Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Estudantes de Farmácia e Doença de Parkinson: o exercício da sensibilidade, a mudança no olhar, o impacto na aprendizagem e a arte
Lays Fialho da Silva Cabral, Gabrielli de Lima Macedo, Amanda Nascimento F. B. Osório, Magda Souza Chagas

Última alteração: 2022-01-03

Resumo


APRESENTAÇÃO

Este trabalho objetiva relatar a experiência, demonstrar o encontro de discentes da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal Fluminense com pessoas portadoras da Doença de Parkinson e assim o exercício da sensibilidade, do olhar diferenciado e focado na humanização do cuidado. Através do Projeto de Extensão: Diálogos e Narrativas, onde, as alunas, buscam, a partir do contato direto com o Parkinsoniano, a essência artística de cada um, visto que, desde o primeiro contato (virtual), as duas pessoas com Parkinson que participam do projeto, demonstram que suas vidas giram em torno da arte e que se tornaram intrínsecos, um só, com ela. Assim, as alunas observaram ser impossível falar sobre cada um deles sem pensar na arte e como ela está presente diariamente na vida dos mesmos. Também é de interesse deste trabalho, abordar a possibilidade do impacto na aprendizagem das três estudantes de Farmácia que compõe este projeto de extensão e que acompanham juntas, Chefe e Professora de Artes (nomes fictícios), duas pessoas que vivem e convivem com a Doença de Parkinson. Quais efeitos essa abordagem sensível e humanizada terá na futura vida profissional de cada uma das alunas e como elas esperam que essa aproximação direta com Parkinsonianos agregará a vida profissional? É a pergunta que nos acompanha. Ao mesmo tempo em que é desejo saber: Quais os efeitos e impactos os encontros repercutem e desdobram na vida de Chefe e Professora de Artes? Pessoas que aceitaram compartilhar conhecimento, artes e construir convivências.

DESENVOLVIMENTO

Em termos rígidos, o Parkinson é uma doença neurodegenerativa progressiva, crônica, caracterizada por bradicinesia (redução da velocidade dos movimentos), rigidez, instabilidade postural e, o mais conhecido, tremor de repouso, o qual não ocorre em toda pessoa com Parkinson. Em termos vividos na prática diariamente por Parkinsonianos, o Parkinson está presente na dificuldade de segurar um copo d'água, abrir um frasco para tomar o medicamento, dependência de familiares e/ou amigos, reviravolta de vida, adaptação a uma rotina inesperada e totalmente diferente, quedas constantes e dificuldade para andar, entre outros frequentes obstáculos. Pensando em destoar e seguir um caminho diferenciado daquele visto acima, que o Chef e a Professora de Artes tanto vivenciam cotidianamente, o Projeto de Extensão: Diálogos e Narrativas, trouxe-os a possibilidade de serem colocados em evidência pela pessoa em essência que os torna quem são. Com um olhar focado na valorização de experiências vividas por cada um ao longo de suas vidas, através do acolhimento, da escuta e da construção de uma relação forte e de confiança entre todos e todas envolvidas(os) no projeto. Assim, utilizamos uma metodologia para reunir histórias, experiências, perguntas, dúvidas, e tudo o mais que eles quisessem levantar ao longo dos encontros, passeando por uma perspectiva além do olhar exclusivo do Parkinson, que não os resume. Para recolher essas experiências de vivência de cada um dos Parkinsonianos, narrativas como recurso metodológico foram utilizadas. Essas narrativas foram recolhidas pela professora e alunas do projeto, através de ligações, mensagens de texto e áudios através de plataformas virtuais, como Google Meet e WhatsApp, além da própria elaboração de narrativas escritas das discentes. Encontros semanais entre as alunas e a professora foram marcados para a discussão de ideias e para o processamento, compartilhamento de percepções, sentimentos e construção de abordagem, e encontros quinzenais com o Chef e a Professora de artes, separadamente um do outo, também foram estipulados de acordo com a disponibilidade de todos e todas. Devido a situação de pandemia, encontros presenciais não foram usados como recursos até a vacinação completa das partes integrantes.

RESULTADO

Chefe trabalhava como chefe de cozinha antes do diagnóstico. É uma pessoa completamente desbravadora, que gosta e se anima diante de desafios, disse que sua maior paixão é resolver problemas. Escritor de poemas, não perde uma chance de escrever quando a arte o chama, e ele logo arruma onde escrever, em uma caixa de pizza! Quando perguntado, disse que era pela comodidade e maior facilidade do espaço sem barreiras que a caixa de pizza oferece. Professora de Artes é uma artista visual, de pinturas repletas de cores, formas, tamanhos, abstrata e figurativa, que vê arte na reciclagem, especialmente nos vidros de remédio que toma mensalmente, na caixa de ovo e nas cápsulas de café que viram sinos para enfeitar as árvores natalinas, uma pessoa preocupada com a natureza que vê na reciclagem a arte que ama. É nítido a diferenças que faz para as duas pessoas apresentadas acima terem um lugar de abertura para troca de conversas, onde sentem-se acolhidos, pertencentes, escutados e confiantes para fazer essa troca de diálogos e narrativas tão importante na arte do cuidado humanizado. Um lugar em que não são resumidos estritamente ao Parkinson, onde é de interesse geral conhecê-los no âmago de suas histórias tão valiosas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estar acompanhando Chefe e Professora de Artes se torna significativo além da experiência profissional direta com o cuidado humanizado, que envolve a escuta sensível frente ao usuário/paciente que precisa dessa postura empática diante do cuidado com a saúde. Ter um contato focado no desfoque da doença provoca mudança interior nas alunas, uma vez que se preparam antecipadamente para os encontros e buscam o melhor jeito de trabalhar com os diálogos e narrativas. Trecho escrito pelas três graduandas do Projeto sobre o impacto do mesmo em suas formações, com vistas às vidas profissionais: “O projeto me permite estar em lugares que todo profissional da saúde deveria estar, do acolhimento, da troca de afeto e atenção. Poder acessar o que a pessoa com DP e aquelas que convivem com ela vivem é entender que a subjetividade e a beleza da vida ultrapassam as dificuldades de uma doença, muitas vezes desconhecida. Para minha formação como futura farmacêutica, as narrativas permitem uma construção crítica e reflexiva.” “Ter a oportunidade de adentrar no mundo do Parkinsoniano, escutando suas histórias, suas vivências, dificuldades e superações elucida um cenário de prática do cuidado que eu nunca tinha testado antes e que hoje enxergo como sendo de extrema importância para o desenvolvimento da saúde do paciente.” “O projeto de extensão diálogos e narrativas trouxe para mim o que mais sinto falta durante esse período de distanciamento causado pela pandemia, o contato. Contato com novas pessoas, novas vivências, experiências e opiniões. É a partir desse contato com o projeto, da comunicação concreta com diálogos e narrativas, que me sinto mais próxima da minha futura profissão. O projeto me mostra a cada encontro que diagnóstico não define pessoa, e me faz exercitar cada vez mais a ação da escuta e a identificar a singularidade de cada Parkinsoniano.