Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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PICAPS - Plataforma de Inteligência Cooperativa na Atenção Primária à Saúde para o enfrentamento da Covid-19 nos territórios
wagner jesus martins

Última alteração: 2022-01-18

Resumo


 

Diante da disseminação global do vírus Sars-Covid-19 em 2020 e o aumento dos casos no Brasil, com o crescimento exponencial da doença e colapso do sistema de saúde, acompanhado de significativas pressões sobre os trabalhadores da saúde, que enfrentavam desde questões no campo da segurança biológica, àquelas de caráter psicológico, surge o projeto PICAPS para apoiar a APS nos territórios. Inicialmente, a Fiocruz necessitou atender residentes dos seus programas em Brasília. Considerando o aumento exponencial de casos no DF.

O aumento da incidência da doença trouxe consigo maiores dúvidas e tensões emocionais aos profissionais da saúde e demandou expansão da PICAPS que foi feito usando-se o Acordo nº 175/2018 de Parceria com a UNB, que tem o propósito de produzir informações por meio de coleta de dados, tratamento, análise e distribuição de informação para suporte (educacional, científico e técnico) aos gestores e trabalhadores do sistema de saúde do GDF, com o envolvimento da SES do DF.

O conceito de PICAPS enquanto uma “plataforma tecnológica” é uma metáfora que ajuda a sistematizar os processos de comunicação e negociação dos diversos atores envolvidos. A plataforma busca realizar o desenvolvimento científico e tecnológico, e a sua aplicação social, nos territórios por meio de ações de pesquisa, educação, extensão e inovação, voltadas, hoje, ao enfrentamento da COVID-19 com foco nos processos da APS e Vigilância em Saúde.

A Plataforma se organiza em 4 eixos (território, saúde digital, inteligência epidemiológica - IE e teleorientação), tem como estratégias a integração da vigilância com a APS e as comunidades para monitorar e conter a covid-19 e mitigar suas consequências.

Objetivo

Apoiar as estratégias de integração da atenção primária e vigilância à saúde nos territórios para o enfrentamento da Covid-19 e sua consequência, baseado em tecnologias digitais e infraestrutura de suporte às pessoas e às unidades de saúde.

Objetivos específicos

●        Desenvolver artefatos tecnológicos digitais, que sejam dotados de alta densidade de conhecimento científico, e que possam ser úteis no enfrentamento da COVID-19 e seus impactos;

●        Monitorar a situação da epidemia, produzindo subsídios científicos às decisões e às ações do sistema de saúde e da sociedade para o enfrentamento à Covid-19, com foco na integração da Atenção Primária à Saúde e a Vigilância em Saúde;

●        Facilitar com infraestruturas de integração de informações o uso da inteligência cooperativa e territorial, a troca de saberes sociotécnicos locais no enfrentamento da Covid-19 e na realização de solidariedade nos territórios mais vulneráveis;

●        Prover suporte técnico, científico, educacional e emocional aos trabalhadores da APS e vigilância em saúde para atuar nas unidades de saúde e nos territórios;

●        Estimular a integração de organizações de ciência e tecnologia que realizem  ensino, pesquisa,  extensão e empreendedorismo relativos ao enfrentamento da COVID-19, e que compartilhem o interesse em promoção de inovação aberta nesse tema.

 

Desenvolvimento do trabalho:

O trabalho se baseia em uso de instrumentos tecnológicos que facilitem a coordenação e organização da pesquisa técnico-científica, um dos exemplos de solução foi o uso da plataforma Microsoft Teams para viabilizar a interação permanente entre a rede de pesquisadores da Fiocruz, os tele-orientadores, os trabalhadores no campo de prática e as comunidades, o que formou um sistema de inteligência cooperativa – SIC que passou a disponibilizar respostas rápidas sobre a Covid-19. Para isso, entrou em operação a redes de especialistas em sínteses de evidências e de epidemiologia com as avaliações necessárias para orientar as pessoas, sistematizando e disponibilizando as informações e análises de cenários referentes à Covid 19 no Brasil e no DF. As informações georreferenciadas das estruturas de saúde como os casos de Covid-19facilitam os diagnósticos situacionais dos territórios, o planejamento das ações baseada em metodologias de produção de evidência científicas e o suporte tecnológico, científico e emocional aos territórios e seus profissionais de saúde.

