Apresentação: A violência sexual consiste no ato sexual ou na tentativa de obter o ato por meio de comentários ou investidas indesejadas. Pode ser realizada por qualquer pessoa, independente da relação com a vítima e em qualquer ambiente e, pressupõe relações de poder assimétricas entre o violentador e a vítima. Geralmente, é acompanhada de chantagens e ameaças que provocam medo, culpa e vergonha na vítima, implicando no silenciamento e na dificuldade em pedir ajuda. Desse modo, a violência sexual - assim como outros tipos de violência -, impacta a vida das pessoas envolvidas em seu ciclo de diversas formas. Por isso, e devido a sua grande prevalência, é considerada um grave problema de saúde pública. Assim, torna-se indispensável que os profissionais que trabalham o tema estejam preparados para reconhecer casos e produzir um cuidado integral às vítimas, o que pressupõem a articulação de serviços de diferentes setores, como saúde, assistência social, judiciário e segurança pública. Para isso, é necessário que os profissionais da estejam em constante processo de formação e qualificação. Este é o relato de um projeto de extensão que teve como objetivo fortalecer a rede de serviços de proteção a vítimas de violência sexual de um município mineiro. Desenvolvimento do trabalho: O projeto aqui relatado foi proposto por um serviço especializado no atendimento a vítimas de violência sexual, vinculado a um hospital universitário. O serviço tem entre seus objetivos, a formação de profissionais que atuam – ou atuarão -, com vítimas de violência e o fortalecimento da rede intersetorial de serviços. Com este foco foi criado o projeto de extensão “Educação permanente para o cuidado integral a pessoas em situação de violência sexual”, vinculado ao Núcleo de Atenção Integral às Vítimas de Agressão Sexual (Nuavidas), que pretendeu, através de encontros com especialistas, promover discussões sobre temas correlatos à violência sexual. Em virtude das medidas de isolamento e distanciamento social decorrente da pandemia de COVID-19, o projeto ocorreu de forma remota, através de encontros mensais transmitidos ao vivo por uma plataforma de compartilhamento de vídeos. Os encontros, que ocorreram entre março e dezembro de 2021, tiveram duração média de duas horas e sempre contavam com a participação de um membro da equipe coordenadora do projeto e um ou mais convidados. O projeto teve financiamento da Pró Reitoria de Extensão da universidade através do pagamento de uma bolsa para um discente e contou com a participação de mais duas estudantes voluntárias, que auxiliaram na preparação e organização da plataforma. Resultados e/ou impactos: Ao longo do projeto foram realizados oito encontros, em que temas como composição e dinâmica da rede de atenção, desafios para o cuidado da violência sexual, gênero e segurança pública, educação para a sexualidade, escuta especializada, impactos da violência sexual na saúde mental, aborto legal no Brasil, direito à sigilo e produção de provas, o papel do Sistema Único de Assistência Social na rede intersetorial e o ensino e aprendizagem sobre violência sexual foram abordados. O diálogo entre os convidados e o público era mediado e assim, as perguntas feitas pelo chat podiam ser respondidas e, muitas vezes, conduziram o rumo das conversas. Os profissionais dos serviços que atendem vítimas de violência sexual do município sede do projeto foram convidados através de ofícios e mensagens compartilhadas por aplicativo de comunicação. Para aumentar a divulgação e o alcance dos encontros, os discentes investiram em publicações em outra rede social, estratégia importante para divulgar o projeto e fortalecer o engajamento da proposta de formação continuada, tanto para o município quanto para outras localidades. A divulgação de todos os encontros apresentou uma linguagem e identidade visual semelhantes e, para isso, optou-se por cartela de cores já utilizada em rede social do Nuavidas, o que possibilitou maior visibilidade do núcleo e engajamento nas redes sociais. Entre estudantes e profissionais, participaram em média, 80 pessoas de forma síncrona das transmissões. Mas, como os vídeos ficam gravados e disponíveis para acesso, muitas visualizações ocorreram posteriormente. Em menos de 10 meses, o canal criado na plataforma de compartilhamento de vídeo para armazenar o conteúdo do projeto, atingiu mais de três mil visualizações, e cerca de 500 inscritos. Além disso, também houve um aumento de mais de 1200 seguidores desde o início do projeto na outra rede social que o Nuavidas mantêm, deixando clara a visibilidade que o projeto proporcionou à temática da violência sexual e à rede de atenção. A intenção de qualificar a rede de um município foi ampliada para outras cidades - e países - pela possibilidade de acesso síncrono e assíncrono aos vídeos. Através de informações obtidas na plataforma de compartilhamento de vídeos, observamos que pessoas de cidades da região sudeste foram as que mais acessaram o conteúdo. Mas pessoas em países como Portugal, Estados Unidos, França e Itália também acessaram o projeto. Essa foi uma das vantagens da realização do projeto de forma remota. Além de atingir profissionais de diferentes localidades, o projeto deu visibilidade ao Nuavidas, serviço que, entre outras formas de cuidado, garante acesso ao aborto previsto em lei para casos de estupro. No início do projeto - no auge da pandemia – houve maior adesão do público às transmissões ao vivo. Considerações Finais: A necessidade de qualificação profissional para lidar com o problema da violência sexual de forma integral, tão prevalente em nossa sociedade, é urgente, especialmente para o fortalecimento do trabalho intersetorial. O projeto desenvolvido mostrou que estratégias que utilizam mídias digitais e plataformas de transmissão online são eficazes tanto no alcance quanto na democratização do acesso à informação. Apesar de ter havido uma queda da adesão às transmissões ao vivo com a melhoria da pandemia, como os conteúdos estão salvos na plataforma, as pessoas podem ter acesso a eles de forma assíncrona quando quiserem, o que indica que o objetivo do projeto se estenderá, mesmo após sua finalização. Mesmo tendo se mostrado uma estratégia eficaz, é fundamental pensar em espaços presenciais de qualificação profissional e educação permanente que garantam, não apenas produção e compartilhamento de informações, mas o acolhimento e cuidado às dificuldades que os profissionais enfrentam em lidar com os casos e para produzir um cuidado integral.