Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Condições de saúde e acesso às medidas de proteção e prevenção por residentes em saúde no contexto da pandemia da COVID-19
Kellyane Pereira Santos, Dara Andrade Felipe, Paulette Cavalcanti de Albuquerque, Karla Adriana Oliveira da Costa, Giovanna Meinberg Garcia, Angela Catarina Inacio Costa de Andrade

Última alteração: 2022-06-14

Resumo


A Emergência em Saúde Pública decorrente da pandemia da Covid-19 exigiu uma rápida e inesperada reorganização da atenção à saúde em todos os níveis do Sistema Único de Saúde (SUS), no Brasil. No âmbito dos serviços, as/os profissionais de saúde, incluindo as/os residentes em saúde, aumentaram a capacidade resolutiva da prestação de cuidados.

Residentes em saúde são profissionais graduadas/os vinculadas/os a programas de residência médica ou em área profissional da saúde, uni ou multiprofissional. Os programas se constituem como pós-graduação voltadas para a educação em serviço. Nesse sentido, são parte importante da força de trabalho do SUS, bem como têm osdiversos serviços de saúde como cenário de ensino-aprendizagem.

No contexto da Covid-19, sabe-se que as/os profissionais de saúde são um importante grupo de risco para a contaminação pelo novo Coronavírus, uma vez que estão expostas/os diretamente às pessoas infectadas, o que aumenta as chances de contato com alta carga viral. Além disso, vivenciam situação de intenso estresse por serem responsáveis pelo cuidado das/os pacientes em condições de trabalho, frequentemente, inadequadas e precarizadas.

Portanto, considerando a importância das/os profissionais residentes na sustentabilidade do cuidado em saúde, no enfrentamento da pandemia, bem como os investimentos realizados na Política de Residências no Brasil, a pesquisa em questão buscou analisar as condições de saúde, as medidas de proteção e de prevenção das/os residentes em área profissional da saúde no contexto da pandemia da COVID-19.

A pesquisa foi desenvolvida pelo Observatório das Residências em Saúde do Instituto de Pesquisa Aggeu Magalhães da Fiocruz-Pernambuco. Os dados apresentados foram fornecidos por 791 residentes em saúde vinculados a programas de residência e que estiveram em atividade no período de março de 2020 a 30 de abril de 2021. A participação foi voluntária e realizada através de resposta a um questionário online, criado na plataforma google forms, divulgado a nível nacional. Os dados foram coletados no período de 28 de fevereiro a 30 de abril de 2021. A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos.

As respostas geraram um banco de dados, no programa excel, que foi tratado e analisado por estatística descritiva com uso do software Epi info. Os resultados apontam que participaram da pesquisa profissionais residentes de 16 categorias, das quais o maior número de respondentes foi da enfermagem (23,77%); seguido da psicologia 14,16%. A maior parte das/os participantes foram mulheres cisgênero (79,27%), seguidas de homens cisgênero (16,06%), outras identidades de gênero (2,28%) e pessoas não binárias (1,14%). No quesito raça/cor, 54,11% se declararam brancas/os, 30,09% pardas/os e 13,27% pretas/os. Quanto à faixa etária, a maior parte tem de 25 a 29 anos (53,61%), seguida da faixa 21-24 anos (26,29%).

Ao analisarmos a participação na pesquisa por modalidade de programa de residência, as/os residentes médicas/os representaram 8,22% das respostas, enquanto 80,91% estavam vinculadas/os a programas de residência multiprofissional e 10,87% a programas uniprofissionais.

