Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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FREQUENCIA E FATORES ASSOCIADOS À VIOLENCIA DE REPETIÇÃO CONTRA MULHERES: ANALISE DAS NOTIFICAÇÕES
Marieli Thomazini Piske Garcia, Marcia Regina de Oliveira Pedroso, Gabriela Ravete Cavalcante, Elisa Aparecida Gomes de Souza, Franciéle Marabotti Costa Leite

Última alteração: 2022-02-17

Resumo


Apresentação: A violência é um fenômeno que acompanha a humanidade desde os seus primórdios, sendo atualmente um dos principais desafios enfrentados pela sociedade, sobretudo no Brasil. Esse agravo, segundo a Organização Mundial da Saúde constitui “o uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação”. Esse fenômeno é um agravo de saúde pública pois acarreta danos à saúde individual e/ou coletiva, levando a prejuízos na qualidade de vida e nas condições de saúde da população, desse modo há a necessidade de se propor medidas que contenham esse ato na sociedade. Constitui-se como um fenômeno da ordem social cujas manifestações provocam ou são provocadas por uma forte carga emocional de quem a comete, de quem a sofre e de quem a presencia. Vale destacar que vem sendo cada vez mais associado à violência contra a mulher: o histórico de repetição do abuso. A violência de repetição tende a acontecer mais frequentemente de forma intrafamiliar, cotidiana e com tendência a aumentar progressivamente o nível de gravidade. Uma importante estratégia de saúde pública para esse enfrentamento é a notificação da violência, visto que os dados gerados a partir desse sistema contribuem não apenas para o dimensionamento do agravo e o entendimento de seus fatores associados, mas também são capazes de subsidiar a gestão pública na definição de prioridades no cuidado e na implementação de políticas públicas de vigilância e assistência às vítimas. Para que ocorra a comunicação adequada da ocorrência de doenças e agravos, existe a notificação compulsória, que as reúne de forma sistematizada e exige que o profissional de saúde realize este procedimento, sendo a principal fonte de informações da vigilância epidemiológica. Dessa forma, a notificação compulsória é constituída como uma aliada para acompanhar a distribuição, tendências e características do evento estudado. A falta de notificação pode denunciar também a falha do sistema de defesa e proteção, contribuindo para a ocorrência silenciosa desses agravos. Concorrem também para a subnotificação o despreparo dos profissionais de saúde para identificação, enfrentamento e acompanhamento dos casos aliado ao desconhecimento desses quanto à rede de atendimento e às políticas de proteção a essa população. Estudar a violência de repetição contra mulher é uma importante forma de contribuir para diminuir a invisibilidade desta realidade vivenciada por inúmeras mulheres. Objetivo: Identificar a frequência e fatores associados de violência recorrente contra o sexo feminino no Espírito Santo, no período de 2011 a 2018. Desenvolvimento: Trata-se de um estudo transversal realizado com dados de notificação de violência do estado do Espírito Santo (ES). A população em estudo são todos os casos notificados de violência contra o sexo feminino no Espírito Santo no período de 2011 a 2018. O banco de dados para a realização desta pesquisa foi o Sistema de Informação de Agravos de Notificação, através da Ficha de Notificação/Investigação de Violência Interpessoal e Autoprovocada. Esta ficha é dividida em dez blocos onde são registrados o perfil da vítima e do autor da agressão, as características da violência e as ações e encaminhamentos realizados pelo serviço que prestou atendimento. Antes da análise, o banco de dados foi qualificado para correção de possíveis erros e inconsistências, conforme orientação do Ministério da Saúde. Os casos que apresentavam dados em branco ou ignorados foram excluídos das análises. A análise aconteceu no Programa Stata 14.1. Foram calculadas frequências relativas e absolutas das variáveis, e, na análise bivariada feito o teste Qui-Quadrado de Pearson. A análise multivariada foi realizada por meio da Regressão de Poisson com variância robusta e os resultados foram expressos por meio das Razões de Prevalência (RP). Variáveis que atingiram valor de p menor que 0,20 na análise bivariada entraram no modelo multivariado, exceto a variável encaminhamento já que este é um evento posterior à violência. O modelo hierárquico, adotado foi o hierárquico onde foram inseridas no primeiro nível as variáveis que representavam características da vítima e em um segundo nível, aquelas relacionadas ao agressor e à agressão. A permanência da variável no modelo se deu quando ela atingia um valor de p menor que 0,05. O presente estudo foi aprovado pelo comitê de Ética e Pesquisa Resultados: No período de 2011 a 2018 a frequência de recorrência de violência no sexo feminino, com 58,9% (IC95%: 58,2-59,5). Percebe-se que o grupo feminino de 60 anos ou mais tem cerca de 1,26 vezes mais prevalência de ser vítima de violência recorrente quando comparado ao grupo de 10 a 19 anos. Vítimas com deficiência apresentaram 32% mais prevalência de recorrência quando comparado ao grupo sem deficiência. A ocorrência de violência recorrente no sexo feminino foi 8% mais prevalente em área urbana, sendo mais frequente agressores de 25 anos ou mais (RP: 1,07; IC95%: 1,03-1,11), e, do sexo masculino (RP: 1,37; IC9%%: 1,28-1,46). A violência recorrente foi 3,28 vezes mais cometida por perpetradores conhecidos, e, agressor único (RP: 1,24). As notificações de violência recorrente foram 55% mais prevalentes na residência. Considerações finais: A violência é um grave problema de saúde pública e quando acomete o individuo sucessivas vezes pode impactar mais gravemente na sua vida. A violência de repetição apresenta elevada magnitude e está associada às características da vítima, do agressor e da ocorrência. Importante ponderar que os resultados demonstram a importância dos profissionais de saúde no rastreio desse agravo considerando não apenas a sua magnitude, mas a sua gravidade e impacto na saúde de suas vítimas. Assim, os profissionais de saúde devem ser capacitados para identificarem os sinais e sintomas desse agravo, bem como, a promoção de sua notificação e inserção da vítima na rede de proteção, bem como, qualificados para o monitoramento e acompanhamento das vítimas. Por fim, o combate a violência de forma multiprofissional é de suma importância para melhor promoção da qualidade de vida e segurança do indivíduo ao seu direito à saúde, à vida, à liberdade e à segurança, considerando que esse fenômeno é complexo e multicausal e que somente a saúde não consegue dar conta de toda essa complexidade.

Palavras-chaves: Violência; Reincidência; Violência contra mulher; Notificação de abuso