Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
Aleitamento materno e imunização passiva contra COVID-19: uma revisão de literatura
Lara Lelis Dias, Pedro Paulo do Prado Junior, Mara Rubia Maciel Cardoso do Prado, Thais Bitencourt Faria, Ísis Milani de Sousa Teixeira, Laís Sousa da Silva, Caroline de Freitas Silva, Renata Oliveira Caetano

Última alteração: 2021-12-19

Resumo


Apresentação: Em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS), determinou o surto do novo Coronavírus (SARS-COV-2) como uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional. No entanto, sua propagação se deu de forma tão exponencial que, em 11 de março, do mesmo ano, o estado de pandemia foi declarado pelo órgão de saúde. Nesse sentido, em um cenário inédito, com o surgimento de um novo vírus, as comunidades científicas, a nível global, se reuniram em prol do desenvolvimento de vacinas anti SARS-COV-2, o que possibilitou a diversos países, ainda em 2020, iniciarem a vacinação de suas populações, a partir dos indivíduos pertencentes a grupos mais vulneráveis à contaminação pelo vírus, como idosos e profissionais da saúde. Logo, em relação ao estabelecimento de grupos prioritários à imunização contra COVID-19, mulheres gestantes e lactantes foram excluídas dos ensaios clínicos, durante o desenvolvimento das vacinas, o que resultou em lacunas a respeito da indicação de sua vacinação. No entanto, ainda assim, elas foram encorajadas a se vacinarem, especialmente aquelas pertencentes a outros grupos de risco. Diante disso, em relação às lactantes, estudos atuais têm demonstrado a possibilidade de aumento de anticorpos contra COVID-19, no leite materno, de mulheres vacinadas, o que resulta em uma lacuna a ser investigada pela comunidade científica. Isso porque, são conhecidos os benefícios do leite materno à saúde do bebê, principalmente sobre seu sistema imunológico que, até os 6 meses de vida, permanece imaturo e com capacidade reduzida de produzir anticorpos. Assim, até o estabelecimento dessa função, o bebê recebe proteção via leite materno, em um processo denominado imunidade passiva. O anticorpo mais abundante, transferido durante a amamentação, é a imunoglobulina secretora A (IgA), que confere proteção contra patógenos pela inibição de sua ligação às células do hospedeiro em membranas mucosas respiratórias e gastrintestinais. Além disso, outro anticorpo presente no leite materno é a imunoglobulina G (IgG) que, apesar de não ser o principal relacionado à imunidade passiva, têm revelado importância significante na imunidade viral, em estudos atuais. Posto isso, surge a necessidade de buscar na literatura científica evidências sobre a transferência de IgA e IgG específicos anti SARS-COV-2, via leite materno, de lactantes vacinadas, a seus bebês, a fim de identificar a possibilidade de proteção contra COVID-19 em crianças que amamentam, bem como reconhecer possíveis efeitos da vacinação na saúde materno-infantil. Desenvolvimento: estudo de revisão integrativa da literatura, realizado entre os meses de novembro e dezembro de 2021. A revisão se deu por meio de seis passos: elaboração da pergunta norteadora, busca na literatura, coleta de dados, análise crítica dos estudos incluídos, discussão dos resultados e apresentação da revisão. A partir da questão norteadora “quais as evidências científicas da literatura acerca da possibilidade da imunização passiva de RN através do aleitamento materno?” foi realizada a busca nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Portal de Periódicos da CAPES, Cochrane Library e PubMed, através dos descritores “Aleitamento Materno”, “Imunização Passiva”, “COVID-19”, “Vacinação” e “Anticorpos”, combinados pelo operador booleano “AND”, em inglês, português e espanhol, publicados em 2021. Foram encontrados 17 artigos, entre eles, 08 (BVS) e 09 (PubMed). A partir da leitura dos títulos e resumos, 06 estudos foram excluídos por não responderem à pergunta norteadora e 04 por duplicidade nas bases de dados. A amostra final foi composta por 07 artigos, publicados em maio (1), agosto (4), setembro (1) e outubro (1) de 2021, indexados na plataforma MEDLINE (4), acessada através da BVS, e PubMed (3). Os estudos foram submetidos à leitura cronológica e extração de informações, por meio de instrumento, com dados sobre autoria, ano e revista de publicação, amostra, objetivos, métodos, resultados, conclusões, possíveis vieses e lacunas para futuras pesquisas. Seguida da extração de informações, foi realizada a análise crítica dos estudos e discussão dos resultados, apresentados por essa revisão. Resultados: os estudos analisados realizaram análises das vacinas BNT162b2 (Pfizer-BioNTECH) e mRNA 1273 (Moderna). Ambas possuem mecanismo de ação baseado em mRNA, isto é, um RNA mensageiro sintético é utilizado com a função de fornecer instruções ao organismo para produção de proteínas encontradas na superfície do vírus (SARS-COV-2), que serão responsáveis por estimular a resposta imunológica, através da produção de anticorpos, oferecendo proteção ao indivíduo vacinado. A respeito da presença de anticorpos IgA e IgG no leite materno, foram evidenciadas, em relação à IgA: aumento de IgA específicos anti SARS-COV-2, em média de 3 a 14 dias após a primeira dose, seguido de padrões de estabilização, queda e crescimento, ainda mais significativo, após a segunda dose. Em relação à IgG: aumento de IgG específicos anti SARS-COV-2, em média de 7 dias a 6 semanas após administração da segunda dose. Diante disso, vale ressaltar a importância do esquema vacinal completo, com duas doses, pelos possíveis padrões de queda de IgA com apenas uma dose administrada. Em estudos que realizaram comparações entre o leite materno de mulheres com infecção anterior por COVID-19 e lactantes sem o histórico da doença, apenas vacinadas, foram encontrados maiores níveis de IgA e IgG, respectivamente. Esse dado pode ser explicado pelo fato que, a principal ação do vírus ocorre nas mucosas, principal local de ação de IgA, enquanto, em mulheres vacinadas, a exposição ao antígeno viral se dá por injeção intramuscular. No que tange a possíveis efeitos colaterais, a maioria dos estudos destaca dor local, fadiga e mialgia, em lactantes vacinadas, enquanto os efeitos em bebês são menos comuns, praticamente ausentes. Não existem, até o momento, evidências da transferência de outros componentes das vacinas, via leite materno, como o mRNA. Por fim, carecem estudos a respeito do tempo de permanência dos anticorpos no leite materno, além da realização de testes funcionais, que comprovem seu poder neutralizante, apesar de algumas evidências já indicarem especificidade dos anticorpos para o domínio de ligação ao receptor da proteína spike do vírus, bloqueando o acesso às células humanas. Considerações finais: é possível concluir que, até o momento, não existem indicações que justifiquem a interrupção da amamentação após vacinação da lactante contra COVID-19, pelo contrário, a presença de anticorpos IgA e IgG no leite materno revelam resultados promissores em relação à imunização passiva, de crianças amamentadas, contra a infecção. No entanto, destaca-se o número ainda pequeno de estudos que comprovem essas associações, assim, ensaios maiores, em tempo e coorte, devem ser realizados, a fim de preencher lacunas, a exemplo da longevidade e poder neutralizante dos anticorpos presentes no leite materno. Por fim, ressalta-se, nesse trabalho, a probabilidade de vieses, em relação ao quantitativo de artigos analisados. No entanto, a capacidade de síntese, revisão, determinação de conceitos e identificação de lacunas, das revisões integrativas, justificam a importância de seu desenvolvimento, a fim de direcionar a prática clínica em prol da assistência à saúde baseada em evidências.