Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O uso da informação como ferramenta para aprimorar o fluxo do paciente na gestão do acesso em unidades de saúde – o case do Time RegulAção
Alesandra Fridrich Gianetti, Talita Rebequi Januario, Morris Pimenta Souza, Vanessa Mendes Jesus, Vilma Rodrigues Venancio Moreira, Rosane Ghedin, Martim Elviro de Medeiros Junior, Giselle Aparecida Machado

Última alteração: 2021-12-19

Resumo


Apresentação:

Entende-se por fluxo do paciente, no que tange o sistema de saúde, a sua capacidade de prover os cuidados de saúde necessários, de forma eficiente, nas diferentes equipes, diferentes serviços e pelos diferentes níveis de atenção. Não se trata de analisar quais decisões clínicas são tomadas, mas sim sobre como, onde, quando e por quem o cuidado é realizado, pois isso é igualmente determinante para o desfecho.

Um dos requisitos para se realizar uma boa gestão do fluxo do paciente é a necessidade de gerenciá-lo baseado em informações estatísticas e evidências sólidas.

Considerando que os instrumentos regulatórios formais e as regras de fluxo na rede são atribuições do gestor público, cabe às unidades de saúde operacionalizar tais fluxos de forma a buscar garantir a máxima eficiência. O Município de São Paulo organizou seus processos de encaminhamento para exames, procedimentos e consultas ambulatoriais por meio da ação de um complexo regulador, com critérios de utilização das diferentes ofertas e organização de filas de espera, prioritárias ou não, gerenciadas por meio de seu sistema eletrônico SIGA-SAÚDE.

A APS Santa Marcelina, OSS contratualizada para gestão de 5 STS na região Leste da cidade de São Paulo, estabeleceu como forma de otimizar os fluxos assistenciais advindos desses encaminhamentos o chamado Time RegulAção. Tal estratégia ocorre sob coordenação de um time central institucional, e compreende uma ação em cada uma das unidades contratualizadas cujo objetivo é monitorar os encaminhamentos realizados para a atenção especializada, qualificando o processo. Os ganhos dessa ação passam tanto pela adequação da fila por meio de um olhar crítico sobre a qualidade dos encaminhamentos realizados e sua adequação ao protocolo, bem como quanto ao processo de educação permanente advindo das discussões sobre encaminhamentos responsáveis e compatíveis com as necessidades dos usuários.

Esse trabalho é um relato de caso da construção de painéis de informação para gerenciamento de fluxo de encaminhamentos pelo Time RegulAção, sua aplicabilidade e resultados.

Desenvolvimento do trabalho:

Um desafio para a implantação de qualquer processo de gerenciamento de ofertas e de fluxo é prover informações para as equipes de forma clara, e gerencialmente aplicada.

A prefeitura utiliza as plataformas SIGA-SAUDE e/ou SIGA-PEP para municiar as unidades com relatórios onde é possível verificar o estágio atual das diferentes filas existentes. No entanto, seu formato é pouco amigável, e não privilegia dimensões de fluxo e de eficiência de uso das ofertas, restringindo sua aplicação ao quantitativo de pacientes que persistem nas diferentes filas, ainda assim em formato de planilha de difícil manuseio.

Assim, para a implantação dos trabalhos do time, foi necessária a criação de um painel de informações dinâmico, capaz de entregar o status atual das diferentes ofertas e suas filas, bem como, o histórico de entradas e saídas, permitindo gerenciar não apenas a fila, mas o padrão de entradas e saídas e saldos. Um desafio nesse sentido, foi a inexistência de uma API (acrônimo em inglês que significa interface de programação de aplicações) que permita a interoperabilidade do banco de dados do SIGA-SAUDE e/ou SIGA-PEP com outras aplicações gerenciadoras de informação.

Para contornar tal situação e permitir um melhor gerenciamento do fluxo de encaminhamentos, o Time RegulAção da APS Santa Marcelina propôs a construção de painéis dinâmicos, que foram desenvolvidos pelo setor de informação em saúde, em formato de um BI, construído por meio do software Microsoft Power BI. Foram desenhados 11 relatórios dispostos em 2 conjuntos de painéis que permitem uma avaliação estática da fila atual e uma avaliação longitudinal da fila de espera e da fila do regulador, permitindo perceber nuances dessa fila, tais como volume de encaminhamentos, produção de gargalos por descompasso entre solicitações e saídas, identificação de maiores encaminhadores, tempo de espera em fila por especialidade e procedimento no formato de escala KanBan, inconsistências de diagnóstico CID-10 frente aos protocolos, entre outros aspectos. Tais avanços permitem um gerenciamento da regulação local da assistência e do fluxo do paciente em rede a outro patamar, subsidiando as reuniões do Time RegulAção com vistas à construção de planos de ação que intencionam ampliar o acesso às diferentes ofertas da rede.

Resultados e/ou impactos:

Os painéis de informação subsidiam rotineiramente o funcionamento dos times locais de regulação bem como os diferentes setores da coordenação da APS Santa Marcelina propiciando um monitoramento do acesso, localização de desvios de utilização que necessitam de processos educativos ou de alinhamento profissional, o que no limite produziu ganho de eficiência no uso racional das ofertas disponibilizadas pelo município.

A implantação de tais painéis contribuiu para os resultados do Time RegulAção em nível da APS Santa Marcelina, dentre os quais citamos uma redução de 42% das filas, correspondendo a resolução de mais de 120 mil pacientes. Essas resoluções transitaram principalmente nas causas: qualificação do encaminhamento que propiciou o acesso em si, reconhecimento de erros de encaminhamento por inadequação aos protocolos, duplicidade de especialidades ou exames, obtenção do acesso solicitado por outros meios ou não localização do usuário após múltiplas tentativas de contato.

Considerações Finais

Gerir o fluxo do paciente em rede permanece um desafio real para as unidades de saúde no contexto do SUS. Estratégias como a do time RegulAção, aliado ao uso apropriado de ferramentas de tecnologia, favorecem a construção de instâncias locais de discussão de acesso com grande potencial de qualificar a atenção à saúde em rede. Municiar tais espaços com informação adequada e gerencialmente aplicada permite levar a discussão técnica a um outro patamar com potenciais ganhos para as equipes e para os usuários, reafirmando a integralidade real conquistada por um tempo mais oportuno para a utilização das ofertas solicitadas.