Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
Mapeamento e análise bibliométrica e cientométrica da produção científica sobre participação e controle social em Saúde nas Américas (1956-2021)
Rodrigo Silveira Pinto, Carla Michele Rech, Gabriele Carvalho de Freitas, Frederico Viana Machado, Henrique Ancieto Kujawa

Última alteração: 2021-12-27

Resumo


A participação em saúde, em seus diversos enquadramentos de pesquisa, constitui um objeto de interesse de diversas disciplinas e áreas do conhecimento. Dada a diversidade de expressões que definem “Participação Social” e “Controle Social”, o primeiro desafio foi a construção de uma estratégia de busca que se aproximasse da literatura sobre o tema, seja nas Ciências Naturais e Biomédicas, seja nas Ciências Sociais e Humanas. Para tal, a estratégia de busca foi elaborada em três momentos. Inicialmente os pesquisadores fizeram uma revisão acerca dos termos e dos descritores indexados. Em seguida, foi realizada a organização dos descritores utilizando os operadores booleanos, de forma que a busca fosse sensível a estudos que se relacionassem a práticas e políticas de saúde. Por último, ajustou-se a estratégia conforme a base de dados em três idiomas (português, inglês e espanhol), sem limite de data.

O artigo mais antigo selecionado sobre o tema data de 1956 e as publicações mostraram uma tendência de alta. Ao recortarmos os países da América, esta tendência se repete. Ao analisarmos a distribuição por idioma, dos 641 artigos incluídos no banco dados, temos 350 (54%) em inglês, 178 (27,77%) em português, 85 (13,26%) em espanhol, 21 (3,28%) em inglês e português, 6 (0,93%) em inglês e espanhol e 1 (0,23%) nos três idiomas.

Analisando as citações, considerando os países do continente, encontramos o seguinte resultado: EUA (2057), Canadá (713), Brasil (582), Colômbia (178), Cuba (132), Chile (123), México (43), Guatemala (28), Venezuela (14), Peru (14), El Salvador (12), Equador (12), Honduras (11), Nicarágua (10), Bolívia (7) e Uruguai (7). Este ranqueamento da produção evidencia as desigualdades que marcam o cenário científico e acadêmico global. O Brasil, mesmo sendo o primeiro em número de publicações, ocupa a terceira posição em número de citações e uma “força” baixa, o que indica um baixo campo de citação da produção brasileira, provavelmente pelas citações estarem em grande medida restritas ao contexto nacional. A Colômbia também é um bom exemplo desta desigualdade.

Ao compararmos o número de artigos publicados de determinada revista e os mais citados, usando o caso das revistas brasileiras, vemos que estas ocupam os quatro primeiros lugares no ranking de revistas com maior número de documentos publicados, mas com baixa performance em citações, enquanto vemos o periódico The Lancet, com apenas 3 artigos selecionados sendo a revista mais citada. Esta desigualdade afeta também os demais países Latino-Americanos, que sequer aparecem entre os 20 com mais citações.

Classificamos os artigos mais citados em três tipos: estudos sobre participação social/engajamento comunitário e saúde; estudos propositivos de modelos de gestão pública ou de ensino/pesquisa em saúde, com foco na participação social e estudos que relacionam contextos políticos, fatores culturais e estruturais à participação social. Há um destaque para o trabalho de pesquisadores desenvolvido nos EUA e no Canadá, tendo como ambiente empírico contextos destes países. Por isso, resultados de pesquisas desenvolvidas em outros contextos, como o brasileiro, por exemplo, acabam não se destacando pela falta de citações. No entanto, embora os autores mais citados sejam em sua maioria dos EUA e no Canadá, quando observamos os autores mais conectados, os brasileiros se destacam.

