Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Dificuldades de cirurgiões-dentistas no cuidado a mulheres em situação de violência
Kethellen Gerkman Kil, Camila Maura Morais Lima dos Santos, Mariana Hasse

Última alteração: 2021-12-20

Resumo


Apresentação: A violência contra mulheres, além de crime, é um grande problema de saúde pública devido à alta prevalência e consequências que gera na vida das pessoas envolvidas. Por isso, vítimas desta situação frequentemente procuram serviços de saúde. Como as lesões na região de cabeça e pescoço são comuns na violência contra mulheres, os cirurgiões-dentistas – profissionais que atuam nessa parte do corpo - são regularmente  procurados. Entretanto, muitos profissionais ainda têm dificuldades em prestar assistência adequada a estas mulheres. O objetivo deste trabalho é conhecer e analisar as percepções de cirurgiões-dentistas que atuam na atenção primária em saúde sobre as dificuldades encontradas para a produção do cuidado a mulheres em situação de violência. Método do estudo: Esta é uma pesquisa qualitativa, desenvolvida a partir de entrevistas semiestruturadas realizadas com cirurgiões-dentistas que atuam em serviços da atenção primária à saúde de um município do interior de Minas Gerais. Os entrevistados foram selecionados a partir da técnica da “bola de neve” e a produção de dados foi cessada quando a saturação foi identificada. Os dados foram categorizados a partir da Análise de Conteúdo Temática. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (Parecer nº 4.653.579). Resultados: Neste trabalho são apresentados os dados referentes a apenas uma das categorias identificadas, “Dificuldades na produção do cuidado”. Foram entrevistados dez cirurgiões-dentistas, sendo seis mulheres e quatro homes, com média de 15 anos de formação e 12 anos de assistência clínica em atenção primária à saúde. Dentre as dificuldades mais citadas estão a dificuldade em identificar violências que não deixam marcas físicas visíveis, barreiras para abordar o tema na anamnese (tempo de consultas limitado, carência de vínculo estreito com a vítima, constrangimento do profissional em perguntar, vergonha da mulher em externar sua situação), despreparo emocional para lidar com casos, temor em ultrapassar o limite entre atuação profissional e envolvimento pessoal, insegurança sobre quais atitudes tomar perante um relato de violência, desconhecimento da rede de atenção e mesmo da obrigatoriedade de notificação compulsória. Um fato que chama atenção é que em alguns casos, ocorre uma confusão de papéis e muitos profissionais acham que precisam ter certeza do fato para tratar o caso como sendo de violência. Normalmente, a conduta do profissional está atrelada aos seus valores, crenças, estrutura psicológica e vivências pretéritas. E como não há um padrão de prática, e nem a abordagem do tema durante a formação, há confusão para tomada de decisão segura. Há uma carência de produções científicas sobre a temática. Considerações Finais: As mulheres em situação de violência vivenciam um fenômeno complexo, que envolve determinantes ambientais, sociais, culturais e socioeconômicos. Pelas características da manifestação da violência contra mulheres, ela repercute nas práticas odontológicas. Entretanto, os profissionais não possuem formação necessária para o correto manejo dos casos. É urgente o desenvolvimento de pesquisas neste tema para gerar conhecimento e desenvolvimento de políticas públicas que fortaleçam a atuação cirurgião-dentista como parte da rede de proteção às mulheres.