Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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TERRITÓRIO EM SAÚDE E MEIO AMBIENTE: REALIDADE E DESAFIOS NO CONTEXTO DA DOENÇA DE CHAGAS
Cinoélia Leal de Souza, Elaine Santos da Silva, Denise Lima Magalhães

Última alteração: 2021-12-22

Resumo


Apresentação: a Doença de Chagas integra a lista de enfermidades consideradas negligenciadas pela Organização Mundial da Saúde, uma vez que ainda afeta milhões de pessoas pelo mundo e existem alguns limitantes epidemiológicos atrelados à sua manutenção no cenário de algumas populações, como por exemplo, a falta de diagnóstico precoce e dificuldade de acesso e prevenção em territórios com dificuldades socioambientais e estruturais, como no interior da Região Nordeste do Brasil. Nesse contexto, a amplitude geográfica da endemia se expande por diversos territórios. Contudo, nas últimas décadas ocorreram diversas mudanças epidemiológicas referentes a uma considerável diminuição no surgimento de novos casos, isso decorrente, em muito, de campanhas de controle da transmissão vetorial e    transfusional    nos    países    endêmicos.    Embora, ainda  exista preponderância da doença em alguns países da América do Sul. Esse cenário revela a necessidade de estudos sobre a temática, principalmente voltados para as populações rurais mais vulneráveis, para que se possa conhecer verdadeiramente as facetas dessa enfermidade negligenciada e, assim, agir para melhorar a qualidade de nesses territórios. Dessa forma, este estudo refletir sobre os desafios da promoção da saúde e prevenção da Doença de Chagas em territórios com dificuldades socioambientais e de acesso a saúde no semiárido nordestino. Desenvolvimento: tratou-se de uma pesquisa de abordagem quantitativa exploratória, realizada com a participação de homens e mulheres com idade acima de 18 anos, diagnosticados com a Doença de Chagas, residentes na cidade de Malhada, no estado da Bahia, localizada a 638 km da capital Salvador, considerada área endêmica para essa patologia. A amostragem foi probabilística simples e sem reposição, calculada a partir dos 320 casos registrados no município, levando-se em consideração um erro amostral de 5%, e um nível de confiança de 95%, ficou estabelecido um total de 184 indivíduos para participação no estudo. O trabalho de campo foi realizado entre o ano 2018 e 2019, com o auxílio dos Agentes Comunitários de Saúde para a localização dos portadores dos participantes em áreas rurais de difícil acesso, como matas e morros. A coleta de dados foi realizada no ambiente domiciliar, com o auxílio dos seguintes instrumentos de pesquisa: um diagnóstico socioambiental e o World Health Organization Quality of Life (WHOQOL-bref). A   análise   descritiva   ocorreu   através   da   sumarização   das   variáveis, na qual   as categorias foram analisadas por meio de frequências absolutas e relativas e as numéricas utilizou-se as medidas de tendência central e desvio padrão.  Posteriormente foi realizada a caracterização da população segundo a qualidade de vida e as covariáveis do estudo, utilizado o teste Chi-quadrado de Pearson (X²) e complementada, quando necessário, com o teste de Chi-quadrado de Fisher, adotando o valor de p ≤0,05 para associação estatisticamente significante. O presente estudo foi aprovado por um Comitê de Ética em Pesquisa, sob o protocolo CAAE 73169517.3.0000.8068.  Resultados: participaram do estudo 184 indivíduos, 53,8 % mulheres e 80,4 % homens, com idade entre 18 e 59 anos.  No que se refere ao estado civil, 78,3 % tinham companheiro e 94,0% moravam com a família.  Quanto a ocupação, 6,5% eram aposentados, seguidos de 10,3 % indivíduos ativos em trabalho informal,15,2 % domésticas e 68,0 % eram lavradores, 90,8 possuíam até 8 anos de estudo. Sobre a avaliação da qualidade de vida, foi evidenciado que 40,2 % consideraram a sua qualidade de vida como boa e 49,5 % consideraram nem ruim, nem boa. Em resposta ao quão satisfeito o participante estava com sua saúde, 35,9 % não estavam satisfeitos. Sabe-se que a saúde está interligada ao fornecimento adequado dos serviços de saneamento básico. No presente estudo, na perspectiva do território socioambiental, 63,6 residiam na zona rural, 41,8% possuem acesso a água por meio de rios, lagos ou poços, enquanto 58,2 % afirmam ter acesso a água encanada. Quanto ao acesso a saneamento básico, 33,7 % possuíam, enquanto 66,3% não possuíam esse serviço. Com relação ao sistema de coleta e tratamento de esgoto, 97,8% não possuem acesso a esse serviço; 67,9% residiam próximos a matas; 54,3 costuma ver o barbeiro em seu território; no entanto, 74,5% nunca recebeu orientações ou participou de atividades de educação em saúde sobre prevenção e cuidados com a doença de Chagas, e 98,9% não participava de nenhum grupo de educação em saúde. Reitera-se que os indivíduos têm direito a água potável e ao esgotamento sanitário, entretanto, esse direito é corrompido desfavorecendo   principalmente as populações pobres. É válido destacar as dificuldades relacionadas ao acesso às residências dos entrevistados na zona rural, como as estradas em condições precárias que configuraram obstáculos, já na área urbana as residências se localizavam em diferentes pontos da cidade. Dessa forma, percebe-se que, as construções precárias, comuns em meios rurais são locais propícios para abrigo do vetor de Chagas, aumentando assim a transmissão. Nota-se que os participantes do estudo vivem em condições de vulnerabilidade socioambiental e enfrentam carências estruturais e sanitárias em seu território de vivências. Cabe considerar que, a zona   rural, por   si   só apresenta   um   contexto     marcado   por características singulares, que vão desde sua configuração geográfica, expressa em grandes distâncias dos centros urbanos, até dificuldades de acesso a bens e serviços essenciais como alimentação, transporte, saúde e oportunidades, a exemplo, o emprego. Considerações finais: em   relação   aos   aspectos   sociais   e   econômicos é   importante   considerar   que determinantes socioeconômicos impactam, fortemente, o estilo de vida e os comportamentos que   influenciam   o   estado   de   saúde, essencialmente, em   populações   de   menor   nível socioeconômico e baixa escolaridade. Notoriamente a Doença de Chagas é considerada uma doença negligenciada, sobretudo por atingir populações mais vulneráveis. É importante considerar que a adequação dos serviços de saúde aos territórios exige a oferta de serviços adequados às necessidades de cada fração do território, assim, os serviços precisam ser organizados para atender às especificidades dos territórios, devendo se ajustar a eles e não o contrário. Nota-se que o perfil dos pacientes mais vulneráveis à patologia, permanece sendo em sua maioria de baixa renda e moradores da zona   rural, com   dificuldade   de   acesso   aos   serviços   de   saúde   representa   uma   realidade preocupante para o controle epidemiológico da Doença de Chagas. Destarte que, enquanto as políticas e serviços de saúde não forem direcionadas para as necessidades e territorialidades da população, a qualidade de vida e saúde das pessoas continuará sendo afetada negativamente, com acesso dificultado às suas necessidades e pouca visibilidade da sua real condição de saúde.

Referências:

MAGALHÃES, D. L. et al. Quality of life and health of people affected by Chagas disease. Research, Society and Development[S. l.], v. 9, n. 11, p. e41291110007, 2020.

SOUZA, C. L.; ANDRADE, C. S. Saúde, meio ambiente e território: uma discussão necessária na formação em saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 19, n. 10, p. 4113-4122, 2014.