Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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RESIGNIFICANDO O TRABALHO EM SAÚDE MENTAL ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO PERMANENTE E OFICINAS DE ARTESANATO
karla ferreira lima, lorena alessandra aires oliveira, vera nici hoshiba

Última alteração: 2021-12-20

Resumo


Este relato de experiência vem apresentar o trabalho realizado em um ambulatório de saúde mental, tendo como foco encontros de educação permanente e oficinas terapêuticas, em especial o uso do artesanato. Objetivou-se implantar os encontros de educação permanente com a equipe de saúde e as oficinas terapêuticas como proposta de intervenção psicossocial, ressignificação das práticas de cuidado no ambulatório de saúde mental e teve como público alvo os trabalhadores e usuários inseridos no serviço. As atividades foram iniciadas em 2012 com o origami, embalagens para presentes e enfeites natalinos e, atualmente, artesanato em tecido. Desde 2019, a equipe do ambulatório vem realizando bazar na unidade para manter a realização das oficinas com os usuários.

Palavras-chave: Rede de Atenção Psicossocial. Educação Permanente. Práticas Colaborativas. Oficinas Terapêuticas.

O desenvolvimento da atividade

 

A Policlínica João dos Santos Braga foi inaugurada em 2005 pela Secretaria do Estado de Saúde do Amazonas/SUSAM, sendo uma unidade de média complexidade que tem como objetivo proporcionar ao usuário um atendimento especializado de qualidade.

Em 2012 iniciou-se o atendimento a usuários psiquiátricos oriundos do Ambulatório Rosa Blaya e residentes na Zona Norte de Manaus. Este ambulatório foi implantado a partir da necessidade de concluir o processo de descentralização do atendimento ambulatorial na área de saúde mental no estado do Amazonas e está em curso desde 2001.

Assim, cada zona da cidade teria um serviço de referência saúde mental para cuidar de cerca de 1.500 usuários que faziam acompanhamento psicossocial ambulatorial no CPER todos os meses. Estes foram orientados a procurar uma policlínica estadual de seu território para dar prosseguimento ao acompanhamento. Recebiam informações e orientações sobre a desativação do serviço e um folheto informativo com o nome e endereços das cinco policlínicas. Este momento gerou angustia tanto na população atendida, quanto nos profissionais de saúde considerando a insegurança do que aconteceria com a implantação dos novos serviços e a chegada da população atendida.

A princípio, o atendimento, nos novos serviços, seria realizado pelos mesmos profissionais que já acompanhavam os usuários no Centro Psiquiátrico, tanto as consultas ambulatoriais quanto a dispensação de medicamentos e as psicoterapias se dariam normalmente para essa população, fato que permitiria maior acesso ao serviço, respeitando a lógica do território.

Na Zona Norte de Manaus a Policlínica Joao dos Santos Braga serve como referência de acolhimento e cuidado em saúde mental, sendo inserido no serviço um profissional de psicologia que realizava as psicoterapias.

Passado o momento de adequação da inserção do ambulatório, a equipe de Saúde Mental composta pela enfermeira, assistente social e psicologia, começou a realizar as atividades de educação permanente como aposta para qualificar a equipe de saúde para ofertar melhor acolhimento.

