Nesses tempos sombrios, em que se sobrepõem intensas crises no cenário brasileiro - sanitária, econômica, ambiental, institucional e sobretudo política -  e nos quais se agravam as desigualdades sociais que nos estruturam, intensificam-se as vulnerabilidades, o desalento e o desamparo da maioria da população brasileira, como era de se esperar, pudemos acumular análises e leituras sobre elementos fundamentais de nossas fragilidades atuais, que chegam ao paroxismo. Embora tais linhas críticas sejam necessárias e da maior importância, há que se incluir na análise do presente, também os vívidos movimentos e sinais de resistência tecidos por pessoas, coletivos e instituições que fazem pulsar a organização popular em meio à bárbarie contemporânea e que podem lançar fagulhas de esperança na disputa de nossos futuros, na direção da defesa da vida em sua integralidade e amplitude. Mobilizadas/os pela esperança, vimos partilhar a experiência da Formação de Agentes Populares de Saúde em Santos-SP (APopS). Esta centelha que vem do nordeste nos toca no momento em que a opção do Estado era o foco no cuidado com a doença e não na proteção à vida. O Projeto Mãos Solidárias, em Recife-PE, retoma a experiência de formação de agentes populares, recuperando o aprendizado da história de construção do SUS, numa releitura de coalização de forças progressistas em apoio e defesa da vida, com mobilização popular, alastrando seu calor até nós, que inspiradas os nesta experiência, construímos o Curso de Formação de APopS. Por meio de uma parceria entre o projeto de extensão Fortalecendo Redes de Cuidado Territoriais no enfrentamento à COVID-19 na baixada santista, da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP, Instituto Elos Brasil, Instituto ProComum, serviços de saúde da atenção primária e da assistência social básica e movimentos sociais locais, formou-se uma comissão pedagógica ampla e plural, que construiu de maneira participativa, desde a definição dos temas até o material didático do curso. O curso foi oferecido para 15 lideranças comunitárias, nos três territórios de maior vulnerabilidade de Santos, em pólos regionais, num formato híbrido - aulas online e interação presencial com facilitador nos pólos. O curso de característica interdisciplinar e pautado nos princípios da Educação Popular freireana, foi ministrado por professores de diferentes eixos da UNIFESP e da Universidade Santa Cecília - UniSanta, trabalhadores da rede de saúde e socioassistencial de Santos, companheiros do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra - MST e do Projeto Mãos Solidárias de Recife. A força da organização popular e desse movimento tem sido um contraponto importante ao cenário obscuro que temos nos acostumado a perceber no ar, e um convite a procurar outros movimentos, que puderam romper a ausência do Estado e fazer brotar a esperança, o que também nos impulsiona a dar visibilidade a estas novas possibilidades de existência e luta e a aprender com elas sobre caminhos de futuro mais luminosos.