Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Direito à Comunicação e Educação em Saúde: Perspectivas em Projetos com a População em Situação de Rua no Brasil
Paulo Vitor Rodrigues da Silva, Luísa da Matta Machado Fernandes, Ana Maria Caldeira Oliveira, Ana Luisa Jorge Martins, Andreza Fernanda de Oliveira, Lavínia Bárbara do Couto Pereira, Helvécio Miranda Magalhães Júnior

Última alteração: 2022-01-12

Resumo


Apresentação: A educação em saúde é um processo educativo de apropriação de conhecimentos sobre saúde que, quando ampliada, perpassa desde o desenvolvimento de políticas públicas que dialogam com as especificidades da população, até pedagógicas libertadoras que promovem a autonomia do sujeito no cuidado e gerenciamento da própria vida. Neste sentido, comunicar saúde não deve se restringir a somente transmitir informações, pois ocasionaria em uma relação simplória entre comunicação e mudança de comportamento, que tende a ser menos efetiva. A correlação entre comunicação e saúde parte do  entendimento de que a comunicação é fator social fundamental e decisivo para a completa efetivação do direito à saúde do indivíduo. Entendendo que o direito à saúde é multidimensional, correlacionado com a capacidade de transformar a si mesmo e ao seu entorno mediante o acesso a condições mínimas para viver, a comunicação e educação em saúde carregam consigo a capacidade de empoderar e transformar realidades de pessoas em situação de vulnerabilidade, como as Pessoas em Situação de Rua (PSR). O presente trabalho é parte da  pesquisa “Alcance das políticas de proteção social e de saúde do município de Belo Horizonte para a População em Situação de Rua (PSR) frente à pandemia da Covid-19”, coordenada pelo Grupo de Políticas Públicas em Saúde e Proteção Social do Instituto René Rachou Fiocruz-Minas, financiada pelo edital INOVA: Territórios Saudáveis e Sustentáveis. A pesquisa busca averiguar a efetividade das ações de proteção social e cuidado em saúde para a PSR no município de Belo Horizonte/MG durante a pandemia da Covid-19, bem como compreender as estratégias de rede desenvolvidas, incorporando a sociedade civil e movimentos sociais, além das estratégias de sobrevivência desenvolvidas pela PSR durante o período. O projeto de pesquisa tem como um de seus compromissos a produção de territórios saudáveis e sustentáveis e a inclusão das pessoas em situação de rua nas discussões de políticas públicas de saúde e proteção social voltadas a elas. Assim, com o intuito de desenvolver estratégias específicas para o público da PSR e divulgação dos resultados dessa pesquisa, identificou-se a necessidade de discutir ações de comunicação em saúde que promovam a autonomia e participação dos sujeitos. Iniciou-se um levantamento exploratório de outros projetos de pesquisa e extensão com público alvo similares para identificar como desenvolveram a comunicação na perspectiva da educação em saúde.

Objetivo: Este estudo apresenta um levantamento de projetos no território brasileiro, voltados para PSR e pessoas em situação de vulnerabilidade, que têm em seus escopos perspectivas de comunicação, educação e o direito à saúde.

Desenvolvimento do trabalho: Foram utilizadas duas estratégias de levantamento dos projetos: 1) identificação de projetos de pesquisa e de extensão em universidades federais e estaduais brasileiras voltados para a PSR e pessoas em situação de vulnerabilidade; 2) identificação de projetos para a PSR e pessoas em situação de vulnerabilidade, por estado e capital brasileira. Na primeira estratégia, a busca foi feita utilizando as palavras-chave: pessoas em situação de rua, projeto, vulnerabilidade, universidade (sigla correspondente à universidade federal ou estadual brasileira). Para a segunda estratégia, as palavras-chave foram: projeto, pessoas em situação de rua, moradores de rua, vulnerabilidade, estado e capital do estado. Foram coletadas informações disponíveis em uma gama de sites, e selecionadas aquelas que continham no mínimo: título, objetivo, metodologia e estratégia de comunicação. Optou-se por realizar uma busca na literatura cinzenta, considerando que na maioria das vezes esses projetos não têm seus resultados avaliados e sistematizados em publicações acadêmicas. Após o levantamento dos projetos, a partir das informações públicas disponíveis estes foram categorizados quanto ao: ano, cidade, estado, região, instituição, tipo de projeto, objetivo, metodologia geral, ações de comunicação/educação em saúde, temáticas principais abordadas pelo projeto, público-alvo, principais estratégias de comunicação e avaliação de impacto/resultados das estratégias de comunicação.

