Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
Profissional de Educação Física no atendimento de pessoas pós Covid-19 associado à doenças crônicas não transmissíveis
Geize Rocha Macedo de Souza, Rony Wallas Fonseca Froz, Júlio César de Souza

Última alteração: 2021-12-20

Resumo


As doenças respiratórias crônicas são doenças crônicas tanto das vias aéreas superiores como das inferiores. A maioria dessas doenças são preveníveis e incluem a asma, a rinite alérgica e a doença pulmonar obstrutiva crônica. Representam um dos maiores problemas de saúde mundialmente. Afetam a qualidade de vida e podem provocar incapacidade nos indivíduos afetados, causando grande impacto econômico e social. As limitações físicas, emocionais e intelectuais que surgem com as doenças, com consequências na vida do paciente e de sua família, geram sofrimento humano. Dentre as principais consequências se encontram a depressão e o isolamento social. Entre os principais sintomas se destaca a dispneia, fadiga excessiva geralmente relatada nos membros inferiores, tosse frequente e alto grau de expectoração.

O novo agente do Coronavírus (nCoV-2019) foi relatado em 31/12/19 após casos registrados na China. Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial de Saúde declarou pandemia do novo Coronavírus em virtude da rápida disseminação geográfica apresentada pelo vírus. Muito se tem estudado sobre o vírus desde então e sendo constatado que o novo Coronavírus (SARS-CoV-2) faz parte de um grupo de vírus responsáveis por causar síndromes respiratórias agudas.

A infecção afeta comumente o trato respiratório superior, semelhante a resfriado simples, mas pode comprometer o trato respiratório inferior, causando a síndrome respiratória aguda grave – SRAG. Embora ainda não se conheça muito sobre os efeitos físicos tardios da COVID-19, é sabido que os pacientes que fazem uso da ventilação mecânica na fase mais aguda da doença podem desenvolver a chamada síndrome pós[1]cuidados intensivos, caracterizada por uma incapacidade prolongada, tendo como efeitos secundários disfunção muscular, fadiga, dor e dispneia.

A Covid-19 é uma infecção respiratória, potencialmente grave, de grande transmissibilidade e de distribuição global. É uma doença sistêmica, ou seja, pode afetar inúmeros órgãos e sistemas. Após a fase aguda, várias manifestações podem acontecer. No sistema cardiovascular pode acorrer miocardite, doença tromboelítica e arritmias cardíacas. Já no sistema pulmonar é comum que ocorra a redução da força muscular respiratória.  Além disso, alterações neurológicas e impactos na saúde mental também podem acontecer. Mesmo após a alta hospitalar os pacientes podem apresentar consequências como fraqueza muscular, instabilidade postural, disfunções musculares e dispneia. Assim, é essencial que esses pacientes continuem a serem assistidos, com a finalidade de melhorar a qualidade de vida.

Nesse sentido, em janeiro de 2021, através da parceria entre o Serviço de Doenças e Agravos Não Transmissíveis  e  Coordenadoria da Rede de Atenção Especializada, foi o iniciado o Programa de Reabilitação Cardiorrespiratória e Musculoesquelética para Pacientes pós-alta da Covid na Unidade Especializada de Reabilitação e Diagnóstico (UERD).

O objetivo do programa é ofertar um serviço de assistência de saúde que visa à recuperação, o fortalecimento e a melhora da qualidade de vida das pessoas que foram hospitalizadas em decorrência do Covid-19 associado à doenças crônicas, restabelecendo o retorno à plena funcionalidade cardiorrespiratória e musculoesquelética e visa especificamente:

- Melhorar a capacidade funcional e musculoesquelética;

- Melhorar a capacidade cardiorrespiratória;

- Prevenir agudizações das doenças crônicas;

- Estimular o autocuidado nas pessoas com condições crônicas;

- Reafirmar o compromisso com um serviço transversal e interdisciplinar que oferte ao usuário diferentes áreas do conhecimento;

- Ofertar apoio psicológico;

- Ofertar apoio nutricional;

- Promover a saúde de forma integral.

