Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Cuidar de quem cuida: uma ferramenta para o aprendizado
Manoela Cassa Libardi, Célia Márcia Birchler, Daniele Stange Calente

Última alteração: 2022-01-27

Resumo


APRESENTAÇÃO

Essa experiência retrata a implantação de três programas de residências multiprofissionais: Cuidados Paliativos, Saúde da Família e Saúde Mental que iniciaram em março de 2020, exatamente com o início da pandemia da Covid 19. Além de todos os desafios que permeiam o início das atividades de quaisquer programas de residência em saúde, o advento de iniciar juntamente com um grande problema de saúde pública, impôs aos coordenadores a necessidade de adaptação a um cenário que ninguém estava preparado para enfrentar.

Os projetos pedagógicos foram elaborados em 2019 na perspectiva da abordagem crítico reflexiva e no que preconiza a educação permanente enquanto prática transformadora, cujo intuito é despertar nos profissionais uma construção de consciência crítica e raciocínio reflexivo para lidar com a realidade e transformá-la, corresponsabilizando-se com a saúde da população.

A matriz curricular foi elaborada a partir da definição de áreas de competência que se organizam em Unidades Educacionais (UE), sendo algumas comuns a todos os programas como as: UE de Prática Profissional, UE de Investigação em Saúde e UE de Gestão e Cuidados Coletivos.

Apesar de todo o planejamento organizado para o início das atividades, fomos surpreendidos pela pandemia e com ela, a necessidade de reprogramar absolutamente tudo, incluindo conteúdos e metodologias.

A dimensão dessa experiência envolve as coordenadoras dos três programas citados e os residentes que ingressaram na turma de 2020, somando 89 residentes e, de forma direta e/ou indireta os preceptores, num total de 45.

Vale ressaltar que esses três programas abrangem 10 categorias profissionais e os cenários de prática são as Unidades Básicas de Saúde, Centros de Atenção Psicossocial e Hospitais da Rede Estadual.

O objetivo deste trabalho é relatar a experiência vivenciada pelas coordenadoras a frente do processo de formação desse coletivo de residentes numa atividade de tutoria sobre o cuidado em saúde mental no período de pandemia.


DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

Considerando a diversidade de categorias profissionais e de cenários de campo, propusemos a realização de uma enquete onde os residentes deveriam entrevistar trabalhadores da saúde e usuários sobre como lidavam com aspectos emocionais relacionados à pandemia. Por se tratar de uma enquete para fins de planejamento de ações do serviço, na perspectiva da educação permanente e da gestão do trabalho em saúde, não houve necessidade do uso de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Os objetivos da enquete eram: compreender aspectos do âmbito psicossocial que interferiam no cotidiano da vida de profissionais de saúde e da população usuária dos serviços; e refletir acerca de possibilidades de ações no trabalho que minimizem o sofrimento emocional ocasionado pela pandemia, a partir da implementação de medidas de intervenção.

Os residentes elaboraram o roteiro da enquete com questões abertas, no intuito de identificar como as pessoas, trabalhadores de saúde e usuários, estavam se sentindo com relação aos aspectos emocionais que envolvem a Covid 19. A orientação foi que realizassem a entrevista com no mínimo 10 pessoas, sendo 50% usuários e 50% trabalhadores de saúde. A enquete foi realizada pessoalmente, por telefone ou outra ferramenta disponível para conversa à distância.

Na sequência, as respostas foram agrupadas de acordo com cada eixo, separando por trabalhadores de saúde e usuários. Eixo 1 - dados de identificação do entrevistado, se faz parte do grupo de risco do COVID-19; Eixo 2 – medidas de prevenção e educação em saúde relacionadas a Covid 19; Eixo 3 – percepção do processo de adoecer e seus aspectos psicossociais.

Vale destacar que essa atividade foi proposta no mês de junho de 2020 e se desenvolveu por cerca de um mês até a web de apresentação dos resultados, ou seja, auge da pandemia no estado. Essa era, inclusive, uma preocupação: como “tirar” um profissional do serviço para fazer uma entrevista para a residência? A nossa orientação era de não forçar, deixar a vontade e entrevistar apenas os que aceitassem. Os grupos tiveram muitas adesões, o tempo foi curto para tantas falas.

O momento final foi uma web integrada entre os três programas de residência e apesar da atividade ter tido um encerramento na tutoria, nos cenários de prática foram vários os desdobramentos, com ações voltadas para o cuidado das consequências da pandemia na saúde mental das pessoas assistidas pelos serviços de saúde e pelos trabalhadores desses serviços.


RESULTADOS E/OU IMPACTOS

Essa atividade nos possibilitou tirar diversos apontamentos e aprendizagens, a começar pelo fato de que precisávamos ter no âmbito da formação dos residentes espaços para o desenvolvimento de habilidades psico afetivas e atitudinais de proteção de sua própria saúde mental, com a oportunidade de fala das angústias que traziam dos cenários de prática.

O potencial da atividade apontou que as ações educativas são mais do que ferramentas de ensino aprendizagem, são também instrumentos que suscitam emoções e sentimentos, espaços para reflexões sobre o que temos e o que somos como profissionais, nossas fragilidades também se apresentam.

O principal potencial foi como essa enquete possibilitou a reflexão não somente sobre o que temos de fragilidade mas também de potencialidade enquanto pessoas e serviços, e dessa forma, muitas ações foram propostas, a partir das iniciativas dos residentes e seus preceptores.

A atividade deixou frutos nos cenários de prática, algumas destas foram adaptadas, conforme a situação epidemiológica da pandemia e de acordo com os recursos adquiridos nos campos de prática, assim como, com o avanço na qualificação de residentes e preceptores.

Como os projetos: Cartas pra você; Cuidando de quem cuida; Marmitas afetivas; Acolhimento afetivo; Inovando no cuidado: o uso das redes sociais


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da experiência percebemos o quanto a Educação é potente, superando barreiras e vencendo obstáculos que nos amedrontam como uma pandemia na dimensão da Covid 19. Tivemos que enfrentar o desafio de iniciar os programas de residência em saúde com a chegada da pandemia. Além das questões acadêmicas e pedagógicas, precisávamos estar atentos aos aspectos emocionais e dar suporte aos residentes para que pudessem contribuir em seus respectivos cenários de prática no controle e enfrentamento da pandemia.

São esses desafios da prática educacional que nos movem, e nos fizeram buscar alternativas, enquanto coordenadores e educadores, apoiando nossos residentes, que apesar de serem profissionais de saúde, carregam em sua maioria, a marca de serem recém formados, com muito medo do enfrentamento do que tinham pela frente, mas buscaram em si, no coletivo, nos serviço, na rede de apoio, estrutura para pensar e planejar ações de apoio ao cuidado àqueles que estavam tão ou mais necessitados nos serviço. Aprendemos e vamos seguir aprendendo com o cotidiano da prática, que nos ensina, ao mesmo tempo que nos motiva a seguir.