Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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AGRICULTURA FAMILIAR LADO A LADO COM A EDUCAÇÃO: GERANDO RENDA E PROMOVENDO SAÚDE
Larissa de Queiroz Carvalho, Grazielle Hellen Aparecida Soares Costa, Annajulia Conceição Gallardo, Félix de Jesus Neves

Última alteração: 2021-12-28

Resumo


O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) trata-se de uma política pública de caráter universal que atende a todos os estudantes da rede pública de ensino e tem por objetivo o fornecimento de uma alimentação de qualidade, segura e equilibrada em consonância com os hábitos e a cultura alimentar regional. Neste sentido, a Agricultura Familiar (AF) se torna grande aliada no fornecimento de gêneros alimentícios que atendem a esses princípios, pois fortalece a cultura, os hábitos e o consumo dos alimentos regionais, priorizando a produção de pequenos agricultores, produtores dos assentamentos de reforma agrária, além de apoiar comunidades quilombolas e indígenas tradicionais. Ademais, a aquisição é facilitada pela isenção de processo licitatório, ocorrendo prioritariamente através de chamadas públicas. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi fomentar a aquisição de gêneros alimentícios da Agricultura Familiar para a Alimentação Escolar das unidades de ensino estaduais do Território da Bacia do Rio Grande, no Estado da Bahia. Trata-se de um relato de experiência obtido através da aplicação do Projeto de Intervenção intitulado: “Agricultura Familiar lado a lado com a Educação: gerando renda e promovendo saúde”, para capacitação dos produtores da AF da região. O estudo possui caráter exploratório e metodologia ativa e qualitativa. Para escolha dos participantes, fez-se um mapeamento dos produtores através do contato com colégios, sindicatos e associações, que funcionaram como uma espécie de ponte de acesso. Foram convidados todos os agricultores atuantes ou interessados no fornecimento de gêneros alimentícios ao PNAE, bem como as Associações e Cooperativas que se interessaram ou que já forneceram produtos para a Alimentação Escolar do território da Bacia do Rio Grande. A execução da capacitação se deu no dia 10 de dezembro de 2021, na sede do Núcleo Territorial de Educação da Bacia do Rio Grande (NTE-11). E foi desenvolvida e executada por duas estagiárias do curso de Nutrição da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), sob orientação de um professor da mesma instituição e com supervisão da nutricionista do quadro técnico do NTE-11. A abordagem utilizada para a capacitação se deu através de uma roda de conversa guiada contando com a execução de uma dinâmica que simulava as etapas de higienização das mãos. Em seguida, foi distribuído um formulário auto aplicável contendo questões acerca dos tipos de alimentos produzidos, sua sazonalidade, forma de produção/transporte dos gêneros e documentação/registros que cada agricultor possui ou não. Por fim, foi distribuída uma ficha com uma pesquisa de satisfação, questionando aos agricultores suas opiniões com relação à capacitação. Quando se fala em AF, é essencial conhecer os principais entraves para o sucesso da sua parceria com o PNAE, pois compreendendo a realidade dos indivíduos, pode-se iniciar intervenções que contribuam de forma a aumentar a adesão dos mesmos ao programa. Sendo assim, dentre os dezesseis convidados que confirmaram presença, somente cinco conseguiram comparecer. A baixa adesão ocorreu por conta dos eventos climáticos adversos que atingiram toda a região de jurisdição do NTE-11, inviabilizando o deslocamento da maior parte dos agricultores, dado que, boa parte desses indivíduos residem ou estão localizados na zona rural, a qual tende a possuir estradas de difícil acesso, que em períodos chuvosos inviabilizam o trajeto para a zona urbana. Essa situação demonstra mais uma dificuldade para esses indivíduos conseguirem dialogar com outros meios que favoreçam a sua qualificação. Os produtores foram recebidos com um café da manhã e logo após foi dado início à Capacitação. Os pontos levantados abordaram a relevância da AF para o PNAE, dado que há baixa adesão por parte dos agricultores em todo o território. Deste modo, salientou-se os impactos negativos na saúde dos estudantes ao não consumirem alimentos saudáveis oriundos da AF, devido a essa baixa adesão e s perdas que os mesmos podem ter ao não fornecer seus produtos às escolas. Discutiu-se também questões como o incentivo ao consumo local e como ele fortalece ainda mais a economia da região, reduz desperdícios de alimentos e contribui para sua cadeia produtiva. Sendo assim, explanou-se que para que a qualidade desses produtos seja garantida, é de extrema relevância as Boas Práticas de Produção, que garantem a adequação do processo produtivo em suas várias etapas como: a própria produção, o armazenamento, o transporte e a distribuição, bem como a apresentação e a padronização da rotulagem dos gêneros alimentícios, que juntos contribuem para a agregação de valor e segurança higiênico-sanitária dos produtos e para os atores envolvidos no seu consumo. À medida em que foi sendo executada a capacitação, os produtores se mostraram bastante interessados e participativos, ampliando e enriquecendo as discussões, o que permitiu conhecer e compreender sua visão acerca de cada tema discutido, bem como os tipos de alimentos com o qual trabalham, as formas de manejo dos insumos, as dificuldades presentes no processo de produção, e também os principais entraves nas questões burocráticas. Foi proposta ainda, uma dinâmica que ilustrou as etapas da higienização correta das mãos, onde aplicou-se tinta guache (simulando o sabonete líquido) nas mãos de dois dos participantes com os olhos vendados, e estes foram orientados a representar o passo a passo realizado em seu cotidiano para a higienização das mãos. Ao retirar as vendas, ambos notaram que mesmo pensando terem realizado o procedimento de maneira correta, ainda havia partes importantes sem a tinta, ou seja, a higienização não foi realizada adequadamente. Assim, foi explicada a forma correta para a realização desta operação, visto que o momento atual de pandemia de covid-19 exige uma higiene ainda mais rigorosa, a fim de não contaminar os indivíduos que farão consumo dos alimentos produzidos. Todos estes pontos foram bem sinalizados, e sugeriu-se que os participantes os reproduzissem em suas associações, fixando os cartazes de higienização das mãos que foram distribuídos na ação, nos locais próximos às áreas de higienização das mãos em suas respectivas associações. Por fim, recolheu-se os formulários entregues no início do encontro e a ficha de pesquisa de satisfação, onde os participantes demonstraram de forma escrita e/ou desenhada as suas percepções e relação à capacitação, citando o que mais lhe chamou atenção. Alguns dos retornos por escrito foram: “Gostei de tudo e parabenizo pelo trabalho muito bem aplicado”; “Gostei muito da palestra, da participação de todos os integrantes que participaram da palestra, somos mais fortes, com união, com conhecimento, e muito mais, da união nasce a força. Espero participar mais vezes dessas palestras prazerosas com essa equipe.” Diante do exposto, conclui-se que são fundamentais o desenvolvimento e um investimento maior em políticas públicas de fortalecimento da AF, bem como a diligência em sua execução, para que a parceria entre o PNAE e a AF seja ainda mais presente e este vínculo fortalecido. Visto que o retorno é simultâneo: a diversidade alimentar obtida por meio da AF fornece aos alunos uma maior variedade de nutrientes, favorecendo a adoção de hábitos alimentares saudáveis e o consumo de alimentos que fazem parte da sua cultura alimentar e também, em paralelo, estimula o desenvolvimento sustentável, fortifica o comércio local e regional, gerando emprego e renda aos agricultores envolvidos.