Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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ATUAÇÃO DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE DE UM MUNICÍPIO CEARENSE NO CONTEXTO DA PANDEMIA DA COVID-19
Rafael Bezerra Duarte, Stefanny Raaby Alves de Lavor, Kerma Márcia de Freitas, Clélia Patrícia da Silva Limeira, Ana Suelen Pedroza Cavalcante, Olga Maria de Alencar, Mirna Neyara Alexandre de Sá Barreto Marinho, Maria Rocineide Ferreira da Silva

Última alteração: 2022-01-18

Resumo


Apresentação: Considerando o papel de destaque, enquanto trabalhadores da saúde integrantes das Equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF) na busca da integração da vigilância com a Atenção Primária à Saúde (APS), no que se refere à promoção, prevenção e controle de agravos, nesse período de pandemia da Covid-19, os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) têm se configurando como protagonistas do cuidado, uma vez que atuam na linha de frente dentro das unidades e nos territórios que trabalham. Neste período pandêmico, a atuação do ACS tem sido essencial para auxiliar na contenção da transmissão do novo coronavírus, pois tem realizado seu trabalho principalmente através de práticas de educação em saúde, levando informações adequadas e apoiando na identificação e na vigilância ativa de casos suspeitos e confirmados de Covid-19. Diante do exposto, o presente estudo tem como objetivo, compreender a atuação dos Agentes Comunitários de Saúde de um município cearense no contexto da pandemia da Covid-19. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo exploratório, descritivo, com abordagem qualitativa. O presente estudo foi desenvolvido no município de Orós, localizado na região Centro Sul do estado do Ceará (CE), nordeste do Brasil, distante 341,1 km da capital Fortaleza. O município de Orós, faz parte da 17ª Área Descentralizada de Saúde (ADS), juntamente com outros 06 municípios (Cedro, Umari, Icó, Ipaumirim, Lavras da Mangabeira e Baixio). Contudo, o cenário da pesquisa foram as ESF localizadas na zona urbana do referido município. A escolha pelo município se justifica pelo fato de apresentar 100% de cobertura de equipes de ESF, assim como por terem em todas as ESF a cobertura de ACS. Participaram da pesquisa 13 ACS que atuam nas equipes de ESF da zona urbana, após se enquadrarem nos critérios de inclusão. A coleta de dados foi realizada nos meses de setembro e outubro de 2021 por meio de uma entrevista semiestruturada, gravada na íntegra, integrando um roteiro que acompanhou os direcionamentos dos objetivos da pesquisa. Também, foram coletados os dados sociodemográficos dos participantes. Tendo em vista a pandemia da Covid-19, as entrevistas foram feitas em um local apropriado, onde foram consideradas todas as recomendações do Ministério da Saúde (MS). Logo, medidas foram adotadas visando a não contaminação, como, distanciamento de dois metros entre os participantes, higienização dos espaços, cadeiras, mesas entre outros objetos compartilhados, antes e depois das entrevistas, utilização de Equipamento de Proteção Individual (EPIs) (máscaras, luvas, aventais e álcool em gel) tanto pelos participantes, como pelos pesquisadores. No que se refere a análise dos dados, os sociodemográficos foram analisados de forma descritiva. Já os dados qualitativos advindos das entrevistas, foram analisados por meio da técnica de análise de conteúdo proposto por Bardin. O presente estudo foi desenvolvido em conformidade aos princípios da resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, e teve aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário Dr. Leão Sampaio por meio do Parecer de nº 4.943.930.  