Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
SUSPEITA DE SARCOMA DE KAPOSI EM PESSOA QUE VIVE COM HIV/AIDS: RELATO DE EXPERIÊNCIA
TAINAN FABRICIO DA SILVA, Yamile Alves Silva Vilela, Vitor Araujo Mar, Debora Elvas de Souza, Amanda França Silva Aguiar, Ivana Andrade Vieira Neves, Sara Cristina S. Carneiro

Última alteração: 2021-12-20

Resumo


APRESENTAÇÃO: O sarcoma da Kaposi (SK) é uma neoplasia mesenquimal descrita por Moritz Kaposi. Essa doença é causada pelo vírus herpes tipo 8 (HHV8) e apresenta forte associação com a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). Internacionalmente, é a neoplasia mais frequente em pacientes portadores do vírus HIV e uma das principais manifestações diagnosticas da doença. O sarcoma de Kaposi foi descrito pela primeira vez em 1872 por Moritz Kaposi como “sarcoma hiperpigmentado múltiplo idiopático”. Trata-se de uma neoplasia angioproliferativa maligna multicêntrica caracterizada sob o ponto de vista macroscópico pelo desenvolvimento de tumores vinhosos frequentemente elevados. Na maioria das vezes esses tumores restringem-se à pele e ao tecido subcutâneo, mas podem cursar comprometimento visceral amplamente disseminado. A doença apresenta um tropismo por vasos sanguíneos e linfáticos da pele, mas também pode acometer outros órgãos, como pulmão e trato gastrointestinal, apresentando um grande espectro de manifestações clinicas. Na forma clássica da doença, o Sarcoma de Kaposi se limita as extremidades do corpo. Em pacientes com AIDS, a apresentação é sistêmica e multifocal. A doença não se limita a uma faixa etária, podendo se manifestar em qualquer idade e com maior prevalência em homens que fazem sexo com homens. No Brasil, há mais de 800.000 pessoas com HIV/AIDS e o Sarcoma de Kaposi é a neoplasia mais frequente nesse grupo. A partir dos anos 90, por meio da terapia antirretroviral altamente eficaz, houve um declínio da morbidade e mortalidade nos pacientes portadores do vírus da imunodeficiência humana, reduzindo, por consequência, a incidência do Sarcoma de Kaposi. Hoje, mesmo contando com políticas de prevenção combinada, que conjugam ações biomédicas (reduzir riscos de exposição ou transmissibilidade), comportamentais (proporcionar informação e conhecimento da percepção ou autoavaliação do risco a exposição ao HIV) e intervenções estruturais (estratégias que visam enfrentar fatores e condições socioculturais que influenciam diretamente na vulnerabilidade de indivíduos ou grupos específicos), anualmente, uma média de 40 mil novos casos de AIDS nos últimos cinco anos, são notificados no nosso país, segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde. De 1980 a junho de 2017, foram identificados 882.810 casos de AIDS no Brasil. Assim, a infecção pelo HIV/AIDS ainda é uma doença que demanda muita atenção do sistema de saúde. O objetivo deste relato foi apresentar como se deu a suspeita de um caso de Sarcoma de Kaposi em pessoa vivendo com HIV acompanhado em um Serviço de Atendimento Especializado de uma policlínica de referência da cidade de Manaus, estado do Amazonas, no ano de 2020.

