Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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MULTICAMPI SAÚDE: UMA EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO EM SAÚDE NA AMAZÔNIA BRASILEIRA
PAULO DE TARSO RIBEIRO DE OLIVEIRA, KÁROL VEIGA CABRAL, MARIA LÚCIA CHAVES LIMA, MELINA NAVEGANTES ALVES, NELSON DE SOUZA JÚNIOR, ROSELENE DOS SANTOS TAVARES

Última alteração: 2022-01-05

Resumo


Apresentação: Este trabalho visa apresentar o projeto Multicampi Saúde, uma experiência da Universidade Federal do Pará (UFPA) para qualificar a formação profissional de discentes e profissionais da Atenção Básica em Saúde, de acordo com a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança. O Multicampi surge para contribuir com o cenário da saúde no Pará, especialmente no que se refere à infância, tendo como fio condutor desse desafio, a Caderneta da Criança. Por meio da Caderneta da Criança, o Ministério da Saúde procurou criar um instrumento de vigilância à saúde da criança que compilasse os dados mais relevantes da saúde desta população, permitindo às equipes e às famílias o acompanhamento da saúde das crianças, bem como o desenvolvimento de políticas públicas. Trata-se de um projeto que possibilita, de modo geral, a vivência de estudantes de dez cursos de graduação na área de saúde da UFPA – biomedicina, enfermagem, farmácia, fisioterapia, medicina, nutrição, odontologia, psicologia, serviço social e terapia ocupacional – em Unidades Básicas de Saúde (UBS) em 6 municípios do Pará, assim como realiza a capacitação dos/as profissionais da atenção básica no que concerne à atenção integral à saúde da criança. O objetivo geral do projeto é integrar ensino, serviço e gestão com a finalidade de qualificar a formação profissional de discentes e de profissionais da Atenção Básica de acordo com a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança no Sistema Único de Saúde (SUS) e com os processos formativos dos cursos da área da saúde. Desenvolvimento: A metodologia adotada é de que todos os/as estudantes envolvidos/as com o projeto são selecionados por meio de editais públicos, cujo processo de seleção passa pela análise do currículo e uma entrevista de seleção com o/a tutor/a correspondente a cada uma das 10 graduações abarcadas pelo projeto. Após a seleção, o/a estudante participa de uma capacitação, chamada de curso introdutório, desenvolvida pela coordenação do projeto em parceria com a SESPA. Os autores destacam que o Estado do Pará conta com 144 municípios, sendo o segundo maior do país, com uma área de 1.247.689,515 km², assim suas distâncias e geografia singular se apresentam como um desafio no momento de implementar políticas de formação em serviço com imersão em território. Dada a grande extensão territorial, os quesitos de logística e descolamento, bem como a dotação orçamentária do projeto já impunham um limite à possibilidade de atender a todos os municípios do estado. Os municípios que se interessaram em receber o projeto foram Abaetetuba, Belém, Bragança, Cametá, Castanhal e Soure. Todos estes municípios possuem sedes dos Campi da UFPA, rede de atenção básica instalada e desejo de contribuir e receber estudantes, neste percurso de formação em serviço. Em campo, cada grupo de estudante permanece por um período de um mês em uma UBS, na qual são coordenados por uma preceptora de campo, geralmente a enfermeira-chefa da unidade, responsável pelo acompanhamento e o desenvolvimento do trabalho dos/as estudantes. Além da assessoria do/a tutor/a e do acompanhamento da preceptora, os/as estudantes que se deslocam para os municípios no interior do Estado também são acompanhados/as por um/a professor/a da UFPA dos diferentes institutos envolvidos, que se desloca ao município sede a cada semana. As ações são programadas com antecedência em um modelo mensal, atividades em parceria com o Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF), educação em saúde para a toda a unidade, ou direcionada para os agentes comunitários de saúde (ACS), ou mesmo para a comunidade, por meio de grupos de sala de espera, além de participar dos programas e agendas propostas pelo Ministério da Saúde. Os/as estudantes têm como tarefa a realização de um relatório das atividades desenvolvidas, registradas em seu diário de campo. Resultados e/ou impactos: A meta é atender 600 estudantes até o fim do projeto, que atualmente tem o desafio de reinventar seu funcionamento após março de 2020 e todas as transformações sociais surgidas com a pandemia do novo coronavírus. Nos municípios contemplados, no período de Junho de 2019 a Março de 2020 têm-se em Cametá um total de 31 estudantes atendidos, Castanhal com 51, Belém 213, Abaetetuba 54 e Bragança com 19 estudantes. Os municípios somam um total de 368 estudantes atendidos. Ainda, como resultado, destaca-se um relato de experiência, que apresenta a experiência de uma das autoras deste trabalho, sobre sua participação no Multicampi Saúde, em julho de 2019, em um município no interior do estado do Pará. O relato é de uma estudante de Psicologia da UFPA, que durante a realização do projeto se encontrava no 5º semestre do curso. A entrada no projeto se deu a partir da abertura do 1º edital público lançado. A partir das informações apresentadas na reunião inicial e primeiros acompanhamentos na Unidade, as estudantes montaram um cronograma de atuação no serviço, para melhor aproveitar o tempo de aprendizado, assim como para poder contribuir positivamente para a rotina de trabalho. Houve um resultado preponderante aos objetivos do Multicampi e a atuação das/os estudantes foi organizada a partir das seguintes ações e resultados: 1) Acompanhamento do uso da Caderneta da Criança entre os/as profissionais da Unidade (a questão da Caderneta da Criança foi uma das principais investigações realizadas dentro da Unidade, com observação e questionamento que resultou na constatação de uma série de dificuldades de manejo do instrumento. O primeiro problema percebido foi um número grande de criança sem a Caderneta); 2) Construção de um Plano Terapêutico Singular (PTS) para a “criança-guia” (dentre os pontos principais dessas intervenções, vale citar a constante resistência da família à assistência prestada pela equipe); 3) Mapeamento da rede de saúde mental do município (percebeu-se uma precariedade na comunicação em rede no município); 4) Ações de educação em saúde (Identificou-se a necessidade de constância no trabalho possibilitando melhor difundir questões relacionadas à prevenção como forma eficaz de promoção de saúde); 5) Grupos de escuta (os atendimentos em grupo relatados são formas primordiais de promoção de saúde, principalmente no que tange à atenção básica); e 6) Capacitações para a equipe (Foi possível perceber o interesse da equipe nos assuntos e metodologias aplicadas.  Considerações finais: A passagem do grupo de estudantes pelo campo de práticas tem demonstrado ser um potente espaço de formação dos/as futuros/as profissionais, utilizando-se do modelo formação em serviço. Mesmo os/as estudantes dos cursos que garantem na grade curricular as atividades práticas, como enfermagem e medicina, têm avaliado como muito proveitosa a imersão proporcionada no Multicampi. Os/as estudantes demonstram a satisfação de estarem realizado as tarefas propostas, apesar da agenda exaustiva que enfrentam cotidianamente. Relatam que este convívio diário, no modelo de imersão, permite uma importante troca entre os/as estudantes de diferentes cursos, ampliando seus conhecimentos sobre a área da saúde e aprendendo a desenvolver um trabalho multiprofissional. As equipes das unidades básicas de saúde que recebem os/as estudantes também têm avaliado positivamente o projeto, elogiando a capacidade técnica dos/as estudantes, a seriedade com que encaram as tarefas, o empenho e a disponibilidade com que as realizam. Afirmam também que, além da troca estabelecida com os professores que têm ido a campo disponibilizar percursos formativos que sejam demandados pelo território, a troca com os/as estudantes tem sido de muito aprendizado.