Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE ACIDENTES E VIOLÊNCIAS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES E FATORES ASSOCIADOS : REVISÃO SISTEMÁTICA
Franciele Flodoaldo, Gustavo Alberto Briske Klug, Julia Villa Coutinho Ferreira, Luciana Carrupt Machado Sogame

Última alteração: 2021-12-22

Resumo


Apresentação: A população infanto-juvenil é extremamente suscetível e vulnerável à ocorrência de acidentes e violências. Além de constituírem a principal causa de óbito no ciclo de vida da criança e do adolescente, as causas externas representam grande parte dos atendimentos realizados pelos serviços médicos de emergência. A análise da distribuição espacial desses atendimentos permite inferir a influência do território e de suas características, tais como desigualdade social, infraestrutura, segregação socioespacial entre as classes e outros, como determinantes para a suscetibilidade de uma determinada população à ocorrência de acidentes e violências. Nesse sentido, o objetivo do presente artigo é verificar a presença de acidentes e violências em crianças e adolescentes, a distribuição espacial desses eventos e os fatores associados. Desenvolvimento: O estudo trata-se de uma revisão sistemática, a qual compreende o processo de busca, análise e descrição dos referenciais, com a finalidade de compreender o assunto em questão, a fim de reunir e sintetizar o conhecimento científico produzido sobre o tema investigado. Por meio do PubMed, LILACS (Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde) e SciELO (Brasil Scientific Electronic Library Online) fez-se a busca dos artigos. Como critérios de inclusão, tem-se: textos completos; gratuitos; idioma português, inglês e espanhol; publicados entre 2021 à 2017. Como critério de exclusão foram considerados os artigos repetidos e que não se relacionam à questão norteadora. Para a busca foram usados os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Residence Characteristic”; “Child”; “Adolescent”; “External Causes”; “Emergency Medical Services”, associados ao operador booleano AND e OR. Após a busca, foi realizada leitura dos títulos e resumos e a seguir, realizou-se leitura detalhada dos artigos selecionados. Resultados: O universo foi constituído por 590 artigos, sendo 568 da PubMed , 17 da LILACS e 5 da SciELO. Após a aplicação dos filtros, 498 artigos foram excluídos, tendo sido selecionados 92 para a leitura dos títulos e/ou resumos. Nessa etapa, elegeram-se 8 artigos e os demais foram excluídos por apresentarem foco diferente do objetivo proposto da presente pesquisa. Assim, das 8 publicações lidas na íntegra, 7 foram selecionadas. Dos artigos selecionados, 6 artigos identificaram associação entre acidentes e violência. Em relação aos acidentes, fraturas, amputações e traumas estão entre as causas mais frequentes e a respeito da violência, a intoxicação exógena e o corte foram as principais causas, porém também foi relatado a presença de maus-tratos e lesões auto infligidas em outros artigos. Já outro estudo mostra que os tipos de violência foram os físicos, negligentes, sexuais e psicológicos. 2 artigos evidenciaram que a presença da violência sexual é uma das causas presentes em meninas menores de 19 anos. Quanto ao tipo de acidente, as quedas foram as mais frequentes, seguida de exposição por forças mecânicas e transporte (automóveis, motocicletas e bicicletas). A prevalência desse cenário expõe a vulnerabilidade que esses indivíduos estão sujeitos e como isso pode ocasionar danos em suas estruturas físicas e psicomotoras. Em relação à distribuição espacial de causas externas, 7 artigos mostraram que, dependendo do tipo de acidente ou violência, o contexto da situação, o sexo e a faixa etária, tendem a acontecer dentro ou fora do ambiente escolar e familiar, sendo mais frequente em locais urbanos, com maior vulnerabilidade social e em famílias com relações mais instáveis e com menor renda familiar. Em relação à faixa etária, 1 artigo analisa que os acidentes na população infantil são mais comuns, ao contrário da população adolescente, a qual é mais frequente a presença da violência. Ao abordar a população infantil, 2 artigos mostraram que as queimaduras, lesões por forças mecânicas e quedas eram as mais frequentes, já em relação à violência, os maus-tratos eram mais evidentes. O envolvimento de causas externas em crianças está intimamente relacionado ao ciclo de vida nessa faixa etária, haja vista nessa idade ocorre o despertar de curiosidade e o crescimento e desenvolvimento neurocognitivo, embora ainda não sejam capazes de perceber uma situação de risco e de se proteger. Um artigo salientou que as causas externas em crianças tendem a ocorrer principalmente no ambiente doméstico. Em relação aos adolescentes, dois artigos identificaram que os acidentes de transporte foram as causas comuns de mortalidade e a terceira em internação e afetavam principalmente o sexo masculino. Já outro artigo mostra que os acidentes de trânsito foram a segunda maior causa de mortalidade entre adolescentes, sendo que o suicídio ocupa o primeiro lugar e é mais frequente no sexo feminino. Um estudo observou que as causas externas tendem a aumentar em indivíduos acima de 15 anos e estão intimamente relacionadas com o aumento de óbitos por violência.  Em relação à violência, lesões auto infligidas e violência sexual também são causas entre a população adolescente. Os ferimentos por uso de arma de fogo foram relatados em 3 artigos e os dados mostravam que predominava entre jovens de 15-19 anos, sexo masculino e pertencente à grupos minoritários, ocorrendo em grande parte no ambiente escolar. A maior autonomia, relacionada com consumo de álcool e drogas, situações de marginalidade e bullying associavam-se às causas externas prevalentes nessa faixa etária. Considerações finais: A partir da análise da distribuição espacial das causas externas, verifica-se a influência do território e de suas características nas ocorrências de acidentes e violências envolvendo crianças e adolescentes. Dessa forma, as localidades que abrigam a maior parte das ocorrências são aquelas com maior vulnerabilidade social, habitadas por uma população mais carente e propícia ao desenvolvimento de problemas de saúde pública, e nas quais predominam famílias com relações mais instáveis e com menor renda familiar. A caracterização do perfil das vítimas permite analisar quais fatores se associam mais intimamente às ocorrências, bem como suas características. Ademais, possibilita maior visibilidade ao tema, como forma de potencializar a criação e a implementação de ações de saúde pública que visem minimizar a ocorrência de acidentes e violências com vítimas do ciclo de vida da criança e do adolescente. Deste modo, identifica-se, na população infantil, maior prevalência de queimaduras, lesões por forças mecânicas, quedas e maus-tratos como causas determinantes para as ocorrências. Em contrapartida, os acidentes de transporte, para o sexo masculino, e o suicídio, para o sexo feminino, ocupam o primeiro lugar entre as ocorrências envolvendo adolescentes. Ainda, comprova-se que o envolvimento de causas externas está intimamente relacionado ao ciclo de vida da vítima. Em relação às crianças, observa-se o predomínio de acidentes e violência relacionados ao desenvolvimento psicológico, cognitivo e motor, enquanto, no ciclo de vida do adolescente, observa-se maior vulnerabilidade aos comportamentos relacionados à busca por autonomia e à adoção de comportamentos de risco.