Analisando a coautoria, uma medida formal de colaboração, encontramos, no conjunto de autores que compõem o banco de dados, 250 clusters. Isso demonstra a diversidade de ligações existentes nesse campo, em grande medida pela fragmentação temática e pelos diferentes usos e sentidos que a participação social adquire para estas diferentes frentes de pesquisa. Entre os autores mais relevantes, há um predomínio de pesquisadores das áreas biomédicas, com grande parte das pesquisas voltadas para o desenvolvimento de estratégias de intervenção em saúde a partir do engajamento comunitário, especialmente de minorias sociais e étnicas, com o objetivo de reduzir a iniquidade no atendimento e em métodos para compreender melhor a distribuição de morbidades entre grupos populacionais, especialmente nos grupos em vulnerabilidade social. No ranking das organizações que mais possuem colaborações formais com outras organizações, destacam-se a Universidade de Toronto e a Fiocruz, e entre países, os Estados Unidos ocupam o primeiro lugar, seguido do Canadá e do Brasil.

A análise de acoplamento bibliográfico, uma medida indireta de colaboração, apresentou relação entre 308 (48,05%) documentos. Observa-se que a produção nesta área não apresenta uma base bibliográfica compartilhada entre todos os autores (344 documentos não apresentaram nenhuma relação) apresentando frentes de pesquisa complementares. Para compreender a estrutura intelectual científica criada em torno da Participação e Controle Social nas Américas, fez-se necessário compreender a cocitação de autores. Assim, além de apresentar a influência de cada autor na rede, as relações construídas entre estes mostram as aproximações e oposições teóricas e metodológicas que surgem nos artigos científicos pesquisados.

Observa-se a grande presença de instituições oficiais entre os autores mais cocitados. Observa-se entre os mais cocitados posicionamentos como a Declaração de Alma Ata e a Carta de Ottawa como os principais documentos, que apresentam metas amplas para a estruturação da Atenção Primária à Saúde como principal estratégia para alcançar o acesso à saúde. Ministérios de Saúde, como o caso do Brasil, fornecem a estrutura legal do funcionamento da Participação e Controle Social no país, visto que esta é regulamentada em Lei Federal e possui um vasto arcabouço de regulamentação. Um documento importante deste país que é cocitado são os relatórios das Conferências Nacionais de Saúde, instrumentos norteadores da política de saúde nacional. Outras instituições também são cocitadas entre os autores desta pesquisa, como o banco mundial, principal agente na reforma sanitária de países da América Latina entre as décadas de 1980 e 1990, e agências governamentais que fornecem dados epidemiológicos e populacionais de seus países. Dentre os 10.164 autores cocitados nos artigos desta análise, 297 (2,92%) são citados cinco ou mais vezes.

Por último, apresentamos a análise de coocorrência de termos baseado em títulos e resumos que representa o ordenamento global da amostra. Dois clusters muito bem definidos se formaram separando dois grandes campos da discussão sobre participação em saúde. De um lado, temos um olhar para a participação e o controle social mais voltado para o Estado, a cidadania, as instituições e os processos decisórios na gestão e formulação das políticas públicas. Do outro lado, a comunidade, suas singularidades, personagens e demandas em saúde se articulam ao engajamento comunitário e os métodos, programas e abordagens para melhor intervir nessa relação. Obviamente estes dois campos se conectam, o que podemos notar pelas linhas que atravessam o significativo espaço que os separam, mas também notamos as nuances entre termos localizados mais ao centro e aqueles nos extremos demarcando discussões mais distantes.

Ao olharmos para o conjunto das Américas, em uma análise ampliada, as desigualdades que marcam este campo científico são marcantes e ensejam discussões para a superação dos obstáculos para o desenvolvimento científico, tecnológico e, consequentemente, das políticas públicas e do cuidado em saúde. Esta compreensão ampliada se mostrou útil para que pesquisadores possam conhecer os aspectos sociais e bibliométricos deste campo de pesquisa, identificando diferenças e semelhanças teóricas, metodológicas e temáticas, bem como os usos estratégicos deste tema nos variados campos da saúde, na interface com as ciências sociais aplicadas.