Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Educação em saúde com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade: avanços e desafios do Projeto Pensa, Imagina, Inventa! no primeiro ano da pandemia de Covid-19
Marcos Antônio Albuquerque de Senna, Gabriela Bittencourt Gonzales Mosegui, Andréa Neiva da Silva, Ândrea Cardoso de Souza, Mônica Villela Gouvêa, Ana del Carmen Pérez Bastias, Mauara Scorsatto, Deison Alencar Lucietto

Última alteração: 2022-01-12

Resumo


Introdução

O projeto de extensão “Pensa, Imagina, Inventa! Cocriação e compartilhamento de sabres e tecnologias sustentáveis em promoção da saúde” (PII!), vinculado ao Instituto de Saúde Coletiva e à Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal Fluminense (PROEX-UFF), visa promover saúde para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.

Trata-se de projeto multimetodológico estruturado em cinco eixos de complexidade crescente, cada qual com objetivos e operacionalização específica. Oferecido como atividade complementar para estudantes de diferentes cursos da área da saúde, é desenvolvido no Solar Meninos de Luz, instituição filantrópica que atua há 29 anos na educação integral de 430 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e em espaços sociais das comunidades do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, na zona sul do município do Rio de Janeiro/RJ.

A equipe executora é formada por docentes da UFF, além de voluntários externos com formações diversas. Alguns residem em outros estados do Brasil e colaboram através de participações via Internet.

Considerando o exposto, este trabalho tem por objetivo relatar avanços e dificuldades no desenvolvimento de ações de educação em saúde com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, a partir da perspectiva da equipe executora do Projeto de Extensão “Pensa, imagina, inventa!”, no primeiro ano da pandemia de Covid-19.

Atividades de educação em saúde desenvolvidas no primeiro ano da pandemia de Covid-19: avanços e desafios

O planejamento das atividades para 2020 previa a realização de ações de educação em saúde com todas as turmas do Solar Meninos de Luz, bem como através de intervenções em espaços sociais do território. Contudo, em função da pandemia de Covid-19 e da adoção de medidas de controle sanitário, foi necessária ampla reorganização.

Após reuniões com a instituição parceira e com a equipe, optamos por realizar dois grandes grupos de intervenções a partir do mês de agosto: primeiro, a reaproximação com os escolares (havia mais de seis meses sem contato); depois, compartilhamento de materiais de educação em saúde.

Para tanto, dividimos os participantes por grupos de intervenções (as “missões” do projeto). Também criamos um grupo de Whats App entre coordenadores do Solar Meninos de Luz e a coordenação do projeto, de modo que os materiais produzidos pudessem chegar aos públicos-alvo, via plataforma de ensino e aplicativos de mensagem internos da instituição.

Uma vez definidos os fluxos, passamos à criação de materiais para o primeiro grupo de intervenções: iniciamos com os “Murais de recados para os escolares”, relembrando momentos agradáveis vivenciados antes da pandemia. Após esse “reencontro”, passamos à escrita de “Cartas com SAUdaDE”, com o propósito de estreitar vínculos e fornecer orientações sobre saúde e bem-estar. Finda a fase de reaproximação, passamos à produção dos chamados “conteúdos digitais de educação em saúde”.

O primeiro elaborado foi a “Apostila digital de educação em saúde” direcionada para as crianças, com desenhos para colorir em dispositivos eletrônicos. Na sequência, passamos à criação de flash cards (materiais com informações breves, simples e atrativas de compartilhamento via redes sociais) sobre 13 assuntos como: “Autocuidado”; “Corpo humano”; “Saúde do adolescente”; “Alimentação”; “Higiene dos alimentos”; “Coronavírus” “Prevenção do câncer de mama”; “Prevenção do câncer de próstata”; “SUS”; “Direitos e deveres no SUS”, dentre outros.

Além disso, produzimos dois podcasts (sobre alimentação e autocuidado) e dois vídeos (sobre alimentação e SUS), além de uma animação sobre a importância da alimentação e da higiene para a saúde (voltada ao público infantil).  À medida que finalizados, os conteúdos digitais foram disponibilizados para a instituição e compartilhados via redes sociais do projeto no Instagram (@projeto.pensa.imagina.inventa), no Spotify (Pensa, Imagina, Fala!) e no YouTube (Projeto Pensa, Imagina, Inventa!). Todas as criações foram elaboradas por cerca de 20 estudantes com atuação contínua (outros de modo pontual), divididos nas diferentes “missões”, com supervisão docente.

