Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2022-03-02
Resumo
Apresentação: A Residência Multiprofissional em Saúde da Família (RMSF) é uma modalidade de pós-graduação lato sensu cuja finalidade é desenvolver competências dos profissionais de saúde para o trabalho no Sistema Único de Saúde (SUS), com visão humanista, reflexiva e crítica, qualificados para o exercício na especialidade escolhida, com base no rigor científico e intelectual, pautados em princípios éticos, com ênfase no desenvolvimento de práticas interprofissionais. No desenvolvimento da residência, o preceptor assume o papel de orientador de referência para os residentes no desempenho das atividades práticas vivenciadas no cotidiano da atenção e gestão em saúde, acompanhando as atividades no âmbito profissional ou institucional com uma intencionalidade orientadora, formativa e transformadora. Além disso, busca-se, durante a RMSF, o desenvolvimento de uma atuação interprofissional entre os residentes. A interprofissionalidade é considerada como fundamental para o enfrentamento dos complexos problemas sociais e sanitários, uma vez que amplia a resolutividade e a qualidade da atenção em saúde. Em 2020, no estado do Espírito Santo, iniciou-se o programa de RMSF do Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação (ICEPi) com campos de atividades práticas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de diversos municípios capixabas. Assim, considerando o contexto apresentado, este estudo objetivou relatar a experiência de preceptores da RMSF e sua contribuição para o desenvolvimento da interprofissionalidade pelos profissionais residentes, de uma UBS localizada em um município da região metropolitana da Grande Vitória, no ES.
Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência. A experiência ocorreu nos meses de outubro de 2020 a novembro de 2021. Os preceptores são profissionais efetivos lotados na UBS, campo de prática da residência, que participaram de um processo seletivo realizado pelo ICEPi e receberam residentes de núcleos de saberes diversos (enfermagem, fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicologia, serviço social e odontologia). Os residentes de enfermagem e odontologia se encontram inseridos nas Equipes de Saúde da Família (eSF) e as demais categorias profissionais atuam por meio do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (NASF). Para os preceptores é ofertada uma capacitação, durante o decorrer da residência, em forma de encontros periódicos com diferentes temáticas que devem ser abordadas dentro do contexto da Atenção Primária à Saúde (APS) e fundamentais para o desenvolvimento da preceptoria em campo de prática. É imprescindível destacar que a RMSF do ICEPi é o primeiro programa de residência em Saúde da Família conduzido no ES e tem como base o currículo orientado por competência, utilizando uma metodologia ativa no contexto teórico-prático durante o processo de formação dos profissionais no e para o SUS.
Resultados/Impactos: Observa-se que durante o período em que a residência iniciou suas atividades no cenário de prática, os preceptores inseriram os residentes no contexto da Estratégia Saúde da Família (ESF) em toda sua extensão, promovendo a acolhida por parte dos demais profissionais que atuam na UBS e apresentando o território de abrangência, com seus equipamentos e peculiaridades. Neste sentido, alguns espaços e atividades são ofertados aos residentes, com o intuito de colaborar com o processo de formação dos mesmos, incluindo oportunidades de atuação interprofissional, priorizando o trabalho em equipe. Assim, o espaço das reuniões de equipe, por exemplo, tem-se demonstrado essencial para o desenvolvimento dos residentes com a equipe na qual estão inseridas, proporcionando a relação interpessoal e criação de vínculo, assim como a realização de intervenções tanto para o coletivo, através das ações de saúde no território, quanto para o individual, promovendo resolutividade nos casos discutidos ao aplicar os princípios da clínica ampliada. Após as reuniões de equipe, os casos de maior complexidade são encaminhados para discussão pela equipe NASF, sendo que, a partir desse momento são agendados os atendimentos compartilhados, incluindo os residentes, que atualmente são maioria no quadro de profissionais do NASF e tem papel fundamental na manutenção do funcionamento do mesmo dentro dos serviços. As reuniões com os equipamentos da Rede de Atenção à Saúde (RAS) e os matriciamentos promovem a interação dos residentes com os atores externos que compõe todo o sistema de saúde, tornando visíveis os níveis de atenção em saúde e suas funções, possibilitando também a aquisição de conhecimento sobre a atuação de forma intersetorial, elaboração de planos terapêuticos e discussão de casos com as equipes de referência. Semanalmente, são realizadas visitas domiciliares pelos residentes, que agregam conhecimento sobre o território no qual estão inseridos, possibilitando também a atuação fora do contexto habitual de atendimento dentro do consultório, relacionando os aspectos socioculturais nas condições de vida e saúde dos sujeitos. É importante enfatizar que uma das propostas da Unidade Educacional de Gestão e Cuidados Coletivos (UEGCC) da RMSF para realização no território pelos residentes é a elaboração de um Diagnóstico Situacional da UBS enquanto etapa do Planejamento Estratégico-Situacional desenvolvido durante os 24 meses de duração do programa, tornando visível as fragilidades e potencialidades do território para a equipe de profissionais que atuam na ESF, culminando na elaboração de propostas de ações e serviços com base no perfil epidemiológico da população adscrita. Além disso, destaca-se, enquanto oportunidades e espaços para a atuação interdisciplinar dos residentes na UBS, a realização do Grupo Terapêutico de Mulheres, as ações desenvolvidas no Programa de Saúde do Escolar e o Grupo de Gestantes, que contam com a participação de todos os residentes dos diferentes núcleos de saberes, agregando conhecimentos e experiências para a realização das ações de educação em saúde, Considerações finais: Com a implantação do programa de RMSF, o ICEPi propôs a utilização de estratégias pedagógicas capazes de promoverem no profissional residente o desenvolvimento do pensamento crítico - reflexivo e a formação integral, interdisciplinar, com a integração de saberes e práticas que permitam construir competências compartilhadas para a consolidação do processo de formação em equipe, visando as necessidades de mudanças no processo de formação, do trabalho e da gestão na saúde no SUS. Ao considerar que um dos fundamentos da RMSF é a interdisciplinaridade, e que ESF enquanto modelo assistencial da APS no Brasil, organiza o trabalho em equipes, promove atuação intersetorial e orienta suas práticas a partir das necessidades de saúde do território, o intuito das ações supracitadas no contexto da APS tem sido promover aos residentes a habilidade de atuar em conjunto com uma somatória de conhecimentos, para que as profissões aprendam entre si, com e sobre as outras, em prol da integralidade do sujeito em seu espaço social. Além do crescimento profissional e pessoal, espera-se que haja uma transformação nos serviços onde a RMSF está inserida, fato este, que tem sido observado no referido cenário de prática através das ações já realizadas nesse curto período de tempo de atuação no território. Para o preceptor, a RMSF trouxe uma possibilidade de crescimento profissional e pessoal através da capacitação ofertada pelo ICEPi, assim como, a organização dos serviços em que estes profissionais estão inseridos, exigindo também dos mesmos, a implementação das Politicas de Saúde já definidas no SUS. No que tange a interdisciplinaridade, com a chegada da RMSF, a variedade de profissões levou os preceptores e demais profissionais lotados na UBS a realizarem uma interação com estes atores e atuação dentro deste novo contexto capaz de mudar os paradigmas dos processos de trabalho anteriormente instalados, no qual considerava cada saber isolado.