Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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PROJETOS DE INTERVENÇÃO COMO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: EXPERIÊNCIA DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA E A SISTEMATIZAÇÃO DE RESPOSTAS À PANDEMIA DE COVID- 19
Dara Andrade Felipe, Flávia Silvestre Outtes Wanderley, Taís de Jesus Queiroz, Luciana Camêlo de Albuquerque, Célia Maria Borges da Silva Santana, Emmanuelly Correia de Lemos, Neuza Buarque de Macêdo, Leila Monteiro Navarro Marques de Oliveira

Última alteração: 2022-01-25

Resumo


1. Apresentação

O objetivo do resumo é descrever a experiência de desenvolvimento de Projetos de Intervenção (PI), modalidade de Trabalho de Conclusão de Curso, no Curso de Especialização em Saúde Pública da Escola de Governo em Saúde Pública de Pernambuco (ESPPE).

Em 2019 foram ofertadas três turmas do Curso, descentralizadas e interiorizadas, contemplando trabalhadores de todas as Regiões de Saúde do estado. Os Projetos de Intervenção se baseiam no referencial da Educação Permanente em Saúde (EPS) no qual o processo formativo tem como sustentação as problemáticas e as necessidades do trabalho, visando à formulação de estratégias e respostas efetivas na superação das situações identificadas. São planejados e executados de forma interprofissional.

Com a pandemia de COVID- 19, alguns especializandos reorientaram os seus PI, assumindo como problemática o desenvolvimento de estratégias de gestão e atenção à saúde para enfrentamento da pandemia da COVID- 19. Durante a pandemia, as disciplinas do curso incorporaram a análise da situação sócio-epidemiológica consequente dos efeitos da COVID-19 no estado, provocando o desenvolvimento de ferramentas e estratégias de intervenção pelos sanitaristas.

2. Desenvolvimento do trabalho

O Curso de Especialização em Saúde Pública abrangeu 106 profissionais (concluintes). Desses, 11 (onze) tiveram o Projeto de Intervenção reorientado para a temática da pandemia da COVID-19, que serão contemplados neste resumo.

São analisados os seguintes elementos: a) as estratégias de suporte ao desenvolvimento dos Projetos de Intervenção implementados no curso de especialização; b) os Projetos de Intervenção desenvolvidos considerando as temáticas, problemáticas identificadas e intervenções propostas; c) as estratégias de compartilhamento das intervenções realizadas.

3. Resultados e/ou impactos

No momento de retomada das atividades do curso de especialização, onze especializandos redirecionaram seus Projetos de Intervenção para que tratassem das ações desenvolvidas na pandemia. Para esses e os demais, foram organizados Grupos de Acompanhamento Virtual com a equipe pedagógica do curso e docentes, que acompanhavam o desenvolvimento dos trabalhos dos discentes, contribuindo não só com a estruturação do trabalho acadêmico, como também com as intervenções propostas.

Por serem todos trabalhadores da gestão do SUS, todos os  estudantes do curso estavam envolvidos nas ações de enfrentamento da pandemia. Assim, foi possível perceber que os Grupos de Acompanhamento também se configuraram como espaços de compartilhamento das experiências, servindo de inspiração e análise dos colegas.

A análise dos onze PI permite agrupá-los em 6 (seis) temáticas. Tais sejam: Adequação de serviço de saúde para atenção à usuários suspeitos ou confirmados com COVID- 19 (1); Implantação de Grupo de Trabalho/ Comitê de Gestor Municipal da pandemia de COVID-19 (2); Vigilância em saúde para controle da disseminação do novo coronavírus (2); Reestruturação da regulação em saúde frente à pandemia de COVID- 19 (1); Reorganização da atenção à saúde de grupos prioritários (3); Ações de saúde do trabalhador (2).

Dentre essas temáticas, a mais frequente foi a de Reorganização da atenção à saúde de grupos prioritários, com três PI.. Destaca-se a relevância dessas ações como esforço dos gestores que, mesmo diante da urgência da oferta de assistência para os usuários com COVID- 19, mantiveram sua responsabilidade na continuidade do cuidado à grupos prioritários. Duas dessas ações tiveram como público os serviços de atendimento às pessoas com deficiência e um deles o processo de trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde no acompanhamento dos usuários que não poderiam ter as visitas domiciliares suspensas.

Quanto às problemáticas identificadas, pode-se agrupá-las em quatro blocos: Aumento do número de casos de covid-19 e a necessidade de reorganização da rede de atenção à saúde municipal e desenvolvimento de estratégias de comunicação com a população e de treinamento dos profissionais de saúde (4);  necessidade de continuidade do cuidado aos grupos prioritários de atenção à saúde (3); circulação do novo coronavírus e a necessidade de medidas de vigilância para controle da transmissão do vírus no território (2); o comprometimento das condições de saúde dos profissionais em decorrência da sobrecarga de trabalho durante a pandemia de COVID-19 (2).

A seguir listamos as intervenções realizadas:

a. Mudanças no espaço físico e ambiência do estabelecimento de saúde municipal, bem como reorientação do processo de trabalho de acordo com protocolos nacionais e estaduais;

b. Implantação de Grupo de Trabalho para fortalecimento da vigilância e assistência à saúde por meio de  criação de fluxograma assistencial, avaliação periódica da situação epidemiológica , capacitação dos profissionais e ações de comunicação em saúde.

c. Criação do Comitê Municipal de Enfrentamento ao Novo Coronavírus, formulação de Plano de Enfrentamento ao Novo Coronavírus pelo comitê e construção de Matriz de Monitoramento das ações.

d. Implantação de barreiras sanitárias para o controle de entrada e saída dos residentes e visitantes durante a pandemia de COVID-19 pela Vigilância em Saúde Municipal.

e. Oferta de acolhimento psicossocial para profissionais atuantes nas Unidades de Terapia Intensiva de COVID- 19 de um hospital municipal.

f. Realocação física da equipe de gestão do complexo regulador estadual, recomposição da equipe profissional, desenvolvimento de ferramentas de tecnologia.

g. Reorganização do processo de trabalho para uso de novas ferramentas de assistência, através de plataformas virtuais, para se chegar ao usuário em suas necessidades, garantindo-lhes o cuidado e a informação.

h. Implantação de Comitê de Crise Intersetorial Municipal para o desenvolvimento de Barreiras Sanitárias, educação em saúde, desinfecção de praças e prédios públicos, tenda itinerante, fiscalização do Lockdown, recomendações sanitárias protocoladas e entregue aos setores competentes, carros de som, testagem precoce, dentre outros.

i. Implantação da Vigilância Municipal em Saúde do Trabalhador através da revisão dos instrumentos de gestão local, mudança no organograma institucional da Secretaria Municipal de Saúde e elaboração de plano municipal de saúde do trabalhador e da trabalhadora.

j. Implantação de Teleatendimento na Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no contexto da pandemia  do  COVID-19

k. Ações de Educação Permanente para reorganização do processo de trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde na visita domiciliar de grupos prioritários da Atenção Básica.

Ao final da formulação dos PI, foram realizadas Rodas de Conversa. A escolha deste formato decorreu do objetivo de publicização das intervenções realizadas e produção de diálogo com atores inseridos em diversos pontos do SUS. Para provocar o debate, foram convidados gestores com afinidade e domínio das temáticas apresentadas para comentarem e contribuírem.

4.Considerações finais

A adoção do Pojeto de Intervenção como modalidade de Trabalho de Conclusão de Curso mostrou-se satisfatória por articular a capacidade de análise, sistematização e formulação de respostas necessárias à mudança das condições de saúde da população.

O redirecionamento de Projetos de Intervenção para temáticas relacionadas à pandemia de COVID- 19 possibilitou que os especializandos pudessem qualificar o desenvolvimento de suas ações mediante espaços de trocas e aprendizagens dialógicas propostas no curso de especialização. Contudo, reconhece- se os desafios de conclusão de um curso de especialização durante a pandemia, tendo sido desafiador garantir espaços protegidos na rotina desses profissionais de saúde para o processo de aprendizagem e produção dos Projetos de Intervenção.

Destaca-se que a diversidade de temáticas e de intervenções propostas reflete a complexidade de respostas necessárias para o enfrentamento da pandemia. Foi possível perceber que mesmo problemáticas semelhantes acionaram intervenções de diferentes dimensões o que indica que as respostas, para serem efetivas, devem ter como base o quadro sanitário de cada território, bem como a  estrutura/ recursos disponíveis de serem acionados.