Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
RELAÇÃO ENTRE AS VARIÁVEIS SOCIOECONÔMICAS E A FRAGILIDADE EM IDOSOS RESIDENTES NA COMUNIDADE
Elaine Santos da Silva, Denise Lima Magalhães, Denise Lima Magalhães, Marisa Silvana Zazzetta, Marisa Silvana Zazzetta

Última alteração: 2022-01-12

Resumo


Apresentação: o crescimento da expectativa de vida está aliado a melhores condições do desenvolvimento humano, no entanto, os países em desenvolvimento, o processo do envelhecimento acontece de maneira mais desordenada, como fruto das desigualdades sociais. O Brasil há dificuldades e necessidades básicas de infraestrutura social e acesso aos serviços e equipamentos públicos básicos, sendo que há sérias diferenças de gênero, qualidade de vida, suporte familiar, renda, trabalho, educação e outros direitos que devem ser garantidos para que o indivíduo alcance uma vida saudável, sustentável e equânime. As questões socioeconômicas podem influenciar na saúde das pessoas como um todo, e na velhice não é diferente. A má distribuição de renda no Brasil, por exemplo, influencia diretamente nos desfechos em saúde, uma vez que em geral pessoas com baixos níveis econômicos são mais propensos a adotarem comportamentos que são mais prejudiciais à saúde e estão associados à ocorrência de doenças e incapacidades. Nesse sentido, como consequências da transição demográfica e epidemiológica a fragilidade tem se tornado uma epidemia que afeta as pessoas idosas tanto em países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Na população idosa, os indivíduos frágeis são os que mais necessitam de acesso e cuidado de saúde, assim, nessa perspectiva, a fragilidade pode ser utilizada como um potencial organizador de gerenciamento da saúde do idoso. Dessa forma, objetivo deste estudo é analisar a relação entre as variáveis sociodemográficas e econômicas com a fragilidade em idosos residentes na comunidade. Desenvolvimento: tratou-se de um estudo longitudinal prospectivo, exploratório de caráter quantitativo. Essa pesquisa analisou as relações entre variáveis com resultados provenientes de dois períodos de coleta de dados, sendo que o primeiro realizado de fevereiro à agosto de 2015, e o segundo, realizado de março a agosto de 2018. O presente estudo derivou da pesquisa “Ferramenta de Monitoramento de Níveis de Fragilidade em Idosos Atendidos na Atenção Básica de Saúde: Avaliação de sua Efetividade e Eficiência”. A pesquisa foi realizada em cinco Unidades de Saúde da Família (Aracy I, Aracy II, Presidente Collor, Antenor Garcia e Petrilli Filho) localizadas na área de abrangência da Administração Regional de Saúde (ARES) “Cidade Aracy” da cidade de São Carlos, São Paulo. Segundo dados provenientes da Secretaria de Saúde do município, no mês de julho de 2014, as Unidades contavam com 852 pessoas, com 60 anos ou mais cadastradas. Essa amostra foi composta por 341 indivíduos selecionados dos 852 idosos cadastrados nas unidades e possíveis participantes. Ela foi randomizada de maneira estratificada — também de acordo com sexo (feminino e masculino) — em faixas etárias assim divididas: 60-69, 70-79, 80-< ; gerando uma lista de selecionados e, ao mesmo tempo uma lista-reserva para repor falecidos, recusas e não encontrados. Dos 852 elegíveis e listados, foram excluídos da análise 506, devido: não aceitarem participar da pesquisa; mudaram de endereço ou não foi possível localiza-lo, endereço fora da área de abrangência, não se encontravam em casa após 3 tentativas, haviam falecido, não eram idosos e dados duplicados. Logo, foram avaliados em seus domicílios 346 idosos. Para a segunda etapa (2018) partiu-se dessa amostra de 346 idosos que participaram da primeira avaliação em 2015. Destes, 83 não foram encontrados após 3 tentativas ou não foram localizados, o que resultou em 263 idosos que foram convidados a participarem novamente do estudo, no entanto 8 se recusaram, 31 foram à óbito e 1 não foi avaliado por outro motivo. Portanto, a amostra