Resultados: Deste modo foram identificados 52 projetos, sendo 46 incluídos na análise. Com base neste levantamento, podemos destacar que 37 são direcionados para a PSR, e 9 contemplam além da PSR, outros grupos em situação de vulnerabilidade. Observou-se  que 23 iniciativas são relativas a projetos de extensão, 27 pertencem à temática da assistência social, 11 trazem uma perspectiva de acesso a direitos e 1 sobre habitação. Quando a educação e comunicação, 12 projetos possuem um caráter educativo e 8 são projetos específicos de comunicação. Sobre as principais e recorrentes estratégias utilizadas, 9 projetos realizam oficinas, 8 entregam kit de suprimentos e 3 realizam reuniões periódicas. Em 14 dos 46 projetos é apontado algum tipo de impacto da comunicação sobre a população alvo, entretanto, estes resultados não discutem a autonomia do indivíduo frente às estratégias. A maior  parte das estratégias de comunicação utilizadas nos projetos é apresentada como uma forma de suporte à PSR e pessoas em situação de vulnerabilidade, sendo este suporte caracterizado pela suplementação de elementos ausentes ou insuficientes para a manutenção da vida, como alimentação, higienização, habitação, entre outros. Oito projetos se destacaram nas ações de comunicação e educação em saúde com promoção da autonomia dos sujeitos utilizando estratégias como: oficinas de arte-educação e cidadania, produção de matérias que geram renda (canecas, canetas e ecobags), reuniões comunitárias, cursos de capacitação, dentre outras.

Considerações finais: Diante do levantamento é possível destacar a importância da  incorporação, nos mais diversos projetos voltados para a PSR e pessoas em situação de vulnerabilidade, a visão ampliada de direito à saúde e comunicação e educação em saúde. Sua importância se encontra na potencialidade destes sujeitos poderem se tornar mais independentes no pensar e agir, e conseguirem escolher como desejam conduzir suas vidas, quando se apropriam da temática. Além disso, podem também contribuir para o desenvolvimento de soluções, dentro de suas realidades, que sejam capazes de diminuir as desigualdades. Quanto ao processo de comunicação e educação em saúde, quando ele contempla as especificidades do seu público alvo e os coloca como atores protagonistas do seu processo de construção, os resultados tendem a serem mais consistentes. Podendo proporcionar ainda, no quesito educação em saúde, a autonomia do indivíduo sobre o cuidado com a própria saúde. Comunicar saúde para a sociedade em geral não ocorre da mesma maneira do que para a PSR, devido ao fato dos recursos de comunicação e educação disponíveis para cada população serem diferentes. O processo de comunicação voltado para educação em saúde centralizado nas especificidades da PSR possibilita que estas sejam protagonistas na construção de políticas públicas de seu interesse. Nesta perspectiva, o presente projeto de pesquisa busca atender essas premissas ao incluir representantes do Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR) no acompanhamento da pesquisa, e ao planejar atividades específicas de devolução dos achados aos diferentes grupos do projeto. Este levantamento irá subsidiar o desenvolvimento de estratégias de comunicação e educação em saúde que melhor se enquadre aos públicos alvos da pesquisa, em busca que a participação destes na avaliação de políticas públicas, bem como apropriação dos resultados da pesquisa, possam contribuir para qualificação da rede de cuidado à PSR, promovendo a  autonomia dos sujeitos e sua inclusão na perspectiva do direito à saúde.