Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A influência da telemedicina nos indicadores de uma UTI recém inaugurada: Relato de caso
Gisele Baldez Piccoli, Natália Fernandes Martins Ferreira, Natália Fernandes Martins Ferreira, Diego Leite Nunes, Diego Leite Nunes, Fabricio Pimentel Fonseca, Fabricio Pimentel Fonseca, André Wajner, André Wajner

Última alteração: 2022-01-25

Resumo


A OMS conceitua amplamente a telemedicina e define como elementos básicos o propósito de suporte clínico, a pretensão de superar barreiras geográficas, envolver o uso de tecnologias de informação e telecomunicação,  com objetivo de melhorar os resultados em saúde. Em decorrência da pandemia causada pela SARS-COV2, o Brasil necessitou de grandes esforços humanos e tecnológicos para suprir a grande demanda de atendimentos na saúde, desde a atenção primária ao suporte avançado de vida aos pacientes críticos em unidade de terapia intensiva.

As unidades de terapia intensiva tem a finalidade de atender pacientes em estado grave de saúde.  Abrange o uso de tecnologias como ventiladores mecânicos, terapia renal substitutiva e monitorização contínua.

O objetivo deste relato de caso é descrever os indicadores alcançados com o uso da telemedicina na terapia intensiva em uma UTI recém inaugurada.

Descrição do estudo: Este relato de caso descreve indicadores na implantação de uma unidade de terapia intensiva para atendimento exclusivo de pacientes suspeitos e confirmados com infecção pelo coronavírus, com uso de telemedicina. Os indicadores referem-se aos dados obtidos no período de um ano, entre agosto de 2020 até agosto de 2021.

Em agosto de 2020, foi inaugurada unidade de terapia intensiva com 10 leitos para atendimento dos pacientes acometidos por sintomas respiratórios graves, em instituição hospitalar de médio porte, com distância de 130km do município com centros de alta complexidade. A alta demanda de profissionais especializados e a baixa disponibilidade destes, possibilitou a telemedicina ser um instrumento de segunda opinião formativa a esses profissionais contratados e sem experiência em atendimento a pacientes gravemente enfermos.

A partir da definição da metodologia, foi instituída teleconferência diária, em dias úteis, por uma hora entre a equipe multidisciplinar que presta assistência direta aos pacientes e o profissional médico especialista em terapia intensiva, com ampla experiência. O médico intensivista obtinha dados dos pacientes em tabela específica, acrescentando o relato do estado atual através da equipe assistencial, e registrando as sugestões orientadas na discussão.

O uso da telemedicina foi utilizado assiduamente no período de janeiro de 2021, mas descontinuado em fevereiro, março e primeira quinzena de abril por modificações na equipe assistencial e indisponibilidade da mesma. Na segunda quinzena de abril se retomou a metodologia, mantendo-se encontros virtuais diários, aliado a capacitações presenciais de temas elencados nestes encontros.

Foram coletados indicadores pela gestão da unidade de terapia intensiva, mensalmente, desde dados clínicos como idade, sexo e comorbidades, além de dados de produção tais como numero de pacientes admitidos na unidade, tempo de permanência na uti, taxa de mortalidade esperada e efetiva, escore de gravidade na admissão (SAPS3), percentual de pacientes e tempo em ventilação mecânica.

Resultados : A implantação da telemedicina na UTI como segunda opinião formativa não gerou custo em novas tecnologias a instituição, visto que utilizou-se equipamentos de informática já disponíveis na instituição.

Foram admitidos 363 pacientes na UTI, no período de agosto de 2020 a agosto de 2021, sendo 64,29% do sexo masculino, a faixa etária de maior ocorrência, 57,14% dos internados, foi entre 65 e 80 anos. A hipertensão foi a comorbidade com maior incidência nos pacientes admitidos, 64,29%, seguida da Diabetes Melittus, em 50% dos casos.

Indicadores gerenciais: O tempo mediano de internação na UTI variou entre 6 e 9 dias, sendo que dezembro, fevereiro e março não contaram com a telemedicina e apresentaram os valores de 8,5; 8 e 9 dias respectivamente. Ao final do projeto em agosto de 2021 a mediana de dias de internação foi de 7 dias.  O maior percentual de pacientes em ventilação mecânica foi de 90% dos pacientes admitidos, no mês de março de 2021 e nos demais meses em torno de 50%. Porém, o menor tempo em ventilação mecânica ocorreu em julho de 2021, com tempo médio em 6 dias.

A redução da mortalidade observada entre a maior e a menor taxa foi de 65%, o que ocorreu entre março e agosto de 2021.

Quanto ao escore de gravidade SAPS3 na admissão de pacientes, somente em um dos meses avaliados, se observa que a mortalidade esperada é menor que a taxa de mortalidade observada.

Conclusões: O uso de telemedicina como ferramenta de segunda opinião formativa ao atendimento de pacientes acometidos por Covid 19 tornou viável a assistência com maior qualidade no ambiente de terapia intensiva. Posto isso, o impacto da ação educacional perante a equipe assistencial reflete nos indicadores. Na medida em que o processo foi interrompido consequentemente houve alteração significativa no resultado dos indicadores, retornado para melhores índices com a retomada da ferramenta de telemedicina.

Observa-se que sessões de acompanhamento com educação remota a distância por meio de plataforma online pode ser uma via alternativa para chegada/inserção de assistência especializada em lugares remotos. Entretanto, há de se pensar em possíveis adequações para sua implementação, como acesso a computador e internet para ambas equipes e controle de indicadores.