Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Estudantes da Saúde frente a pandemia da COVID-19
André Angelo Ribeiro de Assis Filho, Vitor Sérgio Borges, Wallace Silva Vargas, Izabela Novais Ferreira, Gabriel Trevizani Depolli, Margareth Attianezi

Última alteração: 2022-02-23

Resumo


APRESENTAÇÃO/INTRODUÇÃO

A Pandemia de COVID-19 ocasionou um aumento do fluxo diário de informações sobre a doença, caracterizando uma “infodemia” muitas vezes distorcendo o fato científico. O conhecimento limitado sobre o vírus e a doença, além da omissão dos agentes e instituições públicas no combate às fake news, facilitaram a desinformação. Neste contexto, o conhecimento atento e aprofundado, realizado pelos cientistas, se apresenta como única fonte de informação confiável para elaboração de medidas protetivas e orientação à população.

Nesse cenário, o profissional de saúde desempenha o papel fundamental de divulgação de informações de cunho científico, seja através de ações de educação em saúde ou dos meios de comunicação. De forma paralela, o estudante da área da saúde deverá cumprir com as implicações do seu papel social na disseminação destes conhecimentos, aprimorando a chamada Literacia em Saúde, definida como um conjunto de habilidades e competências que devem ser desenvolvidas nos profissionais ao longo da graduação e que são utilizadas na compreensão das informações sobre saúde.

O presente trabalho propõe analisar algumas questões dos resultados relativo ao banco de dados da pesquisa “ANÁLISE DE CONCEPÇÕES, VIVÊNCIAS E PRÁTICAS DOS ESTUDANTES DA SAÚDE DO CCS/UFES DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19” no que se refere às fontes de informação utilizadas pelos estudantes nos primeiros 5 meses de pandemia, suas percepções sobre a adesão às orientações de prevenção da Organização Mundial Da Saúde (OMS) e o comportamento do estudante da saúde frente à medidas protetivas.

A pesquisa foi realizada por meio de um formulário do Google Forms®, disponibilizado para os estudantes do Centro de Ciências da Saúde de uma universidade pública federal em julho de 2020. A amostra foi composta por estudantes dos cursos de Enfermagem e Obstetrícia, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Nutrição, Odontologia e Terapia Ocupacional. Os entrevistados foram maiores de 18 anos, regularmente matriculados e que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da instituição pelo parecer nº 4.120.759 (CAAE 31529520.0.0000.5060).

Os dados descritivos coletados foram tabulados e analisados através de planilhas do Software Microsoft® Excel® para Microsoft 360, do Software Epi Info™ 7.2.4.0 e das bibliotecas WordCloud e spaCy, em Python.

Resultados e Discussão

Entre os 2.161 alunos matriculados nos cursos do Centro de Ciências da Saúde em julho de 2020, 378 (17,5%) responderam ao questionário, sendo 83,6% (n=316) do sexo feminino, com idade média de 22,5 anos. Quando indagados se foram requisitados como fonte segura de informação ou como autoridade quanto ao distanciamento físico e a COVID-19, um número significativo de estudantes (72,2%, n=273) afirmaram não terem sido requisitados, contrariando as expectativas iniciais dos pesquisadores.

Quanto à intensidade do consumo de informações relativas a COVID-19, aproximadamente 33% dos estudantes considerou seu consumo de informações “intenso” ou “muito intenso”. Apesar de 39,3% (n=150) relatarem ter realizado ao menos um curso sobre a COVID-19, os jovens universitários apontaram as reportagens jornalísticas como um dos meios “muito utilizado”(37%) para busca de informação sobre a doença. Pesquisas indicam que quando a informação científica é socializada existe uma tendência de se perder alguns elementos referentes ao fato científico, causando um ruído na comunicação.

Ainda no mesmo tópico, as redes sociais e as conversas com amigos e familiares, também foram pontuadas como “muito utilizadas” obtendo uma frequência considerável, 34% e 27%, respectivamente. O uso das redes sociais como fonte de informação pode ampliar o acesso às fake news e à informações de baixa qualidade, demonstrando uma dependência midiática. Os artigos científicos foram a opção mais pontuada como “não utilizadas” (16%), apesar de possuírem maior confiabilidade.


Entre os estudantes, 83,9% (n=317) perceberam que em seu contexto social houve desprezo pelas orientações sanitárias da OMS, nos cinco primeiros meses da pandemia. Na sequência os entrevistados responderam a uma questão aberta a respeito de sua percepção sobre as orientações da OMS por pessoas próximas, a Nuvem de palavra formada a partir das respostas apresentou as palavras “Família”, seguida de “Máscara”, “Isolamento”, “Festas” e “Social”, indicando o desprezo pelas orientações de prevenção à COVID-19, reafirmando a resposta da questão de múltipla escolha. Ressalta-se que no período da pesquisa, os dados oficiais indicavam uma alta taxa de casos e óbitos por COVID-19 no estado, com baixa adesão da população ao isolamento

Em prosseguimento, os estudantes descreveram suas percepções sobre adesão ao distanciamento social e preocupações quanto à contaminação no bairro onde residem. Na Nuvem de Palavras, destacaram-se os vocábulos “Baixa”, “Máscara” e “Comércio”, seguidas de “Recomendação”, “Preocupação” e “Aglomeração”.

No que se refere a conduta do próprio estudante frente às recomendações de isolamento, as respostas foram classificadas em três categorias: Comportamento de Prevenção, indicada para os que seguiram as recomendações oficiais, resultaram em 60,3% (228) da amostra avaliada; Comportamento de Risco por Trabalho para 8,2% (31) dos respondentes que interromperam o isolamento em função do trabalho e Comportamento de Risco para 31,5% (119), representando aqueles que não seguiram as recomendações.  Salienta-se que a respeito da atividade remunerada (trabalho) durante a pandemia, 18,5% (n=70) dos estudantes responderam de forma afirmativa, o que significa que 10,3% trabalharam sem precisar romper o isolamento. A literatura aponta que a adesão às medidas protetivas é um comportamento ligado a fatores demográficos e psicossociais, podendo ou não estar associado apenas a decisões individuais. Em pesquisa desenvolvida com estudantes secundaristas de Portugal, ainda que a maioria dos participantes apresentassem um conhecimento adequado a respeito da doença, apenas metade dos comportamentos preventivos no contexto da COVID-19 foram aderidos. Desta forma, somente o nível do conhecimento acerca da doença, pode não levar a mudanças de comportamento, sendo necessário que as especificidades e vulnerabilidades, sejam consideradas para um maior engajamento da população. Reafirmando essa tese, estudos brasileiros indicam que não foi encontrada diferença entre o comportamento de profissionais e estudantes da saúde quando comparados a profissionais e estudantes de outras áreas no que diz respeito à adoção correta das medidas sanitárias de proteção.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conhecer as fontes de informação utilizadas pelos estudantes e seu comportamento frente às medidas de prevenção, permite a elaboração de estratégias focadas no desenvolvimento de literatura informacional em saúde. A pandemia da COVID-19 trouxe grandes desafios à saúde pública mundial e necessárias reflexões acerca da formação do profissional  da saúde. Percebe-se a necessidade do desenvolvimento de habilidades e competências para buscar e compreender as bases científicas, de modo que, esses profissionais também sejam educadores em saúde.