Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Acolhimento com escuta sensível, qualificada e classificação de risco na atenção à saúde e as Práticas Integrativas e Complementares: experiência de um programa de extensão em uma unidade acadêmica e hospital universitário
Thaís de Oliveira Pereira, Vinicius Pereira de Carvalho, Alisson dos Anjos Santos, Maria Teresa Brito Mariotti de Santana

Última alteração: 2021-12-20

Resumo


Apresentação: As Práticas Integrativas e Complementares constituem um grupo de medicinas e recursos terapêuticos por meio do qual é possível produzir cuidado em saúde humanizado, integral e resolutivo. Desde 2006, com a publicação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, essas práticas integram oficialmente a oferta de serviços disponibilizada no âmbito do Sistema Único de Saúde. A Política Nacional de Humanização, por meio de algumas de suas diretrizes, ressalta a importância do compromisso com o ser humano e sua rede de relações, de maneira interdisciplinar, integral e acolhedora, proposta consonante com o que propõem as Práticas Integrativas e Complementares. Além da utilização no interior dos espaços institucionalizados, muitas dessas práticas são parte da cultura brasileira e estão presentes em diferentes contextos de uso popular e religioso, o que se traduz na aceitação e reconhecimento social de seus princípios e metodologias. Nesse sentido, torna-se importante a adoção das Práticas Integrativas e Complementares tendo em vista a promoção de intervenções nos processos de saúde-adoecimento das comunidades. A comunidade universitária, por exemplo, em suas rotinas de atividades de ensino, pesquisa, extensão e assistência, demanda de cuidado em saúde referenciado, como meio para expansão, manutenção e obtenção da vitalidade e saúde, além da prevenção e tratamento de estados de adoecimento. Ao iniciar a formação universitária, as pessoas estão sujeitas a fatores estressores que afetam diferentes campos, como o social e mental. Sendo assim, o cotidiano da vida acadêmica-universitária de estudantes pode ser classificado como difícil, manifestando-se, com frequência, em problemas que podem definir diminuição no desempenho de estudos, dificuldade de aprendizagem, evasão escolar, entre outras adversidades. Neste trabalho, buscamos descrever a experiência do programa de extensão universitária “Cuidado Transdisciplinar do Corpo como Consciência e as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde” no acolhimento com escuta sensível, qualificada e classificação de risco na atenção à saúde de estudantes universitários, bem como no oferecimento de Práticas Integrativas e Complementares para esse público. Esse programa de extensão pertence à Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia, tendo sido registrado na Pró-Reitoria de Extensão (número de registro SIATEX/PROEXT/UFBA 13126), e estabelece interlocução com componentes curriculares e projetos de pesquisa que abordam as Práticas Integrativas, a humanização do cuidado em saúde, a saúde na universidade, entre outros temas. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um relato de experiência sistematizado. O acolhimento e cuidado com as Práticas Integrativas e Complementares ocorreram semanalmente, de outubro de 2018 a novembro de 2019, em atividades do Ambulatório Magalhães Neto do Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos e da Escola de Enfermagem (unidade acadêmica) da Universidade Federal da Bahia. Durante esse período, a Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil concedeu auxílio financeiro, através de bolsa, para as atividades, que foram realizadas nas quartas-feiras, das 07h às 13h, e sextas-feiras, das 13h às 18h. A equipe foi composta por docentes, discentes de graduação e pós-graduação, técnico-administrativos e terapeutas colaboradores. Realizou-se adesão ao delineado na Política Nacional de Humanização – HumanizaSUS e na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS. Para o desenvolvimento do acolhimento e cuidado, o fluxo organizacional definido iniciava-se com a chegada do estudante, por demanda espontânea, ao Ambulatório Magalhães Neto. Após o cadastro no