DESENVOLVIMENTO: Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, desenvolvido pela equipe multidisciplinar do SAE de uma Policlínica de referência localizada na zona leste da cidade de Manaus, estado do Amazonas, no ano de 2020, a partir de um caso de suspeita de Sarcoma de Kaposi em pessoa vivendo com HIV acompanhado no serviço. O paciente deu entrada foi acolhido na unidade após ser encaminhado por uma UBS da região com teste rápido reagente para HIV. O mesmo tratava-se de um jovem do sexo masculino, 30 anos, homossexual e estudante. Apresentava quadro de diarreia e emagrecimento. Após ser acolhido pela equipe de enfermagem, usuário realizou consulta com profissional enfermeiro no qual foi orientado sobre HIV, Aids, tratamento antirretroviral, formas de transmissão e não-transmissão do vírus, consultas e exames. Nessa mesma consulta, foi solicitado que o usuário realizasse os exames de contagem de carga viral, contagem de linfócitos TCD4, hemograma, lipidograma, sorologia para hepatites, VDRL, EAS, EPS, Prova tuberculínica e raio-x de tórax. Após a realização dos exames o paciente foi agendado para a consulta médica com o infectologista.

RESULTADOS: Na consulta médica, paciente queixou-se de abscesso em glúteo e lesões violáceas em membros inferiores sugestivas de sarcoma de Kaposi. A médica infectologista iniciou a terapia antirretroviral e encaminhou o mesmo para avaliação com o médico dermatologista. Na consulta com médico dermatologista o mesmo solicitou biopsia das lesões para posterior avaliação e encaminhou o mesmo para tratamento no hospital de referência. Um mês depois confirmou-se o diagnóstico de sarcoma de Kaposi no paciente que vivia com HIV e iniciou tratamento específico em hospital de referência da cidade de Manaus, estado do Amazonas, em 2020. Diversos fatores são atribuídos a uma possível etiologia do Sarcoma de Kaposi, dentre eles: fator de crescimento endotelial, expressão oncogênica e predisposição genética associados a possíveis cofatores ambientais; entretanto, sua etiologia ainda permanece obscura. Pesquisas apontam a existência de um agente transmissor como causa do Sarcoma de Kaposi, quer seja ligado à infecção pelo HIV ou não. A incidência da doença é maior em pacientes nos extremos etários, relacionada provavelmente à baixa imunidade, mas quando relacionados ao HIV, são pouco frequentes em crianças, ao contrário da forma endêmica (africana subequatoriana). Homens são mais afetados que mulheres, com uma proporção de 15:1. O sarcoma é uma doença agressiva que pode implicar em complicações, como infecções oportunistas associadas a AIDS, podendo inclusive ser fatal. Ao mesmo tempo, apresenta boa resposta às diversas abordagens terapêuticas: como excisão cirúrgica, crioterapia e radioterapia, quando as lesões são localizadas e o tratamento sistêmico, reservado para o caso de lesões cutâneas de maior extensão, múltiplas ou com envolvimento de outros órgãos. O Sarcoma de Kaposi apresenta boa resposta às diversas estratégias terapêuticas. Para lesões localizadas, excisão cirúrgica, crioterapia e radioterapia podem ser empregadas. Para lesões cutâneas maiores, múltiplas ou acometendo vísceras, o tratamento sistêmico está indicado. Dentre estes, nos casos de doença disseminada, a quimioterapia é utilizada para atuar tanto nas lesões cutâneas como nas viscerais. Existem diversos agentes quimioterápicos ativos, com taxa de resposta de cerca de 60 a 80%, dentre eles: as antraciclinas lipossomais (doxorrubicina, daunorrubicina), o paclitaxel, a vimblastina e o etoposide. A imunoterapia com interferon pode ser indicado em casos selecionados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: A epidemia de AIDS está longe de terminar e a mesma continua afetando a saúde dos indivíduos e o desenvolvimento das nações em muitas partes do mundo. Ao contrário da maioria das outras epidemias, o HIV afeta preferencialmente as pessoas no auge da sua vida, mesmo sendo transmissão do HIV um evento biológico, que é altamente dependente do contexto social e de suas práticas comportamentais. Embora o diagnóstico de novas infecções pelo HIV tenha declinado cerca de 11% desde 2010, nos últimos anos tem-se notado uma maior incidência acompanhada de um diagnóstico tardio. Por consequência, a incidência dos pacientes com Sarcoma de Kaposi também aumentou.