Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
Práticas em reabilitação na APS: a potência e os desafios do cuidado em fisioterapia no NASF-AP em Campo Grande/MS sob a perspectiva de estudantes de graduação
Datiene Aparecida Diniz Rodrigues Bernal, Pamela Karine Bravin, Gabriel Caneira Amaral, Leticia Yoshiko Hasebe, Raco Delano Crawford, Vanessa de Sousa Lacerda, Mara Lisiane de Moraes dos Santos, Fernando Pierette Ferrari

Última alteração: 2022-01-05

Resumo


Apresentação: As necessidades em reabilitação estão cada vez mais variadas e crescentes, representando um desafio a Rede de Atenção à Saúde. A Atenção Primária a Saúde (APS) com sua maior capilaridade, como principal porta de entrada do sistema e coordenadora do cuidado, oferece uma configuração importante para o cuidado integral e longitudinal ao usuário, família e comunidade, favorecendo maior abrangência das ações reabilitadoras e maior adesão dos usuários ao tratamento. Este trabalho tem por objetivo relatar as práticas profissionais de duas fisioterapeutas do Núcleo Ampliado da Saúde da Família NASF-AP do município de Campo Grande/ MS, preceptoras de estágio curricular, a partir das narrativas e da percepção de quatro acadêmicos do último semestre do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).

Desenvolvimento: Na APS do município de Campo Grande/MS, 45 unidades contam com o apoio de 16 equipes NASF-AP; todas com fisioterapeutas. Entre várias atribuições, o NASF-AP desenvolve ações em reabilitação pactuando e compartilhando intervenções com as equipes de referência, o que oportuniza a horizontalização de saberes por meio de atividades como: discussões de casos, visitas domiciliares, atendimentos compartilhados ou individualizados, integrando os aspectos clínicos, sociais e epidemiológicos, buscando a fragmentação da atenção de forma corresponsabilizada com a ESF e com os usuários. As práticas terapêuticas são práticas assistenciais que permitem o cuidado em reabilitação na APS com resolutividade, considerando as necessidades e possibilidades identificadas no território, sendo uma potente estratégia de cuidado do profissional fisioterapeuta inserido neste contexto.  Os acadêmicos acompanharam as fisioterapeutas do NASF-AP em diferentes Unidades de Saúde da Família durante os dois meses de estágio. A seguir, as narrativas desses estudantes a partir dessa experiência formativa. “Como acadêmicos percebemos a alta demanda por cuidado na APS proveniente da população do território, suas carências, fragilidades e potencialidades, e as adaptações que os profissionais e o sistema fazem. Para a fisioterapia, os usuários eram encaminhados por um profissional da ESF através de agendamento, evidenciando a relação interdisciplinar entre as profissões e demonstrando a confiança por parte das equipes de ESF no trabalho do fisioterapeuta. As unidades apresentam uma rotina agitada e as fisioterapeutas adaptam-se às estruturas disponibilizadas, as quais, muitas vezes, são inadequadas e/ou insuficientes. Exemplo, nas Unidades não há sala destinada para as fisioterapeutas, o que impõe a necessidade de ajustes para o desenvolvimento de suas atividades. Na consulta, o usuário era abordado de forma humanizada, com escuta qualificada, priorizando informações importantes para entender o processo de adoecimento do usuário. A realização de uma avaliação que considere os aspectos físicos e a história de vida dos usuários são ferramentas importantes para traçar objetivos terapêuticos pertinentes, a partir de um olhar ampliado para o usuário, suas singularidades e seus modos de vida. A pouca disponibilidade de recursos de maior densidade tecnológica implica na necessidade de aperfeiçoamento das técnicas de avaliação, com amplo olhar clínico, epidemiológico, social e cultural do profissional. Somado a isto, o fisioterapeuta do NASF-AP exerce um papel fundamental no sentido de qualificar os encaminhamentos e reduzir a fila de espera para a especialidade. Observamos, ainda, o quanto é importante que o usuário entenda seu papel no processo de tratamento, que compreenda que é corresponsável pelo sucesso das propostas terapêuticas; isso precisa estar bem claro e ser pactuado com os usuários. O fisioterapeuta do NASF-AP não tem muitos recursos tecnológicos ao seu dispor, logo seus melhores instrumentos terapêuticos são suas mãos e as orientações adequadas que oferecem aos usuários. Nós, estudantes, junto com as fisioterapeutas do NASF-AP, nos empenhamos em proporcionar cuidado  aos usuários conforme suas necessidades, com ações educativas abordando hábitos posturais, o uso da termoterapia para diminuição do quadro álgico, o emprego da cinesioterapia com a produção de cartilhas contendo exercícios individualizados para cada usuário nas diferentes fases do tratamento, fornecendo explicações com linguagem acessível, de maneira direta e calma sobre como eles devem realizar os exercícios em domicílio. Durante os dois meses conhecemos vários usuários com distintas queixas e afecções, como lombalgia, tendinites, fascite plantar, dores nos joelhos, pós-operatórios, acidente vascular encefálico. Esse amplo caleidoscópio de agravos em saúde causou, inicialmente, um pouco de medo e incerteza na organização de um plano de tratamento eficaz, mas com o tempo e a devida orientação de nossas respectivas preceptoras pudemos empregar a ampla gama de conhecimentos e ferramentas que o fisioterapeuta dispõe e as distintas possibilidades terapêuticas viáveis para os usuários nesse ponto de atenção da RAS. Assim, constatamos que qualquer fisioterapeuta responsável e comprometido com suas atribuições tem possibilidades de enfrentar os desafios da reabilitação na APS com eficiência e resolutividade. Aprendemos muito com a experiência, desenvolvemos projetos terapêuticos, vimos como o usuário é inserido na rede através da APS, observamos a atuação interdisciplinar do NASF-AP através das consultas compartilhadas, detectamos a necessidade da atuação de outros profissionais em diversos casos e os encaminhamos para um cuidado integral. Entre os usuários que conhecemos, acompanhamos a evolução e a satisfação destes quanto ao serviço, quanto aos atendimentos, quanto ao vínculo que criamos com eles, mesmo em tão pouco tempo. Nada melhor que narrar uma experiência para demonstrar a potência do cuidado em fisioterapia da APS: houve uma usuária que procurou a fisioterapia por apresentar tendinite e dor no ombro. Realizamos a avaliação através da inspeção, palpação, amplitude do movimento e testes especiais e vimos as limitações funcionais. Após ouvir sua história e detectar possíveis causas da lesão, orientamos sobre pequenas mudanças de hábitos posturais e aplicação de crioterapia, marcamos um retorno para que pudéssemos avaliar como ela reagiria. Ao retornar, a usuária já relatou melhora do quadro álgico, no sono e outros sintomas que também a incomodavam anteriormente. Ficamos felizes com o sucesso e a evolução do tratamento e prescrevemos orientações de exercícios de mobilização articular. Semanas depois, a paciente retornou praticamente sem dor, sono estabelecido, realizando todas as orientações fornecidas e satisfeita com o tratamento. Diante disso, elaboramos e oferecemos uma cartilha contendo exercícios personalizados e individualizados de acordo com suas necessidades para que ela pudesse evoluir no tratamento.

Considerações finais: Na sala de aula, os conceitos de tratamento teórico são encontrados nos livros didáticos e às vezes é um processo excessivamente objetivo que considera essencialmente as lesões e disfunções. Por outro lado, ao desenvolvermos o cuidado fisioterapêutico e em saúde junto a um usuário na vida real, aprendemos que existem outros fatores que podem ou não influenciar os sinais e sintomas desse usuário. Observamos que os construtos emocionais, psicológicos e espirituais têm grande influência no bem-estar geral do paciente e através de uma avaliação adequada, conversação e escuta qualificada é possível fazer um diagnóstico correto e, consequentemente, um efetivo plano de tratamento, tendo a clareza de que o usuário é mais do que apenas os aspectos biológicos, e que o indivíduo em geral, em todas as facetas, deve ser considerado. É com grande satisfação e motivação que encerramos nosso estágio, testemunhando usuários que entram nos consultórios com escala de dor entre 8 e 10 e após avaliação minuciosa, boa escuta e orientação adequada, no espaço de uma semana apresentaram uma redução da dor para 0. Isso demonstra claramente que o fisioterapeuta do NASF-AP, mesmo com poucos recursos tecnológicos, desempenha um papel importante no bem-estar geral dos pacientes e na produção de práticas terapêuticas em reabilitação na APS.