Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Rodas de Conversa sobre Saúde dos Povos Indígenas 2021: protagonismo indígena na construção em encontros virtuais
Denis Delgado Delgado silva, Claudiana Brazão Lopes, Vandicley Pereira Bezerra, Raniel Martinha de Souza, Stefano Santê dos Santos, Larissa Eduarda Freire da silva, Cecília Malvezzi, Willian Fernandes Luna

Última alteração: 2021-12-20

Resumo


Apresentação: Profissionais que atuam na atenção à saúde indígena nos diferentes Distritos Sanitários Especiais de Indígenas têm trajetórias e processos de formação bastante heterogêneos, sendo muitas das vezes pouco específicos para atuar na atenção à saúde dos povos indígenas. Uma parte importante destes profissionais teve seus primeiros contatos com essas populações quando foram atuar nas aldeias, sendo que apenas uma parte pequena escolheu a saúde indígena como campo de atuação. Muitos possuem poucas competências para lidar com as especificidades dessas populações. A partir desse reconhecimento, são realizadas desde 2016, as Rodas de Conversa sobre Saúde dos Povos Indígenas, como atividades de extensão na Universidade Federal de São Carlos, por professores do departamento de Medicina em parceria com o Programa de Educação Tutorial (PET) Indígena - Ações em Saúde. Esse grupo PET tem por objetivo buscar a aproximação entre os saberes indígenas, ambiente universitário e a sociedade em geral, para assim propiciar conhecimento e reflexão sobre a complexidade da saúde indígena em diferentes culturas. Devido ao período da pandemia de COVID-19, as Rodas de Conversa em 2021 tiveram que ser reorganizadas em atividades virtuais, sendo este o foco deste relato de experiência.

Desenvolvimento do trabalho: No âmbito das Rodas de Conversa foi considerado o universo de comunidades indígenas com distintos processos históricos e construções culturais, dispersas por todo o território brasileiro, sendo defendido que a atuação nas aldeias indígenas é uma possível escolha dos atuais estudantes da área da saúde. Os encontros foram baseados nos Círculos de Cultura de Paulo Freire e outras metodologias ativas de ensino-aprendizagem. O grupo organizador é interdisciplinar e conta com estudantes indígenas dos povos Atikum-Umã, Baré e Ticuna, que são dos cursos de Medicina, Enfermagem, Terapia Ocupacional, Educação Especial e Pedagogia. Os dois professores são médicos de família e comunidade, com experiência em saúde indígena. Os eventos foram realizados em formato virtual, síncronos, utilizando-se a plataforma Zoom. Foram desenvolvidas duas Rodas de Conversa, com quatro horas de duração cada. As inscrições foram realizadas previamente por meio de um formulário eletrônico. As atividades foram conduzidas, em grande e pequeno grupo, pelo grupo organizador. A primeira Roda de Conversa ocorreu no dia 26/05, com a temática “Indígenas na Universidade: para quê e para quem?”. Foram abordados os temas relacionados às ações afirmativas, diversidade e equidade na educação superior, aos indígenas em contexto urbano e preconceitos, entre outros. Nesse primeiro encontro, tivemos 25 participantes. A segunda Roda de Conversa foi realizada no dia 30/06, com a temática “Cosmologias indígenas: conflito ou potência no trabalho em saúde?”. Foram abordados temas relacionados às cosmologias indígenas, à cosmovisão dos povos indígenas e suas relações com a saúde indígena. Nesse encontro, foram 22 participantes. Os participantes das duas Rodas de Conversa foram compostos por indígenas e não indígenas, dentre esses profissionais de saúde, da educação, estudantes de graduação de diversos cursos, mestrando/a, doutoranda, docentes universitários, representantes de 8 universidades, federais e estaduais. Também contamos com a presença de professoras de duas escolas da educação básica. A faixa etária do público presente variou de 20 a 44 anos. A atividade no formato remoto possibilitou atingir estudantes e profissionais de outras universidades, de diversos estados, que puderam somar e enriquecer as discussões dos dois encontros das Rodas de Conversa que ocorreram no ano de 2021.

Impactos: No processo de avaliação dos encontros, os participantes preencheram um formulário, quando consideraram as Rodas de Conversa com os conceitos “Bom” e “Ótimo”. Os critérios utilizados pelos participantes para atribuírem esses conceitos foram: a importância e relevância dos temas; a possibilidade de realizar troca de experiências; terem sido ricos os relatos de vivências de cuidados tradicionais e da medicina ocidental e o fato do momento ter oportunizado o diálogo com saberes que não conheciam. Ressaltaram que as discussões e trocas de conhecimentos complementaram seus saberes sobre os temas tratados nos dois encontros, e que as discussões os levaram ao reencontro com a própria história do Brasil, conhecimentos das lutas coletivas dos povos indígenas na garantia dos seus direitos, a importância do saber da medicina científica e o conhecimento tradicional indígena de quando falamos e tratamos da saúde indígena, entre outras explicações. Os participantes destacaram que a atividade os ajudou a ampliar seus conhecimentos, pois os debates se enriqueceram com a diversidade de pessoas presentes, possibilitando a aproximação com diferentes tipos de perspectivas e de conhecimentos. Reforçaram que a dinâmica de socialização entre os participantes, que ocorreu a partir das perguntas provocadoras dos encontros, deu espaço à escuta, abrindo a possibilidade de fala para todos os participantes, permitindo que todos pudessem expressar suas ideias. Quanto aos estudantes indígenas organizadores, destacaram que desenvolver essas atividades foi um meio de trazer visibilidade às questões indígenas na Universidade, podendo dialogar com outros indígenas e não indígenas. Além disso, relataram que para além do aprendizado sobre os assuntos, as Rodas de Conversa oportunizaram que expusessem quem realmente são, quebrando estereótipos. A escolha dos conteúdos abordados durante o percurso, com a participação ativa dos indígenas na organização das Rodas de Conversa, permitiu o protagonismo indígena. A possibilidade de terem autonomia na mediação de pequenos grupos de participantes, com valorização de seus saberes, foi também destacada como uma característica importante das atividades.

Considerações finais: As Rodas de Conversa, realizadas de forma virtual, buscaram trabalhar a partir da identificação dessa lacuna importante na formação de profissionais de saúde, reconhecendo como essencial o despertar da sensibilidade para reconhecer a diversidade e lidar com situações de diálogo intercultural. O fato de serem realizadas de forma virtual permitiu a participação de pessoas de outras cidades, regiões e instituições, sendo essa uma importante potencialidade desse modelo de atividade. Reconhecendo-se algumas limitações do modelo virtual, como as dificuldades de acesso à internet e a pouca participação das pessoas mais tímidas, todavia buscou superar essas questões por meio de atividades em pequenos grupos. Portanto, nas Rodas de Conversa sobre Saúde dos Povos Indígenas buscou-se construir um espaço para conhecer e refletir sobre a complexidade da saúde das comunidades indígenas, dialogando sobre as diferentes culturas, sistema de saúde específico, concepções do processo saúde-doença, propiciando aproximação inicial sobre o contexto de saúde indígena no Brasil.