Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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SINGULARIDADES NO AMBIENTE-SAÚDE NA COMUNIDADE SÃO PEDRO NA RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS, PARÁ
Clara Silva, Franciclei Maciel, Wilson Sabino, Sara Santos

Última alteração: 2022-01-29

Resumo


Esse estudo trata de um relato de experiência da aproximação de campo do projeto de ensino, pesquisa e extensão (PEEX), intitulado “Ambiente-Saúde das populações dos campos, florestas e das águas, na região do baixo Amazonas no estado do Pará”. O objetivo maior deste estudo, é compreender a relação ambiente-saúde da população ribeirinha sob a lente do projeto PEEX. Desenvolvimento/Metodologia: A população ribeirinha, recorte do estudo do projeto PEEX, habita na comunidade São Pedro localizada no Baixo Amazonas e faz parte da reserva extrativista (RESEX) Tapajós-Arapiuns, as margens do rio Arapiuns. Diferencia-se de outras regiões enquanto população tradicional, por ser executora de atividades extrativistas e de subsistência. Na modalidade de RESEX, os habitantes, apresentam estilo de vida que protege o ambiente de vivencia, a cultura local e desenvolvem práticas de uso sustentável de recursos naturais. O acesso à comunidade é realizado por transporte fluvial por meio de barco, partindo da cidade de Santarém, com um percurso de seis horas pelo Rio Arapiuns. A aproximação de campo ocorreu no mês de agosto de 2021, quando os dados foram coletados por meio da observação direta e roda de conversa com estudantes comunitários, e nas oficinas e visitas aos moradores. O projeto PEEX, é resultado da parceria entre docentes do Instituto de Saúde Coletiva (ISCO) e Instituto de Ciências da Sociedade (ICS). Com viés interdisciplinar, investigou os determinantes sociais da saúde (DSS) e a Política de desenvolvimento regional nas populações do campo, floresta e água na Região do Baixo Amazonas. A comunidade de São Pedro é o retrato da diversidade das populações ribeirinhas, por estar situada em uma reserva extrativista, possui uma vivência única, que a torna ainda mais rica na pluralidade, seja da população formada por indígenas e não indígenas, seja por práticas existentes apenas em Resex. Resultados: O projeto PEEX iniciou suas atividades em janeiro de 2020, portanto antes da pandemia da Covid-19. Durante o período do distanciamento social e confinamento, o chamado lockdown no município de Santarém, o projeto continuou com suas atividades no formato remoto. Nesse período, os dados continuaram sendo coletados por meio do WhatsApp. Com a chegada da vacina da Covid-19, a equipe de pesquisadores retornou ao campo, com vínculo fortalecido iniciado antes da pandemia.  As singularidades das ações no campo foram registradas partir do momento em que os pesquisadores foram entrevistados na rádio comunitária. A primeira atividade foi a realização da roda de conversa Ambiente-Saúde na escola municipal de ensino fundamental e médio com a participação de quinze estudantes comunitários, com idade entre 13 e 35 anos. Durante as rodas de conversas os estudantes destacaram diferentes Determinantes Sociais da Saúde (DSS), conforme observados na Lei Orgânica da Saúde, lei nº 8.080 de 1990 no seu Art. 3, como a alimentação, a moradia, o saneamento básico e os demais serviços essenciais presentes, ou seja, a saúde está vinculada a determinantes e condicionantes (BRASIL, 1990). Entre os DSS, relataram a frequência com que observam da comunidade, grandes balsas transportando toras de madeira pelo rio Arapiuns, uma ação que pode afetar o bem-estar da comunidade em longo prazo, devido a retirada em massa das árvores, uma prática que pode acelerar o processo de terras caídas na região. Os estudantes relataram preocupação com a poluição do rio através do descarte incorreto do lixo e de resíduos que pode afetar a vida aquática, como os peixes, e comprometer a saúde alimentar dos comunitários. O lixo descartado de forma incorreta pode gerar várias problemáticas para a Resex, como a contaminação do solo por descarte incorreto de pilhas e baterias e a transmissão de doenças para as pessoas e os animais. Foi relatado que em outros momentos, os comunitários receberam ações de educação ambiental por meio de oficinas, visando reaproveitar resíduos como plásticos. Alguns artesanatos produzidos por essas ações, foram percebidos na ornamentação da escola, através do aproveitamento de pneus para cercar as plantas e CD´s em forma de enfeites suspensos. Os jovens pontuaram como a reflexão dos DSS possibilitou um olhar diferente sobre o espaço vivido e gerou um processo educativo, ao proporcionar a reflexão sobre como o ambiente influencia a saúde. A segunda atividade, foi a oficina com roda de conversa sobre o tema: planejamento pessoal, estudantil e profissional, também realizada na escola local. Essa temática foi resultado da primeira aproximação de campo ocorrida antes da pandemia. Como resposta, os pesquisadores contribuíram oferecendo ação de extensão, por meio da oficina com uso de cartilha, abordando a importância de planejar e como planejar, na vida pessoal, estudantil e profissional. Foi dado destaque, a dinâmica para realizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e como utilizar a nota para ter acesso a universidade. Os discentes receberam folder com informações sobre formas de ingresso a universidade, a estrutura dos cursos tipos de processos seletivos, como o regular, processo seletivo especial indígena e processo seletivo especial quilombola. A cartilha abordou alternativas para os jovens que não pretendem cursar nível superior de ensino e buscam outras opções de estudo como cursos técnicos e profissionalizantes. Os discentes receberam orientação, que alguns cursos são ofertados de forma gratuita e outros têm custo, com possibilidade de bolsa de estudo. Para incentivar os estudantes a fazerem seus planejamentos de vida estudantil e profissional, a equipe de alunos acadêmicos, fizeram gravações tipo spots e podcasts para ser veiculado na rádio comunitária local.  A terceira atividade intitulada roda de conversa: A questão do lixo, discutiu a segunda parte da cartilha, que tratava a questão ambiente-saúde com foco no lixo e resíduo. A partir da leitura da cartilha, os estudantes destacaram formas de praticar os 3 R´s - reciclar, reutilizar e reduzir, como forma de evitar a degradação do meio ambiente. Durante a conversa, com o descarte incorreto do lixo sendo a pauta prioritária, surgiu a ideia de substituir as sacolas plásticas nas mercearias da comunidade, por sacolas reutilizáveis de pano ou mesmo caixas de papelão, além da prática da compostagem para o resíduo molhado. Esse diálogo com os estudantes acadêmicos e secundaristas promoveu a reflexão da importância de separar o que é lixo para ser descartado, e o que é resíduo e deve ser reaproveitado. Uma segunda roda de conversa ocorreu com os comunitários indígenas, com professores, alunos e liderança local. Foi apresentado um folder específico sobre o processo seletivo especial indígena da universidade Federal do Oeste do Pará, que oferece uma formação básica aos discentes indígenas que ingressam na universidade, e os tipos de bolsas de auxílio ofertados aos discentes. A escola indígena foi inaugurada em 2017, após o povo Arapium ser reconhecido como indígena, possui uma biblioteca que está à disposição da comunidade e conta com a ajuda dos pais dos alunos e dos professores que são da região e lecionam na escola. Considerações finais: A relação homem-natureza é uma das bases culturais dos povos tradicionais. A presença dos professores e acadêmicos da universidade na comunidade, por meio do projeto despertou interesse em relação a melhorias das condições de vida. Observa-se a necessidade da universidade ir ao encontro dessas vivencias, e trazer para o centro da discussão, as problemáticas presentes nessas regiões tão ricas em recursos naturais, e fundamentais ao modelo sustentável da relação homem-natureza.