Sobre o acesso à proteção e prevenção, foram identificados aspectos referentes à Educação Permanente em Saúde (EPS), uso e garantia de Equipamento de Proteção Individual (EPI), recursos básicos de higiene e imunização para as/os residentes contra a Covid-19. Quando questionadas/os se o programa de residência e os serviços de saúde nos quais estavam inseridas/os durante a pandemia ofertaram ações educativas quanto à proteção individual e às novas práticas de cuidado para o enfrentamento da Covid-19, 65,61% respondeu que sim. Sobre os EPIs, apesar de as respostas terem sido majoritariamente positivas para a disponibilização pelos serviços, vale destacar que para as máscaras N95/PFF2 e cirúrgicas, a soma das respostas negativas e classificadas como “às vezes” foi de 52,72% e 24,27 %, respectivamente. Além disso, 38,43% dos residentes afirmaram serem responsáveis por adquirir/improvisar seus próprios EPIs.

No que diz respeito à higienização das mãos, ao serem questionadas/os se no serviço no qual cumpriram a maior parte da carga horária prática havia água e sabão sempre que necessário, 85,34% respondeu que sim. Em contrapartida, 13,53% respondeu negativamente e esse dado nos leva a problematização da ausência de itens básicos de saneamento e higiene nos serviços de saúde.

Acerca das condições de saúde, investigamos a ocorrência dos seguintes sinais e sintomas: perturbações no sono; alterações no apetite; oscilações de humor; sensações de improdutividade, culpa, irritação, incapacidade, desesperança, ansiedade, aflição, discriminação e/ou violência; atenção e dificuldade de concentração; alteração no consumo de substâncias (álcool, drogas, medicamentos, estimulantes). As alterações mais referidas (sempre ou na maior parte do tempo) foram: sentir-se ansiosa/o (61,18%); sentir-se aflita/o (49,43%); desperançosa/o (46,27%); dificuldade de concentração (44,5%); sentir-se improdutiva/o (43,99%); oscilações de humor (43,86%); perturbação do sono (41,59%); e sentir-se irritada/o (41,59%).

Outro aspecto observado foi o diagnóstico confirmado laboratorialmente para a Covid-19, no qual 25,53% responderam terem testado positivo e desses, 10,89% alegaram não terem sido afastadas/os das atividades da residência. Das/os diagnosticadas/os, 24,75% consideraram que não tiveram atendimento oportuno e 10,89% tiveram Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Não obstante, 44,45% das/os participantes referiram perder alguém próximo por consequências da infecção pelo Sars-CoV-2 (familiar, colega de trabalho, usuária/o). Já em relação a imunização, na ocasião da pesquisa, 55,24% haviam recebido o esquema vacinal.

Diante dos dados, podemos destacar alguns elementos deficitários em relação à proteção da/o residente: embora a distribuição dos EPIs tenha sido, no geral, positiva, não foi igualitária e suficiente em todos os equipamentos. Especialmente considerando que houve improvisação ou aquisição pela/o residente. No mais, percebe-se como a imunização contra a Covid-19 ainda estava lenta naquele momento do estudo.

Tais aspectos podem estar associados a contaminação por Covid-19 em ¼ do público-alvo. Importa considerar, sobre as/os diagnosticadas/os, a ausência por parte de alguns serviços de um atendimento oportuno e ainda o não afastamento dos serviços, demonstrando a assistência insuficiente e até mesmo a negligência com a saúde da/o residente.

Observamos que dentre alterações de sensações e emoções mais frequentes, a aflição e ansiedade se sobressaíram, alterações bastante encontradas na população em geral neste período pandêmico e principalmente entre os profissionais de saúde, visto que atuar no contexto da pandemia é estar sempre no limite do tempo, dos recursos, do corpo e das emoções.

As/os residentes são importantes componentes da força de trabalho e também usuárias/os do SUS, ao passo que são profissionais em formação. Nesse sentido, a manutenção e qualificação do trabalho prestado à população, bem como a eficácia da proposta pedagógica, perpassa a proteção e o cuidado à saúde física e emocional do/a trabalhador/a. O estudo, portanto, indica a necessidade de fortalecer as políticas públicas de educação e saúde no sentido de garantir a integralidade do cuidado e a resolutividade dos serviços, em tempos pandêmicos ou não, sem prejuízos para os sujeitos que compõem as redes e serviços.