As atividades estão sendo operacionalizadas por profissionais de medicina, enfermagem e psicologia que realizam tele-orientação aos trabalhadores, inicialmente aos residentes da Fiocruz, seus preceptores e, desde maio de 2020, aos profissionais da APS. Por meio deste atendimento os profissionais encaminham dúvidas e perguntas, e recebem apoio psicológico, como parte do SIC. Também foi integrada à Picaps a Sala de Situação de Saúde da UnB onde funciona um dos eixos, o de Inteligência Epidemiológica que conta com a participação de epidemiologistas do Nevs/Fiocruz e da FCS que, por meio da análise e avaliação da situação de saúde da população, vem contribuindo para as ações de vigilância em saúde e para o processo de tomada de decisões e concretização das ações realizadas.

A PICAPS, tem possibilitado inovações científicas e tecnológicas, que contribuem para gerar desenvolvimento social, inclusive com a criação de empresas, startups, empregos, negócios e um ecossistema de desenvolvimento tecnocientífico em saúde digital.

Seus eixos:

Implementada a Rede de Radar de Territórios com a formação de vários comitês populares em articulação com a atenção primária e a vigilância em saúde para enfrentar os problemas de saúde causado pela COVID-19 e suas consequências. Ações de formação, comunicação, economia solidária e vigilância popular estão sendo realizadas com base no plano popular de enfrentamento da covid-19 elaborado em parceria com o conselho Distrital de Saúde.

A IE realiza análises sistemáticas da dinâmica territorial da pandemia no DF gerando painéis com gráficos, mapas e outros instrumentos de visualização das condições de saúde da população; reuniões periódicas com as equipes da APS da SESDF a elaborou o Plano de Ações Articuladas com a Coordenação da APS, a SVS e as superintendência Regionais de saúde.

A transformação digital que já vinha ocorrendo de forma rápida, acelerou-se com a pandemia, desta forma o grupo de transformação digital passou a desenvolver e a poiar a SESDF na implementação de artefatos digitais para atender as necessidades operacionais e de tomada de decisão pelos gestores, inclusive com a realização de projetos transformação digital para modernizar a Sala de Situação em Saúde da SESDF, assim como  com a realização de hackathon  para seleciona projetos de startups para disponibilizar instrumentos digitais à APS e à SVS.

Tendo como principal usuários os cerca de 220 profissionais do programa de residência da Fiocruz com campos de prática nos serviços da SES DF, vem possibilitado uma educação permanente e continuada em tempo integral, por meio de atividade síncronas e assíncronas de construção de conhecimentos (Teleorientação). Ações de educação popular para formação de agentes populares de saúde e agentes populares e economia solidária, além de sistemáticas sessões de LIVE temáticas relacionadas a saúde em contexto de pandemia, acontecem periodicamente.

A PICAPS vem se apresentando como uma alternativa potente para os momentos de crise sanitária, mas também como um dispositivo de integração da educação, pesquisa e aplicação com as 3 hélices: a academia, os serviços e a comunidade, em interativa troca de saberes para potencializar as ações necessárias para enfrentar de forma solidaria e cooperativa as causas e consequências da covid-19.

Entretanto, é importante ressaltar que a dinâmica política local afeta e será afetada por um dispositivo dessa natureza, gestões. em uma das hélices, mais ou menos comprometidas com a ideia de cooperação, podem acelerar ou retardar o avanço, mas não neutralizarão seu potencial técnico-científico. Vários entraves políticos ocorreram nesse período, mas a PICAPS segue expandindo-se para outros estados, a exemplo do RS com a inclusão de outras universidades à Plataforma.