Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O uso do round multidisicplinar como redutor no tempo de uso de dispositivos invasivos em um Serviço de Medicina Hospitalar
Gisele Baldez Piccoli, Natália Fernandes Martins Ferreira, Virgilio Rocha Olsen, Fabricio Pimentel Fonseca, André Wajner

Última alteração: 2022-01-26

Resumo


A definição de Medicina Hospitalar foi descrita em 1996 no The New England Journal of Medicine. E desde então se espalhou pelo mundo como uma especialidade da Medicina, chegando ao Brasil, em 2004, através de um grupo de estudos no Hospital Nossa Senhora da Conceição -  GHC, dentro da residência de Clinica Médica, em Porto Alegre. Culminando em 2007 com a fundação da Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar, credenciada a Society Hospital Medicine (SHM).

O conceito desta metodologia apesar de a tradução trazer Medicina, abrange muitas outras disciplinas. E concentra preceitos que abrangem toda a assistência hospitalar, focada no paciente, com busca da qualidade, excelência, resolutividade e sustentabilidade. Portanto, a utilização destes pilares abrange o trabalho da multidisciplinar.

Dentro do modelo assistencial de Medicina Hospitalar, o trabalho em equipe multiprofissional, com uma liderança, une todos os profissionais ao objetivo comum de foco no paciente. Utiliza-se de ferramentas que melhorem a comunicação entre os membros da equipe, ferramentas que otimizam os processos de diagnóstico e tratamento e indicadores assistenciais que guiam as tomadas de decisão. Sendo o Round multidisciplinar o mais apropriado para que se alcance esse objetivo. Contudo, estabelecer uma estrutura em forma de checklist faz com que haja foco na discussão do caso, sem o risco de não se abranger todas as dimensões da assistência multidisciplinar.

Na gestão em saúde os índices de infecção fazem parte do gerenciamento de qualidade da assistência, e são diretamente atribuídos ao comportamento da equipe multidisciplinar, bem como ao tempo de uso de dispositivos invasivos. Portanto, reduzir a permanência destes dispositivos no paciente se faz necessário, não sendo responsabilidade única de um só membro da equipe.

Este estudo objetiva descrever a redução do tempo de uso dos dispositivos invasivos, em um serviço de medicina hospitalar, após a instituição do round multidisciplinar estruturado.

Desenvolvimento

O serviço de Medicina Hospitalar abrangia a unidade de internação SUS de 30 leitos clínicos e cirúrgicos, em um hospital filantrópico de 370 leitos na região noroeste do Rio Grande do Sul.  E o round multidisciplinar foi estabelecido como ferramenta de comunicação e discussão do plano terapêutico a partir do quarto mês do início do serviço. Ocorriam encontros dois encontros semanais entre médico hospitalista,médico residente, enfermeira hospitalista, enfermeira ou médica da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, fisioterapeuta, nutricionista, assistente social, fonoaudióloga e farmacêutica clínica responsáveis pela assistência direta do paciente.

Na fase de planejamento do uso da ferramenta, foi desenvolvido um checklist para as reuniões, com participação de toda a equipe, como guia para a discussão. Dentre os itens incorporados ao documento, há o de conferência da necessidade de uso dos dispositivos invasivos : cateter venoso central, sonda nasoenteral, sonda vesical de demora e traqueostomia. Esse item quando interrogado na discussão, gerava o plano de ação de teste para descontinuação do uso, a retirada imediata, ou a permanência até próxima revisão.

A coleta de dados diários sobre o uso de dispositivos invasivos ocorria pela enfermagem e embasava os indicadores de infecção da CCIH. Com a instituição do round multidisciplinar, manteve-se a coleta e iniciou a dupla checagem destes dados pela equipe participante. A abrangência do presente estudo ocorreu num período de 14 meses. Sendo 4 meses anteriores ao serviço de MH, 4 meses com o serviço em funcionamento mas sem a ferramenta do round multidisciplinar e 6 meses com os encontros semanais.

Resultados

No período total do estudo houve uma média de 24,9 pacientes-dia internados na unidade, alcançando uma ocupação de 83% dos leitos diariamente. O menor quantitativo foi de 21,3 pacientes-dia mensais e o maior de 26,9.

A média do tempo de uso de cada dispositivo foi calculada para o período anterior ao serviço de MH, para o período do serviço mas sem atuação da equipe multidisicplinar e para o período do round multidisciplinar. E calculada a taxa de redução destas médias em percentual.

O tempo médio de uso de cateter venoso central variou entre 2,8 e 7 dias. Sendo o do período anterior ao serviço de 5,4 dias e do período do round multidisciplinar 4,8 dias, com uma taxa de redução de 12%. No uso de sonda vesical de demora a redução do tempo médio ocorreu no percentual  24%, de 8,4 para 6,5 dias.  A SNE foi o dispositivo com menor taxa de redução, 0,3% .

Considerações finais

A comunicação efetiva e estruturada entre a equipe multidisciplinar gera segurança e qualidade na assistência à saúde, demonstrado na aferição deste estudo. Considerando que o trabalho em equipe contribui para esse panorama, o round multidisicplinar é uma ferramenta efetiva nesse processo de melhoria contínua. Contudo há a necessidade de correlação destes dados com os demais dados gerenciais da unidade.