final de 2018 foi composta por 223 idosos. Os dados foram coletados nos anos de 2015 e 2018, por agentes comunitários de saúde e discentes da graduação de pós-graduação do curso de gerontologia da UFSCar. A coleta ocorreu mediante a entrevistas previamente agendadas no domicílio do particoante, com duração média de uma hora. A análise longitudinal de mudanças no desfecho primário ao longo do tempo foi realizada por meio de modelagem linear com efeitos mistos, considerando como variável dependente os valores da pontuação na EFE em 2018 e incorporando a variabilidade existente de cada indivíduo nos modelos (efeito aleatório). O processo de modelagem incluiu variáveis sociodemográficas, fatores econômicos e qualidade de vida idade, além da pontuação na EFE na primeira avaliação como efeitos fixos. A significância estatística foi avaliada com um valor de p bilateral <0,05. Todas as análises foram conduzidas usando R versão 3.5.3 (The R Foundation for Statistical Computing, Viena, Áustria) em R-Studio 1.1.463 (RStudio Inc., Boston, EUA). A pesquisa foi aprovada por um Comitê de Ética em Pesquisa, Parecer No 2.424.616/2017, CAAE: 66076017.3.0000.5504. Resultados: a maioria dos indivíduos era do sexo feminino (57.4%), com mediana de 68 anos [1º – 3º quartil; 64 – 74] anos, com algum grau de escolaridade (69.1%). A maioria desses indivíduos relatou não morar sozinho (85.2%), sendo que mais da metade referiu estado civil casado (63.2%). No início do estudo haviam 59 (26.5%) indivíduos classificados como frágeis de acordo com a EFE, enquanto 73 (40.8%) eram vulneráveis ​​e 91 (32.7%) não frágeis. A maioria dos indivíduos relatou que não possui emprego (70.9%), mas recebe algum tipo de benefício previdenciário – aposentadoria ou pensão (81.6%). No geral, a mediana de renda por pessoa na casa é de R$ 724,00 [R$ 450,00 – R$ 1000,00], o que uma discreta maioria (53.8%) julga como suficiente para as necessidades familiares. Na avaliação inicial, a renda per decresce à medida que ocorre a progressão da classificação de fragilidade em direção ao estado vulnerável, sem haver diferença significante entre o estado vulnerável e frágil. Esta relação persistiu entre as avaliações, porém nota-se que na avaliação de seguimento há uma menor inclinação na queda da renda per capta entre os indivíduos classificados como não frágeis e os vulneráveis. As variáveis sociodemográficas “sexo masculino” e “idade (anos)” apresentaram associação estatisticamente significante com a pontuação média da Escala de Fragilidade de Edmonton, as variáveis econômicas “possuir trabalho atual” e “renda per capta” também apresentaram associação estatisticamente significante com a pontuação média. Os dados mostraram que mostra que exceto pela variável econômica “possuir trabalho atual”, todas as demais variáveis mantiveram sua associação estatisticamente significante com a pontuação média da Escala de Fragilidade de Edmonton, a despeito da manutenção da significância temporal. Considerações finais: os resultados deste estudo apontam que as variáveis presentes nos antecedentes da fragilidade, especialmente as variáveis sociodemográficas, como arranjo familiar (morar só; viuvez), diminuição do apoio social, baixa escolaridade, baixa renda, sexo feminino, idade avançada, são preditores que merecem maior atenção para que as consequências da fragilidade nos idosos sejam evitadas. Como consequência, destaca-se a incapacidade funcional, quedas, risco de desenvolvimento de maiores complicações cirúrgicas, diminuição da qualidade de vida, aumento do número de hospitalizações e do número de consultas médicas, consequentemente o aumento da mortalidade. Portanto, discutir as peculiaridades do envelhecimento torna-se relevante e envolve uma série de fundamentos, pesquisas e diálogos com a literatura que permitam refletir sobre o melhor cuidado a pessoa idosa, em uma rede interligada de fatores individuais, comunitários, biopsicossociais, socioeconômicos, físicos e estruturais.