Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Redução de danos ou ampliação da vida? Cartografando os sentidos da autonomia em um CAPSad III
Lívia Geoffroy Barbosa Soares Ferreira, Mariana Martelo Rodrigues, Thiago Benedito Livramento Melício

Última alteração: 2022-01-16

Resumo


A garantia da autonomia e estratégia de Redução de Danos são preconizadas como diretrizes para o funcionamento da Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2011). Apesar de comporem parágrafos diferentes no texto apresentado pelo Ministério da Saúde, as duas diretrizes entretecem uma mesma trama quando ganham corpo e voz nas equipes de trabalho dos serviços de saúde direcionados a pessoas que fazem uso prejudicial de álcool e drogas. Assim, o presente trabalho parte da experiência de estágio multidisciplinar em Saúde Mental como Acadêmica Bolsista da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS/RJ), em um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas III (CAPSad III). O objetivo traçado é investigar como a co-construção da autonomia, pautada na estratégia de Redução de Danos, encontra caminhos e barreiras em um CAPSad III, produzindo efeitos de ampliação das possibilidades de viver dos usuários. Para tanto, a intenção é analisar como as diretrizes da autonomia e da Redução de Danos podem se articular quando são incorporadas micropoliticamente nos discursos e relações entre usuários e profissionais no cotidiano do equipamento de saúde e suas atividades, que envolvem: atendimentos de primeira vez; visita domiciliar; atendimento individual de usuários e familiares em consonância com o projeto técnico-político da unidade; elaboração e acesso aos prontuários; reuniões de equipe; articulação da rede intra e intersetorial; acolhimento à crise; acompanhamento das atividades de intervenção no território com equipe de redução de danos nas cenas de uso de drogas; e outros fluxos de trabalho não prescritos que possam emergir da dinâmica do serviço. A pesquisa se organiza por dois eixos desenvolvidos em concomitância, no período de duração do Programa Acadêmico Bolsista do ano de 2021. O primeiro eixo trata-se de uma revisão bibliográfica, que serve como base para a discussão teórica de conceitos que envolvem o campo prático e seus atravessamentos. O segundo eixo envolve pesquisa de campo de caráter qualitativo, orientada pelo método da Cartografia Psicossocial. A orientação metodológica cartográfica parte de uma postura enquanto pesquisadora que aposta na não neutralidade, entendendo que, enquanto estagiária habitante do território e das relações que compõem o serviço, a construção de conhecimento se dá na fusão do pesquisador com o campo, produzindo intervenção na vida e desmanchando os papéis fixos e hierárquicos de pesquisador e objeto de pesquisa. Lança-se mão do recurso do diário de campo como estratégia de registro da experiência vivida no estágio. Sendo assim, aposta-se que a autonomia reafirma o paradigma ético, clínico e político da estratégia de Redução de Danos, a qual compreende os sujeitos como capazes de reflexão, ação e corresponsabilização pelo seu próprio cuidado em saúde. Nesse sentido, a co-construção da autonomia em um CAPSad é um processo singular e inacabado que modula-se por diferentes graus de efetivação.