Dentre os avanços identificados, observamos que, mesmo de forma remota, as atividades possibilitaram a manutenção do senso de equipe e a continuidade do projeto num momento tão difícil, com perdas de familiares/amigos, dificuldades nos relacionamentos e aumento de problemas de saúde mental.

De modo análogo, entendemos ter conseguido manter o diálogo e o vínculo com a comunidade escolar. Para tanto, o levantamento prévio sobre disponibilidade de eletrônicos e acesso à Internet e a organização de fluxos de comunicação com a instituição foram fundamentais.

Também destacamos o envolvimento, protagonismo, criatividade e autonomia dos envolvidos. Em cada tipo de produção, havia a designação de um(a) líder (chamado de “comandante”), responsável pelo acompanhamento de seus pares (os “tripulantes”) e interlocução com os docentes. Acreditamos que as possibilidades de aprendizagem diversas daquelas tradicionalmente ofertadas na área da saúde, associados à liberdade para a proposição/criação tenham sido fundamentais nesse sentido.

Os conteúdos digitais criados potencializaram a capilaridade do nosso projeto na comunidade e alcançaram públicos de diferentes regiões do país, através de compartilhamento via redes sociais. Dessa forma, observamos o aumento dos alcances da universidade, o que reforça a importância das ações de extensão universitária.

Por outro lado, dentre os desafios vivenciados, destacamos os problemas enfrentados por integrantes em relação à disponibilidade de equipamentos eletrônicos, acesso à Internet e sobrecarga de atividades, quando do retorno remoto das aulas na UFF. As novas demandas decorrentes de atividades e do manuseio dos ambientes virtuais de aprendizagem limitaram o tempo disponível para as atividades como a extensão.

Também tivemos dificuldade para localizar estudantes dispostos a participar de “missões” para gravar vídeos educativos. Mesmo sabendo que não conseguiríamos produzir todos os vídeos planejados, não renunciamos ao princípio da livre adesão: são os estudantes que decidem em que atividade, quando e como preferem participar no PII!.

Outro desafio foi o desconhecimento sobre o manuseio de plataformas de vídeo, de áudio e de programas de edição/diagramação de imagens/conteúdos para a produção dos flashcards, podcasts e vídeos. Entretanto, graças à oferta crescente de tutoriais na Internet e à dedicação dos participantes, em pouco tempo o grupo estava familiarizado com as novas tecnologias, facultando nosso avanço.

Por fim, salientamos que um grande desafio foi a transposição de uma prática comunitária para o formato remoto. Muitos estudantes sentiram-se desmotivados a participar sem o contato presencial com as crianças e adolescentes. Esse distanciamento impossibilitou acolhimentos, trocas de olhares, sorrisos, abraços e circulação de afeto, comumente observados nas atividades convencionais. Aliado a isso, supomos que questões individuais ligadas à saúde mental de alguns também tenham influenciado na adesão, pois no ano anterior à pandemia mais de 60 estudantes haviam participado de uma ação.

Mesmo diante das dificuldades e sem avaliações in loco, recebemos feedback positivo da instituição: os conteúdos digitais foram bem recebidos pela comunidade, sendo elogiados pelo cuidado, linguagem, layout e utilidade. Também recebemos uma homenagem na “Semana da Gratidão”, promovida pelo Solar Meninos de Luz e divulgada em perfil do Instagram em 17/09/2020.

Considerações finais

O oferecimento do Projeto PII! em formato remoto no primeiro ano da pandemia de Covid-19, embora não livre de dificuldades pessoais/operacionais, se revelou potente para o compartilhamento de saberes, cocriação dos materiais educativos em saúde, estímulo à criatividade, autonomia, comprometimento, responsabilização, solidariedade e trabalho em equipe entre os participantes.

Mesmo sabendo dos prejuízos da falta de interação presencial entre estudantes e comunidade nas ações de educação em saúde, observamos o aprimoramento de saberes e habilidades técnicas, humanísticas e sociais, indispensáveis na formação dos profissionais de saúde, mesmo num contexto de emergência em saúde pública.