Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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DESIGUALDADES ÉTNICO-RACIAIS EM SAÚDE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA SOBRE MORBIDADE INFANTIL NO BRASIL
Matheus Menezes Luciano, Adria da Silva Santos

Última alteração: 2021-12-27

Resumo


APRESENTAÇÃO: A análise de raça/cor e etnia é um dos fatores determinantes de desigualdades em saúde no Brasil. O objetivo deste trabalho foi investigar as informações sobre mortalidade infantil no Brasil, de acordo com a cor ou raça. DESENVOLVIMENTO: Trata-se de uma revisão sistemática através de sites de indexação cientifica Scientific Electronic Library Online (SciELO) BVS e PUBMED. Os principais resultados apontam que as infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) persistem como agravo à saúde de crianças no Brasil, afetando principalmente grupos minoritários como os indígenas. No Brasil, verifica-se ainda que, a taxa de Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária (ICSAP) em crianças indígenas superou em cerca de cinco vezes a taxa correspondente nas crianças brancas. O tempo de permanência hospitalar foi de 2 a 7 dias em todas as categorias de cor/raça, dentre as quais, os indígenas apresentaram internações com menores tempos de permanência. Outros agravos comuns entre as populações indígenas costumam se sobrepor e contribuir para a manutenção do ciclo de adoecimento, tais como a anemia e a desnutrição; além de elevadas proporções de internação por pneumonia e diarreia, outras doenças infecciosas e parasitárias e CSAP. Além disso, fatores de morbidade podem predispor altas taxas de mortalidade, o que corrobora a mortalidade precoce predomina entre indígenas e pretos. A exemplo disso, em 2002, a mortalidade infantil das crianças pretas superou em cerca 50% a mortalidade infantil das brancas, e de igual modo a das pardas; o diferencial de mortalidade entre crianças indígenas e brancas ou pardas variou mais de 60% a mais para as primeiras. Alguns determinantes socioeconômicos e ambientais dessa situação nefasta são destacados na literatura, entre eles a pobreza, o saneamento básico precário, dificuldades de acesso à água potável, condições precárias de moradia e restrições no acesso e qualidade da Atenção Primária em Saúde. Evidências empíricas nas áreas de educação, trabalho e justiça indicam que a discriminação racial é fator estruturante das desvantagens econômicas e sociais enfrentadas por minorias étnico-raciais no Brasil. Dessa forma, os indivíduos em desvantagem social, como povos indígenas e outros que habitam áreas mais remotas, apresentam contextos culturais próprios e operacionalização dos serviços de saúde muito particulares, os quais exigem remoções para hospitais por indicações não clínicas, hipótese reforçada pelo menor tempo de permanência hospitalar verificado entre os indígenas. Apesar dos achados, as desigualdades étnico-raciais, no âmbito da saúde, têm sido pouco investigadas, o que corrobora incompletude da variável cor/raça no Brasil, sendo observado um melhor preenchimento da variável a partir de 2012. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os indígenas apresentam as condições mais desfavoráveis quando comparados às demais categorias de cor/raça. Entre as possíveis causas das desigualdades étnico-raciais em saúde, destacam-se as diferenças socioeconômicas que se acumulam ao longo da vida de sucessivas gerações, indicativos de que o impacto das políticas públicas não alcançou os indígenas em mesma escala que o restante da população.