O programa de reabilitação é indicado a pacientes COVID-19 pós-alta hospitalar que evoluíram com limitações físicas e cardiorrespiratórias e que possuem, de forma concomitante, as seguintes condições:

  • Doenças crônicas não transmissíveis (hipertensão, diabetes, doença respiratória e obesidade);
  • E/ou declínio musculoesquelético;
  • E/ou baixa capacidade pulmonar.

A avaliação do paciente ocorre de forma multidisciplinar, onde a equipe é composta por profissionais da educação física, fisioterapia, psicologia e nutrição. A partir dela é que são definidas as estratégias de conduta e atendimento desse paciente.

No atendimento com o Profissional de Educação Física, o paciente passa por Anamnese (entrevista). Nessa avaliação são colhidas informações sobre histórico de saúde, principalmente relacionado às doenças crônicas não transmissíveis. Após essa etapa, é realizada avaliação antropométrica, bem como  a mensuração da relação cintura-quadril e do índice de massa corporal, indicadores relacionados ao risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e metabólicas, respectivamente.  Também é realizada avaliação funcional através do Teste de Sentar e Levantar.

Posteriormente as avaliações, os pacientes fazem sessões de exercícios de 2x a 3x por semana, com aproximadamente 60 minutos. São realizadas 10 sessões, e, após isso, ocorre uma reavaliação, para liberação do paciente ou prorrogação das sessões, caso haja necessidade.

O programa é composto por exercícios aeróbicos, resistidos (força), flexibilidade, respiratórios e posturais. A prescrição considera o estado de saúde geral, como índice de massa corporal, presença de doenças crônicas não transmissíveis, idade, nível de autonomia funcional, marcha e postura em pé.

Inicialmente os treinos são de realizados de forma leve, e à medida que os pacientes vão progredindo, a intensidade é aumentada. Para o controle da intensidade é utilizada a escala de percepção subjetiva de esforço, através da escala de Borg.

O número de pacientes atendidos no programa de janeiro a dezembro de 2021 foram 43, sendo 27 do sexo feminino e 16 do sexo masculino.

Foram realizadas 646 sessões e 3228 procedimentos, de modo que em cada sessão são realizados mais de um procedimento. Todos esses atendimentos são devidamente registrados no sistema de informação local.

O quantitativo de procedimentos com maior frequência foi a aferição de pressão (n=955), alongamento (n=627), exercícios aeróbicos (n=613), exercícios resistidos (n=537), exercícios respiratórios (n=343) e avaliações física (antropométrica) e funcional (n=153). A avaliação física é realizada em dois momentos, sendo no início e no final do acompanhamento do usuário, o que justifica o menor quantitativo.

Referente a faixa-etária dos pacientes, de 18 a 24 anos foram 2, de 25-34 foram 11, de 35-44 foram 9, de 45-54 foram 12, de 55-64 foram 8 e acima de 65 anos foi 1 paciente. A distribuição das doenças crônicas não transmissíveis foi de 48,8% eram obesos, 20,9% hipertensos, 4,7% diabéticos e 7% hipertensos e diabéticos e 18,6% sem doenças crônicas.

Quanto ao índice de massa corporal dos pacientes atendidos no programa, 39,5% apresentou sobrepeso, 32,6% obesidade tipo I, 11,6% obesidade tipo II, 4,7% obesidade tipo III, dado relevante, uma vez que é considerado um dos fatores de risco de agravamento nos quadros de Covid-19. A obesidade, que já é considerada uma pandemia contínua, mantém forte correlação com a Covid-19, sendo um fator de risco para gravidade e mortalidade.

A criação de um programa de reabilitação cardiorrespiratória e musculoesquelética para pacientes pós-alta de Covid na UERD foi de grande importância para a continuidade do tratamento, visto que mesmo após a alta é comum os pacientes  apresentarem uma série de consequências da própria doença e do período de internação, como fraqueza muscular, fadiga, instabilidade postural, controle glicêmico abaixo do normal, descondicionamento físico, dentre outras consequências.