Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
ASSOCIAÇÃO DAS CONDIÇÕES SOCIODEMOGRÁFICAS, ARRANJO FAMILIAR, CONDIÇÕES DE SAÚDE E HÁBITOS DE VIDA DE IDOSOS DE UMA COMUNIDADE DE VITORIA-ES COM A PRESENÇA DE CUIDADORES
Maria Carolina Pereira e Silva, Gracielle Pampolim, Luciana Carrupt Machado Sogame

Última alteração: 2022-01-13

Resumo


Apresentação: O envelhecimento humano é um processo natural ao qual todos estão submetidos, entretanto muito complexo quando se busca definir, uma vez que perpassa por dimensões biológicas, psíquicas, ambientais e sociais. Fato é que este processo pode levar ao declínio de funções que propiciam o aparecimento de morbidades, ocasionando assim uma maior necessidade de cuidados e atenção a esta população. Tal responsabilidade, muitas vezes, recai sobre a família que passa a realizar o papel de cuidador para este idoso. Esta necessidade de cuidados, entretanto, pode surgir de forma repentina, fazendo com que o cuidador passe a exercer tal função sem um preparo adequado, o que pode impactar na saúde do idoso e do próprio cuidador. Por entender que o envelhecimento vem ocorrendo de forma acelerada e que a relação cuidador-idoso é de grande importância para a saúde de ambos, este estudo se propõe a verificar a associação entre o perfil sociodemográfico, arranjo familiar, condições de saúde e hábitos de vida dos idosos com a presença do cuidador em idosos de uma comunidade de Vitória-ES.

Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo observacional transversal e com abordagem quantitativa que foi realizado com idosos assistidos por uma Unidade da Saúde da Família (USF) de uma comunidade em Vitória-ES e originado a partir de um estudo primário intitulado “Condições de saúde e funcionalidade de idosos assistidos pela Estratégia Saúde da Família (ESF) de Vitória”. Foram incluídos àqueles que possuíam 60 anos ou mais, fossem cadastrados na Rede Bem-Estar e assistidos pela ESF, não foram considerados àqueles que apresentaram alguma incompletude do item “possui cuidador” da ficha de avaliação e aplicados os devidos critérios obteve-se um número final de 230 idosos, dos 242 avaliados na pesquisa primária. Foram coletadas informações referentes ao perfil sociodemografico, abrangendo dados sobre a idade, sexo, etnia, escolaridade, praticante religioso, aposentado, pensionista, trabalha, renda individual, renda familiar e contribuição na renda familiar. Com relação ao arranjo familiar coletaram-se informações referentes à presença de companheiro, filhos, quantidade de filhos, mora sozinho, quantidade de moradores, residência multigeracional, tem apoio, sai sozinho, sai acompanhado. Por fim, sobre as condições de saúde e hábitos de vida, os idosos foram inferidos sobre a presença de doenças crônicas, de multimorbidades, se está em tratamento, se apresentaram quedas e internação hospitalar no último ano, hábito tabágico, hábito etilista, atividade física, atividade de lazer, autoavaliação da saúde, polifarmácia. A capacidade funcional foi avaliada através do WHODAS 2.0, instrumento elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que avalia a funcionalidade por meio de seis domínios, sendo: cognição, mobilidade, auto-cuidado, relações interpessoais, atividades de vida e participação. No presente estudo sua classificação foi definida como capacidade funcional normal (1-1.9 pontos) e alterada (2-5 pontos). Sobre a presença do cuidador, os idosos foram questionados se possuem ou não algum cuidador. Os dados foram analisados de forma descritiva e inferencial, sendo utilizado neste último o teste do Chi-quadrado de Pearson. Foi calculado, para as variáveis que se demonstraram estatisticamente significantes, o resíduo ajustado do Chi-quadrado, com valores acima de 1,96. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da EMESCAM sob o número 2.142.377 e o acesso à Unidade de Saúde e seus usuários foi aprovado pela ETSUS via Declaração de Anuência.

Resultados: Com relação ao perfil sociodemográfico dos idosos foi percebido que estes possuem, de maneira geral, entre 60-79 anos (87,5%), são do sexo feminino (61%), pardos (49%), estudaram entre 1 e 8 anos de estudo (70%), praticam alguma religião (65%), são aposentados (63,5%), não são pensionistas (77%), não trabalham (72,5%), possuem renda individual de até 1 salário mínimo (52,5%) e familiar entre 1,1 e 3 salários (56,5%) e destes 84% contribuem na renda da família. Quando verificada a associação entre estas variáveis e a presença do cuidador, se demonstraram significantes a idade (p< 0,05) e se é pensionista, onde foi encontrado que os idosos longevos (com 80 anos ou mais) e que recebem pensão se associaram ao fato de ter um cuidador. Sobre o arranjo familiar, encontrou-se que os idosos possuem companheiro (50,5%) e filhos (92,5%), tendo entre 1 e 5 filhos (71,5%), não moram sozinhos (71,5%), possuindo entre 1 e 2 moradores na casa (55,5%), em residência multigeracional (54%), possuem algum tipo de apoio (90,5%), saem sozinhos (78,5%) e acompanhados (95,2%). Verificou-se que os idosos que não saem sozinhos se associaram à presença do cuidador (p<0,001), enquanto àqueles que saem sozinhos foi associado ao fato do idoso não possuir cuidador. Por fim, com relação às condições de saúde e hábitos de vida, pôde ser observado que os idosos, em sua maioria, possuem doenças crônicas (90%), multimorbidades (65%), estão em tratamento de tais doenças (83%), sofreram quedas (58%) e internações hospitalares (68%) no último ano, não fumam (87%), não bebem (78,5%), não praticam atividade física (68%), praticam alguma atividade de lazer (64,5%), auto avaliam sua saúde como ótima/boa (54,5%), não possuem polifarmacia (65,5%) e possuem a capacidade funcional normal (74%). Destas se demonstraram estatisticamente significantes a prática de atividades de lazer (p<0,05) e capacidade funcional (p< 0,001), indicando que os indivíduos que não praticam atividade de lazer e possuem a capacidade funcional alterada se associaram à presença do cuidador, ao passo que àqueles que praticam atividade de lazer e apresentam capacidade funcional normal se associaram ao fato do idoso não possuir cuidador.

Considerações finais: Foi identificada no presente estudo associação significativa entre a presença do cuidador e a faixa etária de 80 anos ou mais, ser pensionista, não sair sozinho, não praticar atividade de lazer e ter a capacidade funcional alterada. Entendendo que as alterações fisiológicas do envelhecimento podem propiciar uma perda da funcionalidade e maior necessidade de atenção, o cuidador surge então como um importante sujeito a ser considerado para a saúde dos idosos. Estes, entretanto, muitas vezes, não possuem um devido preparo para tal função, podendo gerar sobrecargas ou influências na saúde de ambos. Diante do exposto, faz-se importante a formulação de assistências que orientem, acolham e capacitem estes cuidadores, com o intuito de promover uma melhor qualidade de vida e um envelhecimento mais ativo e saudável à toda população.