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Introdução: Este estudo é o resultado de uma experimentação no campo da pesquisa qualitativa, sendo um platô de uma tese de doutorado sobre a cartografia da profissão Agente Comunitária de Saúde (ACS). Platô é tudo que está no meio, no entre, não tem início, nem fim; são zonas que compõem o rizoma, uma região contínua de multiplicidades e intensidades. A criação do círculo rizomático brotou dos diálogos com os participantes durante o movimento de planejamento do campo. Buscamos suporte teórico nas obras de Gilles Deleuze e inspiração em autores brasileiros que vem experienciando metodologias cartográficas inovadoras e insurgentes em suas produções acadêmicas. A pesquisa baseada na cartografia foi se delineando no caminho, à medida que nos apropriávamos do território, fazendo emergir infinitas possibilidades e estratégias metodológicas capaz de mapear as redes rizomáticas construídas no encontro com os sujeitos da pesquisa, bem como foi possível a identificação de alianças e parcerias para o desenvolvimento do estudo. Desta forma, nasce a ideia de criar um modo insurgente para a composição dos participantes da pesquisa. Bebemos da concepção Deleuzeana de círculo convergente, onde cada platô pode ser analisado de forma relacional com suas multiplicidades e agenciamentos coletivo. O agenciamento é um conjunto de singularidades e de traços extraídos do fluxo; selecionados, organizados, estratificados – de maneira a convergir em consistências artificialmente e naturalmente. O objetivo deste ensaio é relatar a experiência na criação de um modo para o acesso ao campo da pesquisa cartográfica, com vista a inclusão dos sujeitos como participante ativo no processo de produção das informações.

Desenvolvimento: O presente trabalho se insere no campo da pesquisa-intervenção, que pretende cartografar as singularidades da realidade e a produção de pesquisa implicacional com o mundo vivo. A cartografia se insere na compreensão da cognição inventiva e na política criadora, se afastando de métodos que se ancoram em bases epistemológica da representação. As andarilhagens pelo território foram registradas no diário cartográficos, sendo depois sistematizadas no que denominamos de círculos rizomáticos . Consideramos círculos rizomáticos os acontecimentos que foram se delineando durante todo o período que estivemos no campo. Portanto, inseriu-se no círculo a nossa participação, numa oficina de reterritorialização em saúde realizada com todos e todas ACS do município, as visitas a casa da primeira enfermeira que coordenou o programa, os diálogos com o responsável pela seleção das primeiras ACS, encontros com a gestão municipal; bem como as trocas e impressões entre nós autores e autoras.  Enfim, um rizoma se esboçava e a cada encontro expandia-se, invaginavam-se por novos territórios existenciais.  Círculos dentro de círculos brotavam, como o movimento das águas em redemoinho. Foi aí que entendemos que esses momentos poderiam ser denominados de círculos rizomáticos, pois como rizoma a água por sua fluidez não tem começo nem fim. Portanto, ao propormos o círculo rizomático experienciamos uma reversão metodológica, proposta pela cartografia, ou seja, fomos nos desafiando no caminho a traçar nossas metas, norteadas por pistas que no percurso foram nos dando a liberdade criadora ao nos deparar no plano da experiência. O campo desta experimentação foi a zona urbana do município de Tauá, situado no sertão dos Inhamuns, Ceará, sendo que algumas Unidades Básicas de Saúde (UBS) eram mistas, ou seja, tinha ACS que atuavam em zona rural. Essas foram inseridas na pesquisa. Tauá é a cidade pólo da região, apresenta bons indicadores de crianças na escola, mas ainda persiste alto índice de analfabetismo, principalmente na zona rural. O acesso aos serviços de saneamento básico ainda é incipiente, com média inferior a 50% de domicílios com rede de esgoto público. No período de 7 de fevereiro a 10 março de 2020, munidas do equipamento de cartógrafa, percorremos as oito UBS da zona urbana do município. As conversas foram gravadas e após cada encontro escolhíamos os ACS e as ACS para participar das oficinas posteriormente, bem como pactuávamos os movimentos seguintes da pesquisa. Para fins de comunicação criamos um grupo de Whatsapp, onde todos e todas podiam acompanhar o processo da produção da pesquisa. Os encontros foram agendados previamente pela coordenação da atenção básica e referendados em reunião extraordinária da Associação de agente de saúde, onde apresentamos o projeto. A pesquisa foi realizada obedecendo os preceitos da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará, com número de registro 26535319.1.0000.5534.

Resultados: Participaram da experiência 51 ACS, sendo 49 mulheres e 2 homens. Com relação a área de atuação, quatro ACS são da zona rural e 47 da zona urbana. Todas e todos tem o ensino médio completo e poucas ensino superior. Realizamos oito círculos rizomáticos, que seguiu as seguintes problemáticas-pistas: Quais as potencialidades do coletivo ACS e como acessá-las? Como produzir a cartografia da profissão ACS?  Quais sujeitosdevem ser inseridos na produção da cartografia da profissão ACS? O círculo rizomático teve os seguintes movimentos: (1) Apresentação dos participantes por meio de uma técnica grupal denominada: meus talentos, (2) validação dos objetivos da pesquisa; (3) mapeamento dos ACS e das ACS para participar dos outros movimentos da pesquisa; (4) pactuação da devolutiva dos efeitos da pesquisa. Dos círculos rizomáticos emergiram os talentos e potencialidade que foram expressos em narrativas coletivas, apresentadas por eles ao final de cada círculo. Após cada encontro as/os ACS escolhiam algumas/alguns ACS para participar das oficinas posteriormente, sendo elencados 15 ACS do munícipio de Tauá.

Considerações: A entrada no campo foi permeada de trajetórias inventivas, que foram se confluindo, se compondo como em uma aquarela, foi pura experimentação. Máquina desejante. Na busca do comum ousamos nos aventurar pelo território da comunidade, verdadeiras andanças. Como andarilhos fomos caminhando e nos caminhos experimentamos encontros furtivos com os participantes da pesquisa. Das andanças pudemos sistematizar um novo modo de adentrar no campo. Assim a sistematização do círculo rizomático se configurou como uma experimentação potente, capaz de incluir todos e todas no processo organizativo e produtivo da tese.

Descritores: pesquisa qualitativa; cartografia; Agente Comunitário de Saúde;