Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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TREINAMENTO ACERCA DO SISTEMA DE TRIAGEM DE MANCHESTER: IDENTIFICAÇÃO E RESOLUÇÃO DE DESAFIOS ENCONTRADOS POR ENFERMEIROS
Lais Sousa da Silva, Daniel Reis Correia, Renata Oliveira Caetano, Isis Milani de Sousa Teixeira, Eduarda de Paula Mendes, Caroline de Freitas Silva, Tayane Naraiane de Freitas, Cristiane Chaves de Souza

Última alteração: 2022-01-12

Resumo


Apresentação: A implementação do processo de triagem na prática clínica de enfermeiros atuantes na linha de frente dos serviços de urgência e emergência representa a sistematização, a organização, a segurança e a priorização da assistência à saúde. No contexto da triagem, a tomada de decisão é um fator que requer julgamentos clínico, intuitivo e reflexivo do enfermeiro, para que este seja capaz de atribuir um nível de risco ao seu paciente. A fim de obter maior coerência nos julgamentos, estes são apoiados em escalas ou em sistemas de triagem capazes de auxiliar o profissional na avaliação da queixa principal do paciente. Destaca-se que os julgamentos intuitivo e reflexivo sofrem influência das experiências profissionais passadas dos enfermeiros e, o julgamento clínico corrobora para a confirmação e credibilização dos relatos apresentados pelo paciente. Dentre os protocolos de triagem disponíveis, destaca-se o Sistema de Triagem de Manchester (STM), reconhecido nacional e internacionalmente, como válido para priorizar os pacientes de maior urgência, garantir a aplicação eficiente dos recursos, diminuir a subjetividade do processo de tomada de decisão do enfermeiro e preservar a segurança dos indivíduos assistidos nos pronto-socorros. O STM estratifica a gravidade das situações clínicas em cinco categorias, atribuindo-lhes cores e tempo de espera para o atendimento médico, sendo elas: vermelha (emergente; imediato), laranja (muito urgente; até 10 minutos), amarela (urgente; até 60 minutos), verde (pouco urgente; até 120 minutos) e azul (não urgente; até 240 minutos). Tal estratificação, em um ambiente de grande demanda e poucos recursos, corrobora para o gerenciamento de um fluxo priorizado de atendimento clínico e para a otimização do manejo assistencial, contrapondo-se ao fluxo direcionado pela ordem de chegada. Além disso, o sistema é organizado em diferentes fluxogramas compostos por discriminadores que direcionam a interpretação da queixa para a classificação da prioridade clínica do paciente. Dessa forma, a atuação do enfermeiro emergencista, apoiada no STM, possibilita a melhoria do acesso, diminui a lotação, melhora a qualidade do cuidado, reduz o tempo de permanência e aumenta o grau de satisfação do indivíduo com o serviço de saúde. Assim, o presente estudo objetivou compreender o nível de conhecimento dos enfermeiros de um hospital municipal sobre o STM para que fosse oferecido um treinamento a respeito deste protocolo a partir dos desafios encontrados. Desenvolvimento: Trata-se de uma experiência de atualização de saberes sobre o uso do STM, vivenciada por uma docente e uma discente, do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa, com enfermeiros de um hospital localizado em uma cidade no interior de Minas Gerais. Em um primeiro contato, houve a apresentação de todos os participantes do treinamento, contextualizando-se a jornada profissional e as experiências de cada um até o momento, o que conheciam sobre o STM, e suas principais dúvidas e dificuldades sobre esta ferramenta de classificação de risco. Logo após a identificação das lacunas no conhecimento dos enfermeiros quanto ao sistema utilizado por eles, a docente e enfermeira ministrante do treinamento realizou uma contextualização e revisão geral do processo de classificação de risco pelo STM, exemplificando a utilização correta do método a partir de simulações realísticas de casos clínicos encenados pela aluna. Por último, os enfermeiros receberam cinco casos clínicos fictícios para que pudessem, individualmente, exercitar seus conhecimentos, por meio da identificação da queixa principal, do fluxograma a ser utilizado, do discriminador correspondente à queixa e do nível de risco associado ao caso. Ao término da atividade, os casos foram interpretados e resolvidos em grupo, onde novas dúvidas foram sanadas e divergências foram discutidas. Resultados: Durante as discussões promovidas no treinamento acerca do STM, foi possível observar alguns desafios enfrentados pelos enfermeiros no processo de classificação de risco. Um dos fatores primordiais para a categorização do nível de prioridade dos pacientes é a identificação correta da queixa principal do indivíduo, sendo esta uma das dificuldades encontradas pelos participantes, a qual foi evidenciada através de discordâncias apresentadas durante a discussão dos casos clínicos. Outro fator de grande importância para o estabelecimento do grau de urgência do paciente, e que foi reforçado junto aos profissionais, é a necessidade de seguir à risca a hierarquia de avaliação dos discriminadores em ordem decrescente de prioridade em cada fluxograma do protocolo. Ainda com relação aos discriminadores, os enfermeiros do setor destacaram dúvidas quanto a adequação de queixas inexistentes no protocolo, quanto a seleção de um único fluxograma para pacientes poliqueixosos e quanto a atribuição de um discriminador para casos de elevação pressórica. No contexto de ocorrência destas situações, os profissionais relataram sempre fazer uso do discriminador “mal estar em adulto”. Ademais, os participantes buscaram esclarecimento quanto a como proceder em casos em que o atendimento médico é retardado e não cumpre o tempo de espera estabelecido. Neste parâmetro, notou-se que os enfermeiros sabiam que o quadro dos pacientes poderia mudar durante este intervalo, mas não tinham conhecimento de que deveriam reavaliar os indivíduos sempre que o tempo de espera para atendimento médico estabelecido segundo o nível de risco fosse ultrapassado. Por fim, foi instruída a equipe de enfermagem que acrescentasse ao seu material de trabalho os horários de início e término de cada classificação para que pudessem obter dados para parâmetros de qualidade da assistência oferecida por eles. Considerações finais: O estudo desenvolvido a partir de um treinamento sobre o STM, permitiu identificar os desafios enfrentados por enfermeiros dos serviços de urgência e emergência devido às lacunas encontradas em seus conhecimentos acerca de um instrumento de trabalho. A utilização do STM na prática clínica requer um treinamento adequado sobre o protocolo. Assim, ressalta-se a necessidade de um ensino aprofundado em conteúdos de classificação de risco e escalas de triagem durante a graduação em enfermagem, além da formação específica sobre o STM, oferecida pelo Grupo Brasileiro de Classificação de Risco. A inadequação da priorização dos indivíduos pode levar ao uso desnecessário de recursos hospitalares, em casos de superestimação, e aumentar o risco de consequências adversas aos pacientes, em casos de subestimação do nível de risco. Classificar o risco clínico dos pacientes corretamente é essencial para minimizar transtornos como a lotação de leitos, a demora para os atendimentos, o agravamento das situações de saúde e a insatisfação dos usuários.