Ainda, a pesquisa não apresentou conflitos de interesse, e todos os materiais e recursos financeiros necessários foram de total responsabilidade dos pesquisadores. Resultados: Diante dos achados, em relação ao perfil dos participantes pode-se evidenciar que a maioria dos ACS eram do sexo feminino, casadas ou em união estável, com idade entre 26 a 45 anos, todos tinham escolaridade acima do ensino médio completo, destacando a presença de profissionais com graduação e pós-graduação, assim como, mais de 90% tinham o curso de 400h para ACS. Ainda, todos são estatutários, e a maioria possui renda de um a dois Salários Mínimos. No que se refere a área de atuação, prevaleceu as que atuam nas periferias, e em relação ao tempo de atuação, a maioria tem mais de 6 anos de trabalho tanto como ACS quanto na mesma equipe. Quanto aos dados obtidos nas entrevistas, estes foram agrupados por conteúdo similares, e após análise emergiram três categorias temáticas. A primeira categoria foi denominada de “Atribuições dos Agentes Comunitários de Saúde no enfrentamento da Covid-19”. Ao observar as falas nesta categoria, é perceptível que os ACS tiveram que se adaptar com uma nova realidade de trabalho e com atribuições atípicas. Todavia, o principal destaque nesse momento de pandemia apontado tem sido a educação em saúde, principal ferramenta de trabalho dos ACS. Nas falas podemos observar que os ACS têm trabalhado muito a parte da orientação em saúde, com vista a sensibilizar a população acerca da importância de seguir as medidas preventivas orientadas pelo MS nesse tempo de pandemia Covid-19: “[...] basicamente, o trabalho do agente de saúde é orientação e prevenção [...] (ACS-3)”; “[...] então, o principal é orientação e educação em relação às normas técnicas a respeito da Covid, a questão do distanciamento, da higienização das mãos, dos cuidados com os alimentos, ao receber visitas em casa, então a gente intensificou muito esse trabalho [...] (ACS-7)”. Nas falas do ACS, além da educação em saúde, também identificamos outras ações realizadas como, monitoramento e encaminhamento dos casos, campanhas de vacinação para os idosos, visitas domiciliares, consultas, acompanhamento, orientações por ligações e pelo WhatsApp e, entrega de medicação do idosos nos domicílios. A segunda categoria a nomeamos de “Dificuldades enfrentadas pelos Agentes Comunitários de Saúde para atuar no contexto da pandemia da Covid-19”. Nesta categoria identificou-se que os ACS têm enfrentado várias dificuldades em sua atuação pois por se tratar de algo novo, os mesmos não poderiam adentrar as residências, ficando a atuação e boa parte das ações de forma limitada: “[...] essa pandemia veio de repente, deu um impacto muito grande no nosso trabalho porque a gente ficou limitado né, a gente não podia entrar nas casas, teve que fazer visita de fora pra tá acompanhando as pessoas, foi muito difícil [...] (ACS-12)”. Os ACS também tiveram aumento da demanda de trabalho, limitações para oferecer uma boa assistência, bem como a própria resistência das pessoas em seguir as orientações repassadas. Já a terceira categoria foi nomeada de “Ausência de capacitação em período pandêmico de Covid-19: Uma realidade enfrentada pelo Agente Comunitário de Saúde”. Nesta podemos evidenciar que todos os ACS não tiveram capacitação de forma específica para o enfrentamento da Covid-19, apenas orientações e informes, como podemos ver nas falas: “[...] teve várias reuniões falando sobre a pandemia, mas não teve capacitação[...] (ACS-2)”; “Não, não tivemos nenhuma capacitação não. Nada. Só mesmo a orientação da enfermeira né, que a gente vinha aqui e ela falava assim... como a gente enfrentar né (ACS-9)”; “[...] não houve capacitação [...] (ACS-10)”; “[...] foram mais orientações, reuniões online, mas uma capacitação específica pra isso não teve não [...] (ACS-11)”. Deste modo, a assistência e cuidados, o repasse de orientações e informações corretas podem ter sido prejudicadas. Ainda, esta ausência de capacitação estaria associada à percepção de insegurança e ao medo destes trabalhadores no desenvolvimento das suas ações. Considerações finais: Portanto, concluímos que, diante da Covid-19, os ACS mesmo frente às várias dificuldades e desafios, conseguiram se reinventar para assim dar um suporte às suas comunidades. Contudo, as autoridades precisam de um olhar diferenciado para essa categoria de trabalhadores, uma vez que, a pandemia ainda não acabou, fazendo-se necessário a realização de formação permanente pautada pelas necessidades cotidianas, distribuição de insumos necessários e essenciais, disponibilidades de equipamento de proteção individual, e valorização profissional.