Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Formação integrada em saúde: a preceptoria como fonte de articulação ensino-saúde e comunidade na Estratégia de Saúde da Família de Cabanas – Mariana – MG
Naiara Alvares de Oliveira, Adriana Maria de Figueiredo

Última alteração: 2022-01-04

Resumo


Apresentação: A união da teoria com a prática alcança um novo patamar com a implantação das novas diretrizes curriculares dos cursos de saúde e consolidam a parceria com a rede de saúde na formação. Nesta mudança se consolida a potência do profissional de saúde que, com sua prática, compartilha seu conhecimento e assim, ensina como fazer o trabalho em saúde. Com os objetivos principais de identificar os processos formativos da Estratégia Saúde da Família (ESF) de Cabanas (Mariana – MG) e avaliar o significado atribuído ao exercício da preceptoria pelos profissionais, se desenvolve este trabalho, fruto do Mestrado Profissional em Saúde da Família da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), oferecido em rede liderada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e localmente pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).  Desenvolvimento do trabalho: O método escolhido foi uma pesquisa qualitativa descritiva que se iniciou com a realização de entrevistas com todos os profissionais da unidade, que estão envolvidos nos processos formativos do território e se desdobrará na análise documental dos contratos firmados entre ensino-gestão que contemplem a ESF Cabanas, assim como produtos resultantes dos processos formativos. A investigação se encontra em desenvolvimento, sendo aqui apresentados os resultados do perfil dos profissionais obtidos na primeira parte da entrevista com todos os que atuam nestes processos. A formação em saúde é contemplada por quatro eixos representados pela atenção-comunidade-gestão e universidade. A ESF representa a atenção, uma vez que está presente no processo de trabalho com os usuários e os estudantes em diversos níveis de formação. A análise deste primeiro eixo é enfocada nesta etapa da pesquisa que ora se apresenta. O foco foi o entendimento da composição e características da força de trabalho em saúde no exercício da preceptoria. Este se mostra através da contribuição da ESF Cabanas nas disciplinas Práticas em Saúde I, II e III do curso de Medicina da UFOP, assim como o exercício da preceptoria no PET-Saúde nas suas várias edições. Esses processos estão sofrendo mudanças com as novas demandas dos alunos, que trazem processos reflexivos bem mais estruturados, assim como uma necessidade de aprofundamento teórico para conseguir atender a formação na graduação de uma maneira que atenda às atuais demandas do Sistema único de Saúde. Para tal foi levantado o perfil de todos os profissionais da ESF em contraste com as ações de formação conduzidas na unidade. Resultados e/ou impactos: Foram obtidas 14 respostas de um total de 21 profissionais. Em relação à formação, a maioria dos respondentes (68,8%) é de nível superior, caracterizando a multiprofissionalidade da equipe composta por médicos, enfermeiros, nutricionistas, odontólogos, farmacêutico e fisioterapeuta; 25% correspondem a agentes comunitários de saúde e 4% a técnicos de enfermagem. Desta forma a ESF é do tipo ampliada, com um conjunto de profissionais maior do que a equipe mínima preconizada pela Política Nacional de Atenção Básica (PNAB). Grande parte, 80% só trabalha na ESF Cabanas e os demais, 20% em outras unidades também. Porém, 73% dos respondentes relatou que não acompanha processos de formação, 26% que acompanham processos em outras unidades. Apenas três profissionais participantes da pesquisa atuam como preceptores dos cursos de Medicina e Nutrição da UFOP e Odontologia da UNI-BH. Sendo assim, mesmo a ESF se constituindo como campo de prática de disciplinas curriculares, o exercício da preceptoria é restrito a alguns dos profissionais apenas. O termo “preceptor”, embora esteja em processo de consolidação, é caracterizado como todo profissional de nível superior que recebe estudantes nos cenários de práticas, assim como participa das atividades de formação no território de abrangência. A equipe multiprofissional é bastante relevante nos processos de educação permanente. Cabe-se ressaltar o papel dos ACS que colaboram com a vivência da realidade local. Entretanto, todo o planejamento das atividades educativas passa por algum membro da equipe de nível superior. Em Cabanas, os respondentes não demonstram pertencimento a categoria “preceptor”, tendo em vista as respostas apontadas. Adicionalmente, 18% responderam que participaram em atividades como preceptor, 37,5% em grupos operativos, 18% em projetos de saúde com a escola; 6,3% no PET-Saúde e 43,8% disseram não ter participado de nenhuma atividade. A maioria não conseguiu identificar alguma atividade de saúde relacionada a processos formativos desenvolvidos na ESF. Das que foram citadas: 12% mencionaram grupos operativos e 6% Programa Saúde na Escola. Outra característica da equipe que foi traçada pode explicar parcialmente esta percepção. Muitos profissionais não tiveram a oportunidade de acompanhar os processos de formação, ainda mais nos últimos dois anos, com os impactos sofridos pelo ensino remoto emergencial em curso na UFOP por causa da emergência sanitária causada pela COVID-19. Parte dos profissionais – em especial de nível superior - 12% estão na ESF de 1 a 5 anos e 25% a menos de 1 ano. Mesmo que 62% dos respondentes afirmem trabalhar na ESF de 5 a 10 anos.  Por fim, interrogados sobre a relação da rede de saúde com a UFOP, 56% a avaliam como muito boa; 25% como boa, 12,5% como excelente 6,3% como ruim. Sobre a relação da gestão com a ESF nos processos de formação 68,8% avaliam como muito boa 25% como boa e 6,3% como ruim. E sobre a participação da comunidade na formação em saúde 68,8% avaliaram como boa, 12,5% como muito boa e 18,8% como ruim. Dados que remetem a uma potencialidade da ESF Cabanas como um ótimo campo de aprendizagem do ponto de vista da gestão. Considerações finais: Uma equipe de saúde que preza pela atenção centrada no paciente e estudante em formação pode fortalecer a troca de experiências qualificadas, assim como garantir melhorias significativas nos processos de trabalho da unidade de saúde. Todas as contribuições dos estudantes, seja do PET-Saúde ou seja da graduação, podem ser muito válidas para o serviço, uma vez que o olhar do outro consegue captar nuances que a própria equipe de trabalho não consegue atentar para alguns nós críticos. E uma equipe fortalecida consegue trabalhar de forma colaborativa, criando uma identidade interprofissional. A pesquisa mostrou que, este campo de prática em potencial, carece justamente da clarificação, entre seus profissionais, do papel e do exercício da preceptoria, elemento crucial do processo de transformação em curso.