Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Vencendo o Pós-Covid Na APS: Relato de Práticas para um Cuidado Integral ao paciente com sequelas do Covid-19
Datiene Aparecida Diniz Rodrigues Bernal, Pamela Karine Bravin, Raco Delano Crawford, Gabriel Caneira Amaral, Fernando Pierette Ferrari

Última alteração: 2022-01-13

Resumo


Apresentação: Desde março de 2020, diante da pandemia da Covid-19, fomos obrigados a refletir e reorganizar o processo de trabalho na Atenção Primária a Saúde (APS) e nos Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Primária (NASF-AP). Durante os surtos de casos no município de Campo Grande – MS, o NASF-AP reorganizou sua agenda para o apoio a alta demanda da APS no atendimento aos sintomáticos respiratórios e em ações estratégicas como orientações ao manejo e controle, oferta de educação permanente aos profissionais quanto às atualizações das notas técnicas e diretrizes das Secretarias Municipal e Estadual de Saúde, teleconsultas, grupos de apoio e atendimento aos servidores. Aos fisioterapeutas, profissionais que compõem todas as 16 equipes NASF do município de Campo Grande -MS coube a referência devido a necessidade de reabilitação motora e cardiorrespiratória dos pacientes pós-Covid. Por meio de ação de integração ensino/serviço com o curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e Secretaria Estadual de Saúde (SESAU) foi oportunizada a formação em reabilitação pós-Covid com profissionais, professores e acadêmicos do último semestre. A partir da relação construída com o curso de fisioterapia foi pactuada a preceptoria dos alunos em estágio no território de Atenção Primária, possibilitando uma vivência de trabalho e forma de adquirir conhecimentos específicos, além de contribuir com os profissionais da equipe na APS. O presente trabalho tem por objetivo relatar a organização de atendimento aos pacientes pós-covid na Unidade de Saúde da Família (USF) Maria Aparecida Pedrossian (MAPE) até a formação do grupo pós-covid em atuação no decorrer do segundo semestre de 2021.

Desenvolvimento: Em outubro de 2020, após matriciamento com as equipes da USF MAPE, levantou-se alguns casos de sequelas pós-Covid em indivíduos que estiveram internados em unidade hospitalar. A primeira paciente, uma idosa com comorbidades preexistentes, esteve internada na Unidade de Terapia Intensiva por mais de 30 dias, submetida ao posicionamento de pronação em leito, Intubação Orotraqueal. Após 62 dias totalizados de internação, paciente foi encaminhada para cuidados continuados junto a equipe da USF, onde a paciente foi submetida a uma avaliação fisioterapêutica e nutricional pelas profissionais do NASF-AP, além do acompanhamento pela equipe de referência, composta pelo profissional médico e de enfermagem. Da parte da fisioterapia, iniciou-se com orientações de exercícios respiratórios e de cinesioterapia global leve, os quais eram impressos em cartilha os exercícios propostos da semana, assim a paciente conseguia realizar de forma orientada e remota. A cada encontro, a paciente era reavaliada, que em princípio ocorria semanalmente, quinzenalmente e assim progressivamente para atendimento mensal. No primeiro encontro, na avaliação inicial, a paciente apresentava fraqueza muscular generalizada, déficit de equilíbrio e coordenação, cansaço/fadiga aos pequenos esforços e lesão por pressão (LPP) em cicatrização na região do esterno. O esposo também contraiu a doença, porém na forma leve, apresentando aumento das dores articulares em joelhos pós- Covid, em que também foram realizadas orientações para o alívio do quadro álgico. Concomitante, algumas consultas individuais e/ou compartilhadas iniciaram no mesmo período na unidade de saúde. Após avaliação da equipe de referência os pacientes eram encaminhados para a avaliação funcional com a fisioterapeuta do NASF-AP e, se necessário, alguma interconsulta com nutricionista e/ou psicólogo da equipe.  Os pacientes, após avaliação, eram orientados quais exercícios e com qual frequência realizar em casa, levando as orientações impressas, com um diário para anotação da evolução da semana. Semanalmente, o paciente era reavaliado e seu plano de reabilitação readequado conforme sua evolução. Assim que o município apresentou redução no número de casos de Covid -19, os atendimentos coletivos foram liberados seguindo com todas as medidas de biossegurança. Com a evolução dos nossos pacientes, em agosto de 2021, iniciamos o trabalho de forma coletiva, uma vez por semana na USF que no mesmo período também passou a receber o apoio dos estudantes de fisioterapia, nutrição e psicologia do Projeto de Extensão “Reabilitação Pós -Covid em equipes multiprofissionais na APS” da UFMS.  Todos os pacientes que estavam sendo atendidos individualmente, tanto na unidade quanto no domicílio, apresentaram condições de estar em grupo, o que propicia para aqueles que venceram esse momento tão difícil de luta pela vida, um momento de esperança de retorno a uma “vida normal”. Eles são acolhidos pelos profissionais do NASF-AP, estagiários e estudantes do Projeto de Extensão, e as atividades iniciam com verificação dos sinais vitais pela fisioterapeuta e seus estagiários. A sessão de exercícios é realizada em forma de circuito, com alongamentos, exercícios de resistência de membros superiores e inferiores, de equilíbrio e dupla tarefa. Também são monitorados os sinais vitais durante e após os exercícios pela fisioterapeuta e estagiários da fisioterapia. No final, uma roda de conversa encerra o encontro com temas levantados pelo grupo, um momento no qual são fortalecidos os vínculos tanto entre os profissionais/estagiários e pacientes, quanto entre os pacientes que se apoiam, se motivam.

Resultados e/ou impactos: Em relação ao tratamento fisioterapêutico pôde-se notar grandes melhorias e evoluções dos pacientes. Observamos progresso dos sinais vitais, como melhora da saturação e da frequência respiratória de quase todos os indivíduos. Com o aumento da saturação dos pacientes, houve uma redução geral da queixa de fadiga, dispneia e vertigem, porém, não foi possível afirmar uma capacidade funcional significativa para realização das atividades diárias de forma desassistida integralmente. Essa abordagem somada ao apoio nutricional e psicológico tem dado respostas efetivas as necessidades apresentadas por esse grupo. Contudo, durante o projeto notou-se avanços e aumento da eficácia na funcionalidade geral, capacitando-os para a realização de atividades simples e intermediárias do cotidiano, de forma progressiva, permitindo assim bons resultados em outros aspectos, como relacionados à interação geral e inserção na sociedade. Assim, o grupo de atividades, ou atividades em grupo, não traz apenas benefícios para a recuperação pós doença, e sim permite melhorias em outros aspectos da vida dos pacientes, os quais relatam felicidade e satisfação em retornar o contato com outras pessoas, fazer novos laços e partilhar suas experiências, o que os motiva a continuar com o caminho de superação.

Considerações finais: Ademais, a oferta do atendimento e a evolução satisfatória dos pacientes envolvidos no grupo, demonstram a relevância da inserção do profissional fisioterapeuta na APS, a importância das ações interprofissionais e reafirma ainda o impacto e a potência do trabalho integrado entre equipe NASF-AP e ESF para o enfrentamento das sequelas do Covid-19.