Ambulatório, ocorria o acolhimento com escuta sensível, qualificada e classificação de risco, com o apoio de um formulário previamente elaborado e uma ficha de atendimento individual. Em seguida, era feito o encaminhamento para um terapeuta habilitado em Práticas Integrativas e Complementares. Na organização deste relato, participaram estudantes que realizavam o acolhimento, terapeutas responsáveis pelo cuidado e discentes que participaram do programa de extensão na condição de usuários das Práticas Integrativas. Resultados: Foi realizado atendimento e encaminhamento para Práticas Integrativas e Complementares com 131 estudantes. A equipe de profissionais relata que a adoção do acolhimento com escuta sensível, qualificada e a classificação de risco na atenção à saúde de estudantes universitários foi de grande importância no processo de cuidado em saúde, possibilitando a humanização nos atendimentos. Desse modo, percebeu-se que o acolhimento adotado é uma ferramenta que estabelece uma integração do ouvir-ver-sentir e possibilita a interlocução com a complexidade e completude humana. Ademais, proporciona uma relação de empatia e/ou aproximação entre quem fala e quem escuta, conhecendo a outra pessoa na sua totalidade humana e social, principalmente no que se refere aos fatores estressores no cotidiano da vida universitária, objeto mais enfatizado durante os momentos de diálogo. O encaminhamento para as Práticas Integrativas e Complementares foi feito de acordo com a disponibilidade e capacidade instalada de terapeutas ligados ao programa de extensão, sendo introduzido o cuidado em Aromaterapia (5 estudantes, 3,82% do total), Auriculoterapia/Auriculoacupuntura (11, 8,4%), Cromoterapia (2, 1,53%), Fitoterapia (1, 0,76%) Massoterapia (2, 1,53%), Reflexoterapia (44, 33,59%), Reiki (22, 16,79%), Tai chi chuan (3, 2,29%) e Imposição de mãos (Frequência de brilho, Jin Shin Jyutsu, Pranaterapia e Toque sutil - 7, 5,34%). Outras práticas foram aplicadas de forma associada, sendo elas: Reflexoterapia com Aromaterapia (1, 0,76%), Reflexoterapia com Cromoterapia (2, 1,53%), Reflexoterapia com Massoterapia (3, 2,29%) e Reflexoterapia com Toque sutil (1, 0,76%). A prática terapêutica destinada ao cuidado de 27 discentes (20,61%) não foi registrada. Os impactos relatados foram a resolução de dores em diferentes partes do corpo (como coluna e cabeça), a sensação de leveza e gratidão, o relaxamento e a diminuição do estresse. Considerações finais: A humanização do cuidado e uso de Práticas Integrativas e Complementares persistem como desafios na reorganização do modelo assistencial do sistema de saúde brasileiro, notadamente dominado pela biomedicina. Neste trabalho, relatamos a experiência desenvolvida com estudantes universitários a partir da realização de acolhimento com escuta sensível, qualificada e a classificação de risco e emprego de Práticas Integrativas e Complementares. Reconhecemos a necessidade de ampliação da experiência, visando a abordagem integral dos sujeitos, de modo a exercer terapia que auxilie na redução do estresse e na melhoria do desempenho acadêmico, por exemplo. Com o objetivo de ampliar o acesso da comunidade universitária da Universidade Federal da Bahia às Práticas Integrativas e Complementares, acreditamos ser importante a expansão da capacidade instalada no Ambulatório Magalhães Neto e outros ambientes em que essas práticas possam ser desenvolvidas. Além disso, reconhecemos ser necessária divulgação dos serviços oferecidos em ambientes de uso corrente nos campi, como o restaurante universitário, as bibliotecas, os pavilhões de aula, a residência universitária, o Programa de Bem-estar em Saúde Mental da UFBA - PsiU e a Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil. Consideramos também a indispensabilidade de orientação dos profissionais que atuam no serviço de atenção à saúde universitária (Serviço Médico Universitário Rubens Brasil Soares) quanto ao encaminhamento para o cuidado em Práticas Integrativas e Complementares. Recomendamos a continuidade do estudo e exposição das experiências relacionadas com esse tema, atentando para o desejo de avaliação, fortalecimento e expansão das iniciativas desenvolvidas.