De 2012 a 2014 a Educação Permanente ganhou força por meio da elaboração de planejamento e execução das atividades, que ocorriam uma vez por mês com duração de duas horas, envolvendo os profissionais técnicos e administrativos que atuavam diretamente no acolhimento a estes usuários. As temáticas adotadas para a discussão no grupo giravam em torno de Cuidados em Saúde Mental, como: o que é Saúde Mental, o que é sofrimento mental, transtornos mentais mais comuns, dentre outros. Foram realizadas reuniões da equipe multiprofissional, tendo a colaboração da equipe técnica do CAPS Silvério Tundis, atividade a fim de analisar os processos de trabalho no Ambulatório, discutir casos especiais e planejar ações neste campo em especial da Saúde Mental foram importantes no crescimento do trabalho e equipe. Em 2015 até 2017, foram inseridas novas temáticas nos encontros de educação permanente com os profissionais, como a roda de conversa com o tema Alimentação Saudável e Vida Ativa, conduzida pela técnica de Enfermagem da Policlínica com formação em Nutrição, Intensificação do cuidado e roda de conversa com familiares dos usuários de Saúde Mental. E, ainda, iniciou o Projeto Cine Vida que proporcionava aos profissionais, aos usuários, a família e a comunidade, maneiras para enfrentar os desafios da prática do cotidiano, através da capacitação teórica e instrumental e do debate sobre temas contemporâneos relevantes visando criar dispositivos para a produção de atitudes, a reflexão crítica e o empoderamento social dos atores envolvidos na atividade.

 

Realizou-se atividades extra-muro para os usuários com visitas ao Jardim Botânico, espaços públicos como Centros Comerciais, Praças de Alimentação, Cinema de Shopping Center. Além disso, foram realizadas oficinas terapêuticas, com encontros mensais, com produção de objetos de papel, embalagens para presentes e decoração, tendo sido conduzido por uma voluntária. Este trabalho gerou a produção de um vídeo que foi apresentado em um evento da Política Nacional de Humanização, Ministério da Saúde. Novas parcerias foram feitas com a Escola Estadual Roberto Vieira dos Santos onde levou-se temas de saúde mental para conversar com os jovens escolares e nesta escola acontecia o Cine Saúde. Levou-se para dentro da unidade apresentações artístico-culturais: fanfarra da Escola, Grupo Curumim na Lata, concurso cultural com os servidores da enfermagem, a formação do “Grupo de Cuidado Ampliado em Saúde Mental”, Projeto Biblioteca Solidária, uma oportunidade de troca com a comunidade na doação dos livros e o 1º Bazar do Desapego do Bem em 2019.

Resultados alcançados

A Policlínica João dos Santos Braga, ao longo da sua história, vem traçando maneiras de fazer diferentes e inovadoras e buscando incluir no seu processo de trabalho, tendo como desafio a capilarização de recursos para as oficinas terapêuticas e as atividades educativas, as quais hoje se mantêm por meio de bazares e colaboração da equipe. É um processo de resistência que a equipe tem sustentado a fim de não encerrar os cuidados em saúde mental no modelo tradicional de cuidado.

Ao contrário, o desafio que se mantêm ao longo deste tempo de existência do Ambulatório, impulsiona a equipe a permanecer com a proposta de fazer da Educação Permanente e das Oficinas Terapêuticas os mecanismos para realizar o ato vivo do cuidado.

Acredita-se que o trabalho realizado é permeado de afetividade, amorosidade, escuta e troca, ao passo que os usuários se enxergam no contato com os pares, que os familiares têm o espaço de fala e de escuta com seus pares-cuidadores e estabelecem relações de afeto entre si.

Percebeu-se que as atividades realizadas com os trabalhadores da saúde, a partir das rodas da Educação Permanente, propiciou a diminuição dos temores, ansiedades, inseguranças por parte daquele no contato com o sofrimento mental. Inúmeras dúvidas foram trabalhadas nos encontros relacionados ao campo da saúde mental, observou-se maior aproximação dos trabalhadores com os usuários, trabalhadores mais seguros para escutar as queixas dos usuários e para atentar ao sofrimento do outro.

 

Considerações Finais

Esta experiência até os dias de hoje rende frutos, pois o trabalho continua mesmo com a mudança de alguns profissionais que compunham a equipe de saúde mental e acreditamos que a resistência e permanência dos trabalhos aqui citados até o momento atual refletem a possibilidade de ser possível fazer saúde mental fora da caixa da lógica ambulatorial. Ainda como desafio fica o fortalecimento da participação da família neste processo.