Apresentação: Os desafios em se integrar metodologias convencionais de leitura à sala de aula sofreram fortes impactos durante a pandemia de coronavírus que, devido ao formato remoto de ensino, precisou sofrer adequações capazes de transpor barreiras sociais, econômicas e culturais em busca da efetivação de uma alfabetização e conscientização sobre saúde mental e física. Tais práticas de literacia têm sido incorporadas em contextos cotidianos afim de tornar a aprendizagem numa prática prazerosa para crianças, uma vez que os benefícios deste desenvolvimento abrangem o aprimoramento da fala e da escrita, além de ser um importante veículo de conscientização à praticas salutares, e um potencial amenizador dos impactos causados pelo isolamento social. E uma destas adequações metodológicas tem sido o uso de Tecnologias da Comunicação e Informação (TIC) como artifício a construções pedagógicas criativas em modalidades de ensino, que visam a contribuição de práticas não convencionais de aprendizado à distância, e lançam mão de dispositivos eletrônicos como celulares e computadores para a integração entre professores, pais e estudantes durante o ano letivo. Diante disso, surge a oportunidade de trabalhar metodologias informatizadas com alunos inseridos em condições de vulnerabilidade socioeconômicas, além de proporcionar o ensejo à inclusão de temáticas relevantes sobre educação em saúde a partir de projetos pautados no multiprofissionalismo e na interdisciplinaridade. Desta forma, o objetivo deste trabalho dá-se em relatar uma experiência que utilizou recursos tecnológicos para a disseminação de reflexões salutares a partir de uma metodologia sociolinguística adaptada ao contexto de estudantes do ensino fundamental inseridos no regime remoto de aulas. Desenvolvimento do trabalho: Realizou-se uma análise descritiva, de caráter qualitativo, cuja atividade foi executada na cidade de Manaus-AM, no segundo semestre de 2020, onde foi aplicado o método sociolinguístico de alfabetização para crianças elaborado por Mendonça & De Mendonça (2007) que estrutura-se na práxis da leitura reflexivo-salutar a partir das seguintes etapas: codificação, descodificação, análise-síntese, fixação da leitura e escrita da atividade. Esta estrutura é baseada na educação problematizadora descrita por Paulo Freire (1996), que determina tal atividade como uma relação dialogada entre professores e estudantes sob a finalidade de proporcionar trocas de informações, debates de ideias, e – consequentemente – produção de conhecimento. Esta metodologia foi adaptada para o formato de ensino a distância, tendo como fonte primária de leitura um e-book formulado pelo escritor e cirurgião-dentista Jefter Haad, que vinculou (em formato pdf.) sua obra literária aos alunos de uma escola municipal, nos grupos de WhatsApp das turmas do 3º, 4º e 5º ano do ensino fundamental. O livro é composto por uma miscelânia de formatos literários e busca explorar elementos de saúde bucal adaptados ao público infantil, visando aproximar esta faixa-etária à conceitos fundamentais de saúde pública. O mesmo é constituído por histórias em quadrinhos e contos ilustrados, além de atividades de fixação de cunho lúdico-educativo. O roteiro narra a história de uma família de dentinhos que mora no “Distrito Bocão” e que enfrenta diversas aventuras enquanto combatem inúmeras bactérias e vírus nocivos ao corpo humano – inclusive o próprio vírus do COVID-19. Esta proposta de leitura, proporcionou uma abordagem diferenciada de educação em saúde aos alunos, unindo elementos de entretenimento reflexivo à temática de saúde pública, tecnologia e literatura infantil. Após a veiculação do livro, os alunos realizaram as etapas do método sociolinguístico através de atividades assíncronas conduzidas pela professora de português da escola, sendo realizadas a partir das seguintes tarefas: leitura da obra guiada pelos pais e registrada por vídeo ou foto, interação no grupo de WhatsApp comentando a leitura, visualização de um vídeo explicativo gravado pelo autor, e registro da síntese do conteúdo através de desenhos, dramatização por vídeo ou gravação de áudio. Impactos: Cerca de 416 alunos tiveram acesso ao e-book e participaram do projeto, sendo que o sucesso da atividade foi percebido através dos registros designados às etapas metodológicas. Diversas imagens foram compartilhadas no grupo de WhatsApp das respectivas turmas, demonstrando a pluralidade na escolha das crianças quanto a demonstração da fixação de conteúdo. Vídeos narrados, criação de cartazes, teatro de fantoches, e elaboração de ilustrações foram os registros mais escolhidos pelos alunos. Com a exposição destas imagens e vídeos, foi possível confirmar a participação de familiares e amigos no processo de confecção destas mídias, seja auxiliando na gravação, ou participando das dramatizações como figurantes. No caso deste projeto, a atividade foi anunciada no grupo de WhatsApp e os pais é quem foram os responsáveis por disponibilizar o e-book às crianças, o que – consequentemente – proporcionou o contato dos familiares com o material preconizado pelo projeto. Constatou-se que uma parcela das crianças optou por imprimir o e-book para realizar colagens, pinturas e desenhos, e, além disso, muitos criaram suas próprias histórias com temáticas de prevenção e autocuidado. Neste momento, observou-se que grande parte da interpretação do conteúdo de saúde bucal foi satisfatório, uma vez que a maioria das crianças puderam discernir questões acerca do modo correto de escovação, uso de dentifrícios e fio dental, além de aspectos sobre alimentação anticariogênica. 93% dos alunos participantes estão inseridos num contexto econômico de baixa renda, o que, em parte, foi um desafio, já que algumas famílias relataram não ter acesso à internet para a concretização do download do e-book no dispositivo celular – esta característica foi sanada a partir da viabilização do acesso às redes de Wi-Fi existentes na escola, oportunizando o acesso ao livro para os pais que, eventualmente, compareceram na escola. A partir deste contato inicial, as crianças puderam contextualizar a pluralidade da utilização de dispositivos móveis, como sendo não somente um veículo de navegação na internet ou utilização de aplicativos, mas também como utensílio passível de propagar entretenimento educativo através da leitura. Considerações finais: A metodologia sociolinguística empregada mostrou ser eficaz no processo de estímulo à leitura e integração dos estudantes à conceitos básicos de saúde bucal mediados por tecnologias, sendo possível observar que as etapas de uma proposta sociolinguística para fins de educação em saúde bucal são passíveis de serem reproduzidas no contexto do ensino à distância devido à grande utilização de aplicativos de mensagens entre professores e alunos. Ainda que exista a tendência de extinção do ensino híbrido na atenção básica após a pandemia, é coerente continuar trabalhando metodologias participativas que estimulem aspectos sociodentais de percepção nestes artifícios interativos, uma vez que isto conscientiza o aluno acerca do autocuidado, além de aprimorar o conhecimento dos mesmos quanto a utilização de ferramentas tecnológicas. Além disso, o conteúdo de educação em saúde da obra alcançou não somente os alunos, mas também difundiu conhecimentos – ainda que indiretamente – para parentes e amigos destes estudantes, uma vez que os mesmos auxiliaram as crianças em todas as etapas participativas da metodologia. Tais indicadores reforçam a importância de se estimular, no setor educacional, a criação de equipes pedagógicas articuladas, capazes de executar projetos que incentivem um aprendizado interdisciplinar, afim de ampliar a compreensão acerca de temas pertinentes à integridade física e intelectual da comunidade.