Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Gestão de equipes de Medicina Hospitalar – papel da enfermeira consultora
Gisele Baldez Piccoli

Última alteração: 2022-01-31

Resumo


A definição de Medicina Hospitalar foi descrita em 1996 no The New England Journal of Medicine. E desde então se espalhou pelo mundo como uma especialidade da Medicina, chegando ao Brasil, em 2004, através de um grupo de estudos no Hospital Nossa Senhora da Conceição -  GHC, dentro da residência de Clinica Médica. Culminando em 2007 com a fundação da Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar, credenciada a Society Hospital Medicine (SHM).

O conceito desta metodologia apesar de o nome carregar a Medicina como foco, abrange muitas outras disciplinas. E concentra preceitos que abrangem toda a assistência hospitalar, focada no paciente, com busca da qualidade, excelência, resolutividade e sustentabilidade. Portanto, a utilização destes pilares abrange o trabalho da enfermagem.

Dentro do modelo assistencial de Medicina Hospitalar, o trabalho em equipe multiprofissional, com uma liderança, une todos os profissionais ao objetivo comum de foco no paciente. Utiliza-se de ferramentas que melhorem a comunicação entre os membros da equipe, ferramentas que otimizam os processos de diagnóstico e tratamento e indicadores assistenciais que guiam as tomadas de decisão.

Existe empresa especializada nesta metodologia assistencial, que atua no mercado, há 12 anos, com objetivo de organizar serviços de medicina hospitalar, capacitando equipe médica, de enfermagem e multiprofissional para atuarem no modelo.  A empresa trabalha em um tripé de consultoria – médico, enfermeira e engenharia de produção. A consultoria em medicina hospitalar é realizada de forma presencial e coordenada entre os três pilares de conhecimento.

Esse relato de experiencia objetiva apresentar o trabalho desenvolvido pela enfermeira consultora na gestão das equipes de Medicina Hospitalar, com foco na multidisciplinariedade.

Descrição

Desde 2015, trabalho como enfermeira consultora da Improve – Foco no Paciente gerenciando equipes de Medicina Hospitalar, que abrange médicos e enfermeiros. Realizando desde a implementação do serviço, participando da etapa de recrutamento e seleção de médicos e enfermeiros da instituição, capacitação em ferramentas de otimização da assistência, elaboração de manuais, normas e protocolos do serviço, entre outras atividades gerenciais.

O papel da enfermeira consultora é propor alternativas, dentro da realidade institucional, para que a equipe de MH possa exercer a assistência focada no paciente de forma efetiva. Portanto, a consultora deve, além dos conhecimentos de gestão e da metodologia empregada, o conhecimento profundo dos processos institucionais, elencando as fragilidades e oportunidades de melhoria.

Desenvolver e capacitar a equipe heterogênea é o principal desafio da consultoria, pois abrange necessidades de temas técnicos, que diante da atual realidade das instituições de pequeno e médio porte é recorrente, temas de gestão, segurança do paciente, qualidade assistencial e habilidades de trabalho em grupo, como comunicação efetiva.

Um dos projetos implementados ocorreu na região noroeste do estado, em hospital filantrópico de 320 leitos, em que o Serviço de Medicina Hospitalar abrangeu uma unidade SUS de 30 leitos clínicos. A equipe era formada por 7 médicos, divididos em 2 equipes e 2 enfermeiras diurnas, inicialmente.

A visita da consultora ocorria quinzenalmente e tinha objetivo de alinhar eventos que impactavam na assistência dos pacientes e na dinâmica de trabalho da equipe médica e de enfermagem. Eram realizadas reuniões com os serviços de apoio tais como laboratório, tecnologia da informação, nutrição, farmácia, engenharia clínica, escritório de qualidade, setor de internação e outras especialidades médicas. As reuniões ocorriam entre consultora e coordenação médica e de enfermagem da MH e os serviços envolvidos. Mensalmente ocorria a apresentação de indicadores com planejamento de ações a partir da avaliação dos dados.

Impactos

O serviço anterior contava com os mesmos 7 médicos, porém divididos em três equipes e sem acompanhamento presencial dos pacientes – exceto pela presença dos residentes de clinica médica. Com a implementação da metodologia, os médicos passaram a exercer carga horária diária presencial, divididos em turno manhã e tarde, acompanhados pelos residentes. Há horário estabelecido de presença na unidade e de forma de comunicação quando na ausência do profissional, bem como de informações médicas aos familiares. A equipe de enfermagem foi redimensionada de acordo com os indicadores quantitativos nos meses iniciais do projeto, mantendo 3 enfermeiras assistenciais diurnas e a enfermeira hospitalista.

Foi definido protocolo de estabilidade clínica para admissão de pacientes da unidade de internação e fluxo de transição de cuidados entre enfermeiros, bem como quais condições patológicas seriam de responsabilidade assistenciais da MH. A criação de um roteiro de atendimento de intercorrências clínicas, com ferramentas bem descritas na literatura (EWS), e capacitação de toda a equipe médica e de enfermagem o que trouxe maior segurança aos pacientes, bem como melhorou a qualidade de assistência aos pacientes mais graves. Houve a descrição, entre o serviço de MH e de terapia intensiva, dos critérios de transferência para UTI, gerando maior dinâmica neste processo que anteriormente era moroso.

Houve reorganização na dinâmica de assistência médica através da incorporação do SafetyHuddle diariamente, entre médico e enfermeira, priorizando itens de segurança, e data provável da alta. Mudança no horário de início da prescrição médica e de enfermagem foi necessária para contemplar a avaliação dos pacientes no turno da tarde, e possível mudança no plano terapêutico. Em continuação ao objetivo de melhorar a comunicação foi instituído o round multidisciplinar semanal para discussão dos casos dos pacientes internados com uso de roteiro pré-definido, e controle de tempo de discussão.

Houve alteração direta nas atividades de passagem de plantão da enfermagem e avaliação do paciente pelo enfermeiro, através da detecção de fragilidades neste processo, o que incluiu capacitação de toda a equipe de enfermagem. A elaboração de protocolos assistenciais multiprofissionais, como cuidados paliativos e profilaxia de tromboembolismo foram espontaneamente sugeridos e desenhados pela equipe assistencial, com apoio da consultora, e gerenciados junto aos indicadores mensais.

Considerações Finais

As mudanças no perfil de assistência da unidade refletiram positivamente, gerando ampliação do projeto junto a outras especialidades médicas e equipes de enfermagem de outras unidades de internação. A interação entre equipe médica e de enfermagem com a equipe multiprofissional focado na assistência do paciente foi apontado como ponto forte do processo de mudança.

O ponto a ressaltar deste relato é que o enfermeiro, na área de consultoria tem hoje um caminho a ser explorado. Porém deve – se ter claro que conhecimento em gestão e em diferentes áreas da saúde são o diferencial para o êxito.