano de 2020-2021, as medidas de contingência não farmacológicas (controle sanitário) (uso de máscaras, uso de álcool gel, sabão para higiene dasmãos), imposição de quarentena, decretos de isolamento social, restrição ao funcionamento de estabelecimentos, não impediram o colapso no sistema funerário, trazendo sofrimento a população durante a primeira e segunda onda da pandemia covídica. Objetiva o presente elencar as espécies vegetais comercializadas nas feiras ou via delivery, pelos produtores orgânicos a população manauara no 3º trimestre de 2020. A metodologia científica utilizada para a produção deste trabalho esta associada à coleta de dados no campo da etnografia virtual ou método netnográfico através das informações de aplicativos online de venda delivery, com acompanhamento mensal on-line das demandas de ofertas dos produtos considerados fitoterápicos, durante os meses de julho a setembro de 2020 (período de 02/07/2020 a 30/09/2020), considerando que não nos atemos a avaliação nutricional, farmacológica, fitoquímica ou toxicológica das espécies cultivadas nos quintais agroflorestais, ofertadas aos consumidores, apenas e tão somente a identificação das espécies. Os resultados preliminares revelaram que diante do crítico cenário imposto pela sindemia covídica, a população manauara foi em busca de estratégias terapêuticas, profiláticas, segundo os costumes como forma de prevenir doenças, como a Covid-19. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) as plantas medicinais são definidas todo e qualquer vegetal que possui, em um ou mais órgãos, substâncias que podem ser utilizadas com fins terapêuticos ou que sejam precursores de fármacos semissintéticos. As plantas medicinais e seus produtos em sua maior parte são provenientes do extrativismo da região amazônica, cujo conhecimento passado de geração a geração sobre as propriedades terapêuticas das plantas medicinais são articulados como sistemas culturais, cujas práticas (consumo, uso, modo de preparo e posologia) ainda hoje são utilizadas. Identificou-se 13 espécies comercializadas, elencadas por família, nome etnopopular e científico. Destaque para família Fabaceae com 8 espécies, 3 da família Apocynacea e Lauraceae, 2 das famílias Euphorbiaceae as demais famílias com uma espécie da família Anacardiaceae, Bignoniaceae, Burseráceas, Humiriaceae, Lecythidaceae, Meliaceae, Moringaceae, Olacaceae, Rubiaceae, Sapotaceae. Destaque para plantas medicinais componentes de produtos florestas não madeireiros com ênfase: (1) Anacardiaceae: taperebá (casca) (Spondias mom bin); - (3) Apocináceas: amapá (leite) (Parahancornia amapa), carapanaúba (casca, folhas) (Aspidosperma sp.), sucuúba (casca) (Himatanthus drasticus); - (1) Bignoniaceae: ipê-roxo/pau-d’arco (casca, folhas) (Handroanthus impetiginosus); - (1) Burseracea: breu (casca, folhas, resina)  (Protium fimbriatum sp); - (2) Euphorbiaceae: sangue-de-dragão (leite) (Croton lechleri), açacu (casca) (Hura crepitans); - (8) Fabaceae: copaíba (óleo) (Copaifera langsdorffii), cumaru (casca, sementes) (Dipteryx odorata), jatobá (casca e resina) (Hymenaea parvifolia), jucá (casca, frutos) (Caesalpinia férrea), mulungu (casca, folhas) (Erythrina mulungu), olho-de-boi (casca)  (Mucuna urens), sucupira (sementes) (Pterodon sp), tamarindo (casca, folhas, frutos)  (Tamarindus indica); - (3) Lauraceae: canela (folhas) (Cinnamomum verum), preciosa (casca)  (Aniba canelilla), puxuri (casca, folhas, semente) (Licaria puchury-major); - (1) Humiriaceae: uxi (Endopleura uchi); - (1) Lecythidaceae: castanha-da-amazônia (casca) (Bertholletia excelsa), - (1) Meliaceae: andiroba (óleo) (Carapa guianensis), - (1) Moringaceae: moringa (folha e sementes) (Moringa oleifera),.- (1) Olacaceae: (casca) marapuana (casca) (Ptychopetalum sp), - (1) Rubiaceae: jenipapo (casca, frutos) (Genipa americana), - (1) Sapotaceae: maçaranduba (casca) (Manilkara huberi)... Dentre as diversas formas de uso, as principais preparações são: a) Cataplasma - a preparação é feita de preferência com farinha e o chá da planta; b) Chás - infusão ou escaldado, preparados com água fervente com pedaços da planta; - decocção, cozimento ou banho - após levantar fervura, abaixar o fogo e colocar a(s) partes da planta(s), este método é indicado para partes duras como cascas, raízes e sementes; - maceração, amassada ou picada a parte da planta em água fria, durante 12 a 24 horas, dependendo da parte utilizada, côa-se após o determinado, muito utilizado para banho; c) Inalação: combina água fervente (vapor d’água) com  partes da planta, como das folhas do breu, ou colocar a resina em cima de brasas do fogareiro. d) Lambedor ou xarope o preparo é feito com açúcar ou mel de abelha e o chá de partes da planta; Pós - após secagem de partes da planta; e) Tintura - partes da planta são maceradas, misturado em quantidade proporcional com álcool e água. f) Garrafada ou vinho - partes da planta são adicionadas ao vinho tinto no qual se deixa em maceração durante 8 dias em local escuro; g) Pomada: Preparada com tintura ou chá misturado com: ou banha de animal, ou óleo de cozinha, ou gordura de coco ou vaselina líquida; h) Sumo - é a trituração da planta fresca em pilão ou liquidificador. Vale salientar a importância do conhecimento prévio sobre os riscos e benefícios quanto ao uso de espécies ou plantas medicinais, considerando que o uso como chás, extratos, cremes, tinturas tônicos, garrafadas, lambedor, xaropes..., essas espécies constituem fator de risco a saúde, visto que, na feitura destes, ocorrem muitas vezes de maneira inapropriada, assim, na maioria dos casos pouca ou nenhuma evidência científica é comprovada, inclusive, a eficácia contra o SARs-COV-2. Conclui-se desse modo que a população manauara recorre às medicinais tradicionais como dimensão simbólica “se é natural, não faz mal” sugerida por analogia, muitas vezes recomendada por parentes, amigos, vizinhos... com apoio da mídia digital em sites e aplicativos móveis, mídia impressa, falada..., é o risco da automedicação. Para que realmente estas práticas sejam benéficas à saúde humana, cabe as autoridades políticas e dos profissionais de saúde a grande responsabilidade de orientar a população com o apoio da mídia falada e escrita quanto à utilização segura e racional dos fitoterápicos e ou plantas medicinais. Ao mesmo tempo em que sejam investigados os constituintes ativos e o potencial fitoterápico das espécies de plantas medicinais na prevenção e/ou tratamento de doenças respiratórias na hinterlândia amazônica