Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O arco de Charles Maguerez como metodologia participativa para a Educação Permanente em Saúde no contexto da reorganização do processo de trabalho na atenção básica em saúde
Mirna Neyara Alexandre de Sá Barreto Marinho, Neíres Alves de Freitas, Mikaele Alves Freitas, Viviane Oliveira Mendes Cavalcante, Thiara Bruna Teodósio, Karine da Silva Oliveira, Rafaelly Sousa Gomes, Maria Rocineide Ferreira da Silva

Última alteração: 2022-01-11

Resumo


Apresentação: A Educação Permanente em Saúde (EPS) representa um grande avanço e investimento na melhoria do Sistema Único de Saúde (SUS). Contribui com o seu  fortalecimento possibilitando o aperfeiçoamento profissional e qualidade de vida do usuário que dele se utiliza. Tais reflexões, emergindo do entendimento dos autores sobre EPS, remete à importância dessa forma de revigoração da prática, a partir da problematização da realidade, consoante com o que vem propor a metodologia ativa, denominada arco de Charles Maguerez. Esse, é considerado um método que pode ser compreendido a partir da pedagogia da problematização, seguindo o esquema de Charles Maguerez. Começa por distinguir dois tipos de educação – a educação bancária ou convergente e a educação problematizadora ou libertadora. A educação bancária, baseada na transmissão do conhecimento e das experiências do professor, atribui importância suprema ao conteúdo da matéria, sem preocupar-se com o aluno como pessoa integral e como membro de uma comunidade. Consequentemente, “o aluno é passivo, grande tomador de notas, exímio memorizador”. Desse modo, ele vai ter facilidade para tratar com conceitos abstratos, mas se desprovém de habilidades de problemas concretos de sua realidade. Na educação problematizadora a proposta é outra; parte do pressuposto de que uma pessoa só conhece bem algo quando este a transforma, transformando também o seu processo. Algumas pressuposições são para a solução de problemas, como uma forma de participação ativa e de diálogo constante entre alunos e professores para se atingir o conhecimento; não um problema qualquer, ou imaginado pelo professor, para estimular o potencial intelectual do aluno, mas problemas reais, percebidos pela observação direta da realidade em foco. O objetivo desse estudo é apresentar uma metodologia participativa para o trabalho com a EPS, no caso, o arco de Charles de Maguerez. Desenvolvimento: Trata-se de um relato de experiência realizado com a comunidade dos bairros Cohab 2 e Sinhá Sabóia, localizados na cidade de Sobral, CE, no período de abril a novembro de 2021. Envolveram-se nessas ações os seguintes atores sociais: profissionais da Estratégia Saúde da Família (ESF) dos Centros de Saúde da Família (CSF) de ambos os bairros, agentes comunitários de saúde, representantes da rádio comunitária do bairro Sinhá Sabóia, lideranças locais e profissionais da Residência Multiprofissional em Saúde da Família (RMSF), sendo esses um enfermeiro, uma assistente social, uma farmacêutica e um profissional de educação física. Os momentos aconteceram nos próprios CSF dos bairros e em outros equipamentos sociais diversos, através de mobilizações. As atividades desenvolvidas foram salas de espera, rodas de quarteirão, programas de rádio e de momentos de educação em saúde nas escolas em que ocorriam as campanhas de vacinação. Para a coleta de informações foi elaborado um diário de campo, com o registro dos impactos dessas ações para os usuários e no cotidiano do serviço. Também foram realizadas rodas de conversas e utilizado formulário no aplicativo Google Forms. Resultados e discussões: O arco de Maguerez é um método de ação-reflexão-ação, mediado pela problematização. Vem sendo utilizado como estratégia de revitalização das propostas de EPS. Proporciona também estratégias de ensino-aprendizagem com cinco fases, que permeiam a realidade social, sendo elas: observação da realidade, fase que compreende a observação e a seleção de um determinado aspecto da realidade, em que os sujeitos devem observá-lo com seus próprios olhos, expressando suas percepções pessoais em uma primeira leitura sincrética ou ingênua da realidade; determinação dos pontos-chave, em que os sujeitos identificam os pontos-chaves dos problemas e as variáveis mais determinantes da situação; teorização, onde é introduzida a discussão teórica-científica do assunto para aprofundamento no mesmo (essa fase poderá confirmar, acrescentar ou rejeitar aspectos da fase anterior); hipóteses de solução, em que os sujeitos confrontam a realidade com sua teorização, possibilitando a formulação de hipóteses de solução (nessa etapa deve ser incentivada a criatividade dos participantes, para confrontar a viabilidade e a factibilidade das hipóteses); e aplicação na realidade, em que o sujeito pratica, fixa e aplica as soluções à realidade encontradas. O arco de Charles de Maguerez foi vivenciado no cotidiano do serviço da ESF da Cohab 2 e do Sinhá Sabóia como estratégia para se pensar o acolhimento como uma diretriz e como uma postura assistencial. O usufruto da metodología deu-se pela necessidade de aproximação com a prática, reflexão-ação e análise do processo de trabalho, para acolher, escutar, dialogar com os usuários e, sobretudo, para utilização da classificação de risco no serviço. Para isso, fez-se uso desta metodologia ativa para a condução. No primeiro encontro houve uma acolhida com músicas, para uma prática gerontomora, também chamada de dança sênior. No segundo momento utilizou-se a árvore de problemas, para que os profissionais pontuassem na sua raíz as causas do acolhimento desorganizado atualmente, bem como as necessidades de melhoria neste serviço. Nas folhas da árvore os profissionais pontuaram as consequências do acolhimento não efetivo com possibilidades de melhoria. No último momento do encontro foi realizada uma breve avaliação, em que cada participante definiu com uma palavra a representação do momento. O uso da metodología do arco de  Charles Maguerez possibilitou desvelar esse problema em partes. Com a compreensão das causas e consequências do acolhimento não efetivo para o serviço, cada profissional assumiu seu compromisso com as mudanças,  ao apontar quais práticas devem ser refletidas, alteradas e ressignificadas, o que fez todo o sentido pois os mesmos são protagonistas e gestores de suas clínicas e práticas de cuidado no trabalho em saúde. Assim, como encaminhamento, foram disparadas algumas ações no serviço, como momentos de EPS, reuniões nos subgrupos, diálogos com alguns setores da ESF que careciam de maior apoio para melhoria das relações interpessoais, dentre outros aspectos. Considerações finais: É a partir das implicações propostas pela concepção de EPS e o uso de metodologias ativas para este fomento que se pensa sobre a importância e o investimento na qualificação da atenção e do cuidado à saúde da população, por meio do estímulo à qualificação profissional, mediante a realização de EPS, para a apropriação de metodologias participativas, como é o caso da utilizada neste estudo -  arco de Charles de Maguerez - bem como outras que são promissoras para o desenvolvimento de competências para o trabalho no contexto da saúde.