Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Restrição da venda de produtos de tabaco apenas tabacarias: experiências, cenários e panorama das legislações atuais
Lucas Manoel da Silva Cabral, Fernando Nagib Jardim, Maria José Domingues da Silva Giongo, Andréa Ramalho Reis Cardoso, Maria Raquel Fernandes da Silva, Vera Lúcia Gomes Borges, Aline de Mesquita Carvalho

Última alteração: 2022-01-17

Resumo


Apresentação. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano. Mais de 7 milhões dessas mortes resultam do uso direto desse produto, enquanto cerca de 1,2 milhão é o resultado de não-fumantes expostos ao fumo passivo. A OMS afirma ainda que cerca de 80% dos mais de um bilhão de fumantes do mundo vivem em países de baixa e média renda onde o peso das doenças e mortes relacionadas ao tabaco é maior. No Brasil, 443 pessoas morrem a cada dia por causa do tabagismo, o que corresponde a 161.853 mortes anuais que poderiam ser evitadas, sendo que: 37.686 correspondem à Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, 33.179 às doenças cardíacas, 25.683 a outros cânceres, 24.443 ao câncer de pulmão, 18.620 ao tabagismo passivo e outras causas, 12.201 à pneumonia e 10.041 ao acidente vascular cerebral. R$125.148 bilhões são os custos diretos e indiretos referentes aos danos gerados pelo consumo de cigarro no sistema de saúde e na economia. Existem na sociedade inúmeros fatores que contribuem para a iniciação ao tabagismo, dentre eles podem ser citados: a diversidade de pontos de venda de produtos de tabaco que facilitam o acesso aos produtos, pontos de venda próximo a unidades de ensino, a venda a varejo, a venda a menores de idade, a presença do mercado ilegal de tabaco, a ausência de embalagens padronizadas, a grande variedade de produtos de entrega de nicotina, os modelos de comportamento (influenciadores, pais ou responsáveis, parentes e profissionais que convivem com crianças, adolescentes e jovens), e o baixo preço do produto, sendo que o Brasil têm o 5° menor preço na Região das Américas para o maço de 20 cigarros da marca mais vendida no país. Além disso, as redes sociais atingiram uma grande popularidade entre os adolescentes e jovens e a indústria do tabaco, ciente deste fato, tem criado várias estratégias e táticas para promover e vender os seus produtos, em especial os dispositivos eletrônicos para fumar. A experimentação é o primeiro passo para uma futura adesão ao consumo regular dos produtos de tabaco, e no Brasil esta é a segunda droga mais consumida pelos jovens. Frente aos desafios impostos, verificou-se a oportunidade de realizar uma busca abrangente das publicações relacionadas à venda dos produtos derivados de tabaco, com o propósito de conhecer e sistematizar o conhecimento sobre os possíveis aspectos favoráveis ou limitadores relacionados ao fácil acesso a tais produtos. Este estudo teve como objeto a restrição da venda de produtos derivados de tabaco apenas em tabacaria no Brasil. O objetivo foi analisar a legislação atual, experiências e cenários existentes sobre a restrição da venda de produtos derivados de tabaco apenas em tabacarias. Métodos. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, na qual realizou-se uma revisão de escopo conduzida de acordo com a metodologia JBI com base na estrutura do PRISMA Checklist and Explanation. A fim de se obter uma visão geral do estado atual do conhecimento o estudo foi dividido em duas fases. Na fase 1, fez-se o mapeamento das publicações sobre experiências e cenários existentes sobre a restrição da venda de produtos de tabaco apenas tabacarias no mundo; e, na fase 2, mapeou-se as legislações sobre experiências e cenários existentes sobre a restrição da venda de produtos derivados de tabaco apenas tabacarias em 33 países pré-selecionados. Resultados. Os resultados evidenciaram que os bairros de baixa renda geralmente têm uma densidade maior de pontos de venda de tabaco e apresentam taxas mais altas de uso do tabaco, levando a iniquidades em saúde. Estudos têm demonstrado de forma consistente que as crianças têm maior probabilidade de fumar quando vivem ou vão à escola em bairros com alta densidade de varejistas de tabaco. As empresas de tabaco também são conhecidas por atingirem bairros de baixa renda com práticas predatórias de marketing e varejo. Com base nos resultados do estudo foram elaboradas recomendações que detalham procedimentos que são necessários para restringir a venda de produtos de tabaco apenas em tabacarias, com o objetivo de limitar a densidade de pontos de venda de produtos de tabaco a fim de facilitar o planejamento da fiscalização do ponto de venda, de aspectos relacionados ao comércio legal, tais como o controle do preço, propaganda e publicidade ilegais, embalagens de acordo com o disposto na legislação, dentre outros. Tais recomendações indicam a restrição do número de pontos de vendas autorizados a operar em uma localidade, limitando a proximidade entre eles, restringindo a proximidade de escolas e outras áreas voltadas para crianças, adolescentes e jovens, proibindo a venda de produtos do tabaco em outros estabelecimentos comerciais, que não sejam tabacarias nas quais também seria proibido o uso de produtos de tabaco. A restrição dos pontos de venda possibilitaria um maior poder de fiscalização dos preços estabelecidos, a verificação da adequação das embalagens, estimularia a cessação (diminuindo o acesso dos produtos aos fumantes), coibiria o comércio ilícito e a venda de tais produtos a menores de idade. Adicionalmente, cabe ressaltar que a restrição da venda de produtos de tabaco apenas em tabacarias, com normas legais para abertura e funcionamento desses estabelecimentos, com localização prévia bem definida, com o cumprimento da legislação sobre seu funcionamento, fiscalização sanitária prioritária e com restrição de acesso a população, seria um grande passo nas ações de controle do tabaco, contribuindo assim com a maior queda da prevalência de consumo do tabaco, com a prevenção da iniciação e do tabagismo passivo no País. Considerações Finais. Por meio do estudo realizado, compreende-se que é possível instituir a venda de produtos derivados de tabaco exclusivamente em tabacarias no Brasil, contudo, tais estabelecimentos estariam sujeitos a um novo ordenamento jurídico a ser instituído em âmbito nacional. Conclui-se, portanto, que tal medida contribuiria com a Política Nacional de Controle do Tabaco, reduzindo a demanda e a oferta destes produtos no território Nacional. A adoção da medida de restrição de venda de tabaco apenas em tabacarias fortaleceria a implementação dos artigos 6, 11, 12, 13, 14, 15 e 16 de forma mais específica, da Convenção-Quadro da Organização Mundial da Saúde para o Controle do Tabaco (CQCT /OMS).

 

Palavras-chave: promoção da saúde, tabaco, tabagismo, restrições de vendas, controle do tabaco.