A pandemia em razão da doença COVID-19 vem desafiando serviços de saúde, requerendo uma organização de estratégias psicossociais para seu enfrentamento. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) atendem pessoas em sofrimento mental, ofertando abordagens psicossociais, que têm enfrentado desafios nesse cenário. A fim de facilitar o acesso a medicamentos, por meio das farmácias dos CAPS são realizadas dispensações e orientações de forma acolhedora e cuidadosa, pelo profissional farmacêutico, visando o uso racional de medicamentos e a melhoria do quadro de saúde dos pacientes. De forma global, apenas uma minoria dos portadores de transtornos mentais recebe algum tipo de tratamento adequado, sendo que o número de intervenções visando a prevenção de transtornos mentais é ainda menor. Estas falhas violam o direito à saúde e levam os portadores de transtornos mentais a lidar com seus problemas de forma amplificada, dada a grandeza das implicações que a pandemia trouxe. Dessa forma, esse estudo objetivou avaliar os impactos da pandemia de COVID-19 em atendimentos realizados por profissionais de saúde e nas dispensações de medicamentos em um CAPS. Trata-se de um estudo retrospectivo de natureza observacional sobre o impacto da pandemia de COVID-19 no número de atendimentos realizados e tipo e número de medicamentos dispensados em um CAPS. Foram incluídos todos os dados de atendimentos no CAPS e de medicamentos dispensados no período de janeiro de 2019 a dezembro de 2020. Os dados foram colhidos por meio de acesso a relatórios de gestão operacional do serviço de saúde em questão e acesso aos prontuários farmacêuticos de pacientes. Os dados coletados foram organizados e compilados em planilha elaborada no Microsoft Excel® versão 2014. Os resultados foram expressos em números absolutos e relativos de atendimentos e medicamentos dispensados. Os resultados do estudo mostram que durante o período pandêmico houve queda no número de atendimentos do CAPS, como consultas médicas, de psicólogos e assistentes sociais, quando comparado ao período pré-pandemia. Com a pandemia, muitos serviços de saúde mental tiveram seu funcionamento limitado, levando à descompensação de muitos pacientes com transtornos mentais que, antes, estavam sob controle adequado. A partir de efeitos da pandemia como o isolamento, estes pacientes passaram a sofrer com o medo e a solidão, gerando reflexos inclusive em situação financeira, de higiene pessoal, hábitos alimentares e o modo de consumir medicamentos. Em relação aos medicamentos psicotrópicos e seus respectivos números de dispensações, as dispensações de antipsicóticos e de estabilizadores do humor aumentaram. Conclui-se que a pandemia de COVID-19 trouxe diversos impactos negativos à saúde mental. Serviços de saúde, sobretudo nos quais a interação entre profissionais e pacientes é fundamental, foram fortemente impactados. Como consequência, a vida social dos pacientes do CAPS foi prejudicada, dada a importância desse serviço para o reestabelecimento dos pacientes na esfera psicossocial. Aliado a isto, foi maior o uso de antipsicóticos e estabilizadores do humor, podendo este fato estar relacionado ao adoecimento de indivíduos que não possuíam histórico de transtorno mental prévio, bem como à piora no quadro de pacientes com transtornos mentais de ocorrência anterior à pandemia.