Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Contato pele a pele e amamentação na primeira hora de vida: uma revisão de literatura
Lara Lelis Dias, Pedro Paulo do Prado Junior, Mara Rubia Maciel Cardoso do Prado, Thais Bitencourt Faria, Ísis Milani de Sousa Teixeira, Anne Maria Carneiro Zuin, Gabrielle Maria Silva Gomes, Tayane Naraiane de Freitas

Última alteração: 2021-12-20

Resumo


Apresentação: O contato pele a pele (CPP) consiste em colocar o bebê nu, sobre o peito ou abdômen da mãe, também despidos, imediatamente após o nascimento, de forma ininterrupta, durante a primeira hora de vida. Assim, essa prática deve ser realizada o mais precocemente possível, quando mãe e bebê saudáveis e sem outras complicações, a fim de facilitar a adaptação ao ambiente extrauterino e estabilizar os sinais vitais do recém-nascido (RN). Além disso, o CPP está diretamente associado ao estímulo à amamentação na primeira hora de vida (APH) e ao estabelecimento do aleitamento materno exclusivo, além de favorecer inúmeros benefícios psicobiológicos ao binômio mãe-bebê. Desse modo, a partir da importância de tornar o CPP e a APH ações rotineiras em instituições hospitalares, a Organização Mundial da Saúde (OMS), através da Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) estabelece os “Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento Materno”. O 4º passo consiste em “ajudar a mãe a iniciar o aleitamento materno na primeira meia hora após o parto”, através do CPP, por pelo menos uma hora, e orientar a puérpera a identificar o momento em que a criança está pronta para mamar, oferecendo ajuda, se necessário. No entanto, apesar do reconhecimento da influência positiva dessas ações na saúde da mulher e do RN, e mesmo sendo práticas simples e sem custo, a prevalência de CPP e APH, entre os hospitais do Brasil, ainda permanece variável e distante dos indicadores ideais, estimados pela OMS. Por isso, torna-se necessário a identificação na literatura científica dos fatores capazes de interferir no acesso de mães e bebês ao CPP e APH, a fim de se propor políticas públicas e institucionais em prol da saúde materno-infantil. Desenvolvimento: estudo de revisão integrativa da literatura, realizado entre os meses de novembro e dezembro de 2021. A revisão se deu por meio de seis passos: elaboração da pergunta norteadora, busca na literatura, coleta de dados, análise crítica dos estudos incluídos, discussão dos resultados e apresentação da revisão. A partir da questão norteadora “quais os fatores e benefícios associados ao contato pele a pele e amamentação na primeira hora de vida?” foi realizada a busca nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e no Portal de Periódicos da CAPES, através dos descritores “Amamentação”, “Período pós-parto”, “Contato pele a pele” e “Primeira hora de vida”, combinados pelo operador booleano “AND”, em inglês, português e espanhol, publicados nos últimos 5 anos (2016-2021). Foram encontrados 41 artigos, entre eles, 22 (BVS) e 19 (CAPES). A partir da leitura dos títulos e resumos, 24 estudos foram excluídos por não responderem à pergunta norteadora e 5 por duplicidade nas bases de dados. A amostra final foi composta por 12 artigos, publicados em 2016 (1), 2018 (1), 2019 (2), 2020 (6) e 2021 (2), indexados nas plataformas LILACS (4), MEDLINE (1) e BDENF (3), acessadas através da BVS, e CAPES (4). Os estudos foram submetidos à leitura cronológica e extração de informações, por meio de instrumento, com dados sobre autoria, ano e revista de publicação, amostra, objetivos, métodos, resultados, conclusões, possíveis vieses e lacunas para futuras pesquisas. Seguida da extração de informações, foi realizada a análise crítica dos estudos e discussão dos resultados, apresentados por essa revisão. Resultados: a literatura científica evidencia inúmeras vantagens do CPP e APH ao RN, como menor estresse e choro, estabilização da temperatura e frequência respiratória, controle da glicemia, menor perda de peso nos primeiros meses de vida, diminuição do risco de infecções, alergias, morte neonatal, obesidade infantil, melhor manejo da dor, favorecimento da colonização intestinal e da pele e aumento do desenvolvimento cognitivo. Entre os benefícios à mulher estão o estímulo à produção de ocitocina, hormônio que favorece a ejeção do leite, diminui os riscos de atonia uterina, hemorragia e anemia pós-parto e aumenta a promoção do vínculo com o bebê, proporcionando sentimento de alívio, segurança e felicidade para a mulher. Em relação aos impasses à realização do CPP e APH são citados hábitos/rotinas hospitalares, como cuidados médicos imediatos ao RN (profilaxia de oftalmia neonatal, exame físico, administração de vitamina K, cálculo de Apgar), realização de cesariana, parto com complicação, baixo peso ao nascer, parto vaginal instrumental, prematuridade e escassez de informações da mãe a respeito do CPP e APH. Os fatores que favorecem o CPP e APH incluem realização de mais de 4 consultas pré-natal, acesso às orientações sobre CPP e APH, parto normal, gestação a termo, parto sem complicações, peso adequado ao nascer (>2500g) e presença de enfermeira obstetra e acompanhante durante o trabalho de parto/parto/pós-parto. Logo, a partir dos estudos analisados, é possível destacar as condições de saúde do RN, a via de parto, procedimentos hospitalares e orientação materna como fatores de maior influência na realização do CPP e APH. É válido ressaltar que, em condições saudáveis, avaliações neonatais, como a determinação de Apgar, podem ser realizadas no colo da mãe, e outros procedimentos não urgentes, a exemplo de pesagem e medições, postergados por pelo menos uma hora. No que tange à via de parto, o aumento, ao longo dos anos, das taxas de cesariana no país reflete na assistência pós-parto, isso porque, nesses casos, condutas pós-operatórias e efeitos da analgesia na mulher e RN podem proporcionar retardo na interação mãe-bebê. Por fim, destaca-se a importância da orientação profissional durante o pré-natal, especialmente da equipe de enfermagem, com o objetivo de fornecer informações atualizadas às mulheres sobre o CPP e APH, bem como, durante o trabalho de parto, parto e pós-parto, desenvolver ações que priorizem um ambiente adaptado e acolhedor às necessidades do binômio mãe-bebê. Considerações finais: é possível concluir tanto sobre dos benefícios do CPP e APH na saúde materno-infantil quanto sobre as lacunas do sistema de saúde em relação a essas práticas. É evidente a necessidade de modificações na qualidade da assistência, por meio da revisão e construção de protocolos institucionais a respeito das ações de rotina que retardam ou interrompem o CPP e APH, em conjunto da mobilização dos poderes públicos, em prol da criação de políticas que beneficiem a saúde materno-infantil, bem como o aumento da discussão dessa temática na comunidade científica e sociedade em geral. Por fim, ressalta-se, nesse trabalho, a probabilidade de vieses, em relação ao quantitativo de artigos analisados. No entanto, a capacidade de síntese, revisão, determinação de conceitos e identificação de lacunas, das revisões integrativas, justificam a importância de seu desenvolvimento, a fim de direcionar a prática clínica em prol do cuidado baseado em evidências. Ademais, salienta-se a demanda por outros estudos, de maior evidência científica, que busquem delimitar, também, benefícios, facilitadores e dificultadores do CPP e APH.