Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A Libras e a Formação em Saúde: uma revisão narrativa
Aline Mattar Ferraço, Larissa Helyne Bassan, Eliane Varanda Dadalto, Liliane Perroud Miilher

Última alteração: 2021-12-27

Resumo


Apresentação: De acordo com o censo realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), verificou-se no Brasil a existência de uma população de 344.206 mil surdos e 1.798.967 de pessoas que apresentam grande dificuldade auditiva. Essa população certamente chegará aos serviços de saúde e precisará de profissionais aptos ao atendimento para que seu direito ao cuidado integral à saúde seja garantido e respeitado. Considerando o exposto, o presente trabalho de natureza qualitativa constituiu revisão sobre Libras e Formação em Saúde, que teve como objetivo: Realizar uma revisão narrativa acerca das principais contribuições e/ou publicações sobre a importância da conscientização e capacitação do profissional da saúde para o atendimento ao surdo em Libras como meio mais eficiente de comunicação com este sujeito, envolvendo-o ativamente no cuidado integral à saúde, gerando acessibilidade e inclusão ao serviço.

Desenvolvimento: A pesquisa foi realizada por meio de busca eletrônica nas bases de dados: Portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a Scientific Electronic Library Online (SciELO) e a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), por meio dos descritores: Profissional da Saúde, Surdez, Comunicação, Saúde, Assistência Integral à Saúde e Acesso aos Serviços de Saúde. Os critérios de inclusão foram: base de dados com acesso gratuito, ser artigo, estar no idioma de Língua Portuguesa, conteúdo pertinente ao objetivo traçado, estar disponível gratuitamente na íntegra em formato eletrônico, publicado entre 2010 e 2020. Já os critérios de exclusão: artigos publicados em outros idiomas, teses ou dissertações, artigos que não se relacionem com o tema de estudo ou que o foco seja diferente do objetivo descrito e não publicados entre o período selecionado. O levantamento inicial resultou em 36 artigos, dos quais foram selecionados 07, conforme critérios citados anteriormente. Após análise de cada artigo, foram criadas 3 categorias temáticas, a saber: 1) conscientização e capacitação em Libras, 2) barreiras comunicacionais e 3) estratégias utilizadas pelos profissionais da saúde na comunicação com o surdo.

Resultados: A categoria “Conscientização e Capacitação em Libras'' (1) é entendida como todo processo que envolve a aprendizagem e uso desta língua. Os dados relacionados a esta categoria conduziram à criação de duas subcategorias: a conscientização dos profissionais da saúde sobre a comunicação em Libras com os surdos e a busca por uma capacitação em Libras pelos profissionais da saúde. A questão relacionada à falta de conhecimento do acadêmico e/ou profissional de saúde sobre Libras emergiu e evidenciou o desconhecimento desses profissionais sobre a cultura surda e a língua de sinais, com referência ao uso de mímica e/ou gestos sem muito valor para a comunicação, entretanto denotam conhecimento sobre sua importância para a comunicação com a pessoa surda. Nesse contexto, emerge a segunda subcategoria “Busca por uma capacitação em Libras pelos profissionais da saúde”, caracterizada pela compreensão de que poucos profissionais da saúde buscam por esta capacitação. Em relação a esta subcategoria, a maioria dos profissionais não se capacita, pois a instituição na qual trabalham não proporciona nenhum curso para facilitar a comunicação com o indivíduo surdo. Esses profissionais referiram que realizariam a formação se a unidade proporcionasse um curso de Libras, para que aprendessem estratégias eficientes de comunicação com essa população. A próxima categoria “Barreiras comunicacionais” (2) discorre sobre as dificuldades de comunicação entre os profissionais da saúde e o cliente surdo. A respeito dessa categoria, o maior desafio do atendimento é justamente a dificuldade de interlocução entre o paciente surdo e o profissional. Isto resulta numa comunicação ineficiente, sendo o desconhecimento da Libras o principal fator. Muitas vezes, outras formas de comunicação prevaleceram (categoria temática 3: estratégias utilizadas pelos profissionais da saúde na comunicação com o surdo), como: gestos e a união de dois ou mais meios de comunicação, mímica, leitura labial, escrita (caso o surdo saiba ler), expressão corporal, gestos comportamentais e Libras. Na tentativa de solucionar as barreiras comunicacionais com estratégias diversas, os profissionais da saúde experimentam alternativas muitas vezes ineficientes, como se expressar por sinais não oficiais de Libras ou escrever.  Dessa forma, a barreira de comunicação se opõe a um atendimento adequado e a um tratamento bem-sucedido, dificultando o envolvimento do paciente no processo.

Considerações finais: Pode-se concluir que os serviços de saúde, de um modo geral, não estão preparados para o atendimento aos usuários surdos de forma integral e de qualidade, oferecendo um serviço ainda incipiente no atendimento às demandas dessa população. Grande parte disso pode ser atribuída ao fato do desconhecimento da Língua Brasileira de Sinais pela maioria dos profissionais da saúde, seja pelo baixo incentivo durante a formação acadêmica, pela falta de capacitação ou até mesmo pelo desinteresse do profissional. Por conseguinte, esses profissionais se utilizam de estratégias comunicacionais diversas a fim de tentar minimizar as barreiras comunicacionais, no entanto, a Libras como língua pelo qual o surdo se expressa, é o meio mais eficiente e eficaz para uma prática em saúde realmente inclusiva. Em vista disso, destaca-se a importância da instituição ou ampliação do estudo da Libras, como disciplina obrigatória nos cursos superiores na área da saúde, bem como melhor capacitação dos profissionais já atuantes por meio de formação em serviço. A elaboração de materiais informativos e educativos em Libras, como por exemplo, vídeos, cartilhas, cartazes, folders e panfletos, no formato impresso e digital, pode propiciar que a Libras se torne mais presente nos ambientes de saúde, garantido a visibilidade e possível reconhecimento. É relevante também sugerir a parceria das Universidades com os serviços de saúde, através de projetos de pesquisa e extensão voltados a essa temática, com o propósito de promover a conscientização dos profissionais da saúde acerca do atendimento integral do paciente surdo, além de proporcionar um estudo teórico-prático da Libras (mesmo que básico) aos envolvidos, seja em formação inicial (graduação) e continuada (em serviço). Somente com a melhoria da assistência ao usuário surdo, tornando-a mais integral e igualitária, sendo fundamentada nas necessidades biopsicossociais e cultural da comunidade surda, com a comunicação preferencialmente em Libras, é que a relação profissional da saúde-paciente será de qualidade, autônoma e privativa, garantindo um cuidado completo e humanizado.