Apresentação

As medidas de proteção adotadas no combate à pandemia da Covid 19 como o isolamento e  distanciamento sociais impuseram às instituições de ensino o desafio de uma rápida adequação de suas formações, antes oferecidas de forma presencial para o formato online, além da intensificação do uso da tecnologia como ferramenta de troca de conhecimento e interação.

Uma das primeiras medidas adotadas pela Escola de Governo em Saúde Pública de Pernambuco (Esppe) foi a suspensão das formações presenciais em andamento e a mobilização das equipes técnicas na reformulação dos conteúdos e das estratégias pedagógicas de forma a adequá-las  para o ensino online, mantendo, contudo, a qualidade e conexão com as diretrizes da Política de Educação Permanente em Saúde, quais sejam: problematização do processo de trabalho, alinhamento com as necessidades de saúde e o compromisso institucional com o SUS.

Para além desses desafios estava o de qualificar e atualizar os profissionais que atuavam nos hospitais e demais serviços da rede, em tempo oportuno, com informações acerca da prevenção e proteção, além de procedimentos assistenciais sobre o novo coronavírus.

Esse relato tem como objetivo compartilhar as vivências e o processo de aprendizagem da Escola no desenvolvimento de ações de Educação Permanente em Saúde no contexto da pandemia da Covid-19 fazendo uso de estratégias educativas mediadas pela tecnologia.

Desenvolvimento do trabalho

A Esppe já fazia uso da tecnologia, a exemplo de seu Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), como apoio para atividades complementares aos cursos presenciais. A pandemia, no entanto, trouxe a necessidade de que tal ferramenta, antes utilizada de maneira pontual e esporádica, passasse a ser utilizada de forma constante. Para além dessa ferramenta foi incorporado o uso de outras tecnologias de comunicação à distância como as plataformas de webconferência e de transmissão de vídeos (estúdio virtual) que permitiram a realização de aulas e debates virtuais.

A primeira ação virtual de apoio aos trabalhadores da saúde foi a elaboração de um espaço no AVA para publicação e divulgação de informações científicas, como os protocolos assistenciais, boletins epidemiológicos, redes assistenciais, cursos virtuais disponibilizados por instituições oficiais, aplicativos Covid-19, recomendações para o período de isolamento social, dentre outros.

A interação constante com as áreas técnicas da SES, as reuniões com os centros de estudos e núcleos de educação permanente dos hospitais, possibilitaram a identificação das necessidades de qualificação dos profissionais que atuavam na assistência direta aos pacientes com Covid-19. Para responder a essa demanda foram estruturados cursos autoinstrucionais.

Esses cursos abordaram temáticas diversas como: prevenção, manejo clínico e cuidados pós morte; assistência ventilatória mecânica; atuação do agente comunitário de saúde, transplante de órgão e tecidos. O ambiente virtual foi estruturado de modo a que o discente vivencie o seguinte percurso de ensino aprendizagem: “Apresentação da proposta do curso”, momento de acolhimento dos discentes no ambiente virtual de aprendizagem; “Despertando o interesse” no qual é apresentado texto introdutório aos conteúdos programáticos; “Estudos” no qual o discente tem acesso aos conteúdos da matriz curricular e objetivos de aprendizagem; e o “Saiba Mais” onde são dispostos links de acesso a vídeos, vídeo aulas, artigos científicos, protocolos, entre outros. Finalizado o percurso perdagógico, o discente tem acesso a uma avaliação de aprendizagem que objetiva a revisão do conteúdo e, ao mesmo tempo, a consolidação dos conhecimentos.

Esses cursos foram atualizados sempre que novas informações e medidas de prevenção foram divulgadas pelos órgão oficiais. Essas atualizações eram sempre comunicadas aos participantes por meio do AVA, para que pudessem retornar ao curso e ter acesso aos conteúdos atualizados. O espaço de avaliação do curso também foi um canal importante de apoio ao processo de qualificação das ações a partir das críticas e sugestões dos participantes.

Outra estratégia utilizada para a oferta de ações de educação permanente em saúde, por meio de plataformas virtuais de comunicação, foram os Debates Virtuais viabilizados no canal de youtube da Escola. Nomeados de “Esppe Debate” tiveram como objetivo promover a troca de experiências e vivências entre os  trabalhadores, além do acesso a conteúdos relevantes para o enfrentamento aos desafios trazidos pela pandemia, abordados por especialistas convidados, dentre eles, profissionais que compõem as equipes das áreas técnicas da secretaria de saúde.

As aulas virtuais foram outro recurso didático nas quais buscou-se abordar o conteúdo de protocolos e demais documentos oficiais sobre a assistência à saúde na pandemia, de forma contextualizada e prática, aproximando-o da realidade de atuação dos profissionais. Em um contexto no qual a leitura de protocolos é dificultada, as videoaulas cumprem o papel de acesso mais efetivo aos seus conteúdos. Ressalta-se que essas aulas foram ministradas por profissionais das áreas técnicas, de forma a apoiar tecnicamente as coordenações descentralizadas nas doze regiões de saúde do estado.

Resultados

As ações educacionais para o enfrentamento da pandemia foram iniciadas em março de 2020 e tiveram continuidade no decorrer de 2021.

O espaço virtual dedicado à publicação e divulgação de materiais técnicos e informativos sobre o novo coronavírus teve até o momento 137.699 acessos.

Os cursos autoinstrucionais apresentam o seguinte quantitativo de participantes: Covid-19: prevenção, manejo clínico e cuidados pós-morte (3.667); Introdutório Covid-19 para profissionais do Hospital Miguel Arraes (1.023); Assistência Ventilatória Mecânica (3.756); Cuidados Clínicos na Síndrome Respiratória Aguda Grave (COVID-19) (2.018);  Agente Comunitário de Saúde: potencialidade e inspirações para o trabalho no território em tempos de Covid-19 (3.141); Validação do Potencial Doador de Órgãos e Tecidos (916); Processo de Doação de Órgãos e Tecidos (369); Assistência à Gestante e Puérpera Frente à Pandemia de Covid-19 – (1.217) e Cuidados Básicos em Saúde Bucal na Atenção Hospitalar no contexto da Pandemia da COVID- 19 (343).

Os debates virtuais tiveram a participação ao vivo de quase 4.000 pessoas e 19.000 visualizações. Dentre as temáticas abordadas estão: gestão do sistema de saúde; assistência ventilatória mecânica em pacientes com Covid-19; atuação do Agente Comunitário de Saúde no fortalecimento da comunidade; relações de trabalho e a saúde dos trabalhadores; educação online e processos formativos; o novo marco regulatório de saneamento e a pandemia; residências em saúde e a pandemia da Covid-19; cuidado em saúde mental e autismo: desafios para uma atuação; desafios do trabalho e da formação dos profissionais de nível médio; tuberculose em tempo de Covid-19.

Quanto às aulas virtuais tiveram aproximadamente 40 mil visualizações.

Considerações finais

A Escola de Governo em Saúde Pública conseguiu superar o desafio imposto pela pandemia às instituições de ensino ao adequar suas ações formativas à oferta de ações educacionais mediada pela tecnologia, em tempo oportuno e alinhadas às necessidade dos profissionais de saúde em contexto de pandemia. Essa experiência resultou na ampliação do conhecimento das equipes técnicas da Escola quanto à escolha de estratégias didático-pedagógicas mais potentes para essa modalidade de ensino. A pouca familiaridade com o uso das tecnologias para fins educacionais foi um dos desafios enfrentados e superado pelos trabalhadores da saúde.

Outro aspecto relevante diz respeito ao material didático-pedagógico dos cursos que, mesmo desenvolvido em resposta ao contexto da pandemia, foi estruturado de forma a possibilitar seu uso em ações de educação permanente em saúde, servindo de apoio à construção de espaços de discussão sobre o processo de trabalho em equipe, tanto no contexto da assistência hospitalar como da atenção básica em saúde, enfatizando, dessa forma, a necessidade